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A música Country ecoava por meus ouvidos e eu estava sorrindo ao ver todas aquelas pessoas dançando ao redor da fogueira de São João. A fazenda recebia convidados de toda a cidade para comemorar a data que tanto importava naquela região. Todos estávamos com roupas country's e eu estava achando tudo muito divertido.

— Eu sei que você está achando tudo isso divertido! — Olívia diz me tirando do transe.
— Até que não é tão ruim assim. — sorri de volta para a garota. — Eu estou achando tudo uma graça.

— Você agora é uma fazendeira, precisa adotar alguns costumes. — A garotinha loira diz colocando um chapéu em minha cabeça com dificuldade. — Vem, vamos dançar. — Ela diz me puxando pela mão.

Olívia era uma garotinha doce, que via o mundo com outros olhos, ela enxergava a parte boa das pessoas e isso encantava-me desde do primeiro dia que bati os olhos nela. Ela era uma garota bonita, seus traços eram iguais de seu pai, e com toda a certeza a sua esperteza também viria dele. Olívia era filha de Billy, o melhor amigo de meu pai. Ela vivia na fazenda desde que começou a se entender por gente, vivia seus costumes e era feliz aqui, como um dia eu jurei que não seria.

— Vem Day, é divertido. — A loirinha me puxou e foi comigo para a roda de dança. — Você não é velha, para de sedentarismo. — Ela sorriu divertida.

— Eu tenho idade para ser sua tia Garota, não teste minha paciência. — Disse em um tom brincalhão. — Uma gargalhada alta e animada tomou todo o ambiente decorado com a luz da lua, e o céu bem acima de nós se exibia salpicado de estrelas, nos presenteando com toda a magia do universo. Se pudéssemos contar as estrelas, possivelmente, ficaríamos a noite toda ali, infinitas noites encontrando novos pontos, tentando achar formas e somatórias para a busca eterna de um número inatingível.

— Eu amo essa música. — Olívia disse animada ao escutar a melodia da musica. — Vem, escuta comigo Lima. -- A garota disse pulando animadamente e me puxando junto para que pudéssemos dançar.

Eu a encarei sorridente, e senti uma coisa nova. Sabe quando você ouve aquela música pela primeira vez em um ambiente diferente e sente uma sensação que não consegue colocar em palavras, mas é uma sensação boa. Que vem imagens na sua cabeça, e você se vê fazendo determinadas coisas. Como se fosse um filme onde só você pode ver e sentir, mas sem se expressar. Eu estava me divertindo e senti o beat mais forte do meu coração, algo que só eu conseguia despertar.

Naquele momento eu olhei para a garota que passava tanto tempo comigo, e eu disse pra mim mesma: hoje vai ser mais um dia. Vai ser só mais um de muitos que poderão vir. Mas hoje eu percebi o quão é bom compartilhar momentos, risos, histórias, sejam elas tristes ou alegres. Porque estes momentos, o agora, o que passou, se tornam histórias que valem a pena ser recordadas, e faladas, e recontadas! E é tão bom ter com quem compartilhar, certo? Hoje, é o dia em que decidi nascer de novo. O dia em que vi pela primeira vez aquele olhar dos meus pais sobre o mundo, mesmo eles não estando aqui. Mesmo não gostando ardentemente de comemorar em família e de todas as bajulações que a mesma implica, agradeço imensamente por esse dia, por esse momento, por essa história que estou fazendo neste exato segundo da minha vida, que daqui a uns anos eu talvez possa escrever e contar sobre isso. Não importa, pois o amanhã é uma incógnita da qual não sabemos se sairemos vivos ou não. Viver é isso. É não ter certeza, e mesmo não tendo, saber que eu posso aproveitar cada segundo como se fosse o último! De fato, a  gravidade do mundo me fez colocar os pés no chão e me fez entender que pra viver temos que ser forte mesmo quando não queremos mais ser. E por um segundo, dentro do momento que nos envolvia, dentro do espaço-tempo em algum lugar nessa esfera imperfeita no meio de um nada absoluto, eu senti que as coisas iam dar certo, eu senti que tudo estava voltando ao seu devido lugar  dentro de mim.

Ironia do Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora