"Da primeira vez em que me assassinaram, perdi um jeito de sorrir que tinha... Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha."
POV CAROLINE BIAZIN
"Me desculpa..." A voz de Dayane quebrava o silêncio do corredor novamente. Era a vigésima vez que ela repetia essas palavras desde que chegamos à entrada do meu prédio, e eu já começava a me perguntar se ela realmente acreditava que eu poderia perdoá-la só porque estava pedindo desculpas.
Eu queria ser fria, queria ignorar o quanto isso me incomodava, mas não conseguia. Minhas emoções eram um turbilhão. Aquelas palavras, ditas de forma automática, sem o mínimo de reflexão, como se a dor de estar ali não fosse suficiente, eram um golpe direto em algo dentro de mim. A raiva que eu sentia pela situação se misturava com uma pontada de preocupação, e a dor de saber que ela sempre fazia essas coisas sozinha.
De repente, meus dedos estavam lá, tocando seus lábios sem querer. O gesto foi tão leve, tão hesitante, como se eu temesse machucar ainda mais a garota que já se mostrava tão quebrada. Quando percebi o que estava fazendo, meu corpo estremeceu. O que estou fazendo? O pensamento me atravessou como um choque, e eu rapidamente afastei minha mão, cruzando os braços com força sobre o peito, como se tentasse me proteger de algo.
— Desculpa... — Eu mesma disse, agora com a voz mais baixa, quase envergonhada. Eu me sentia como uma idiota. Ela já pediu tantas desculpas. Por que eu estou agindo assim?
Ela me olhou, como sempre fazia, com aquele sorriso sarcástico e algo que se assemelhava a uma leve frustração. Mas o pior foi o que saiu da minha boca, como se eu tivesse perdido o controle de mim mesma.
— Você já me pediu tantas desculpas que eu só pensei em um jeito de silenciar você. — Eu disse sem jeito, a última parte saindo mais ríspida do que eu gostaria. Meu corpo estava em alerta, meu coração ainda batendo mais rápido do que deveria, mas eu sabia que não poderia deixar que ela visse o quanto sua presença me afetava.
Quando finalmente tomei coragem para encarar o rosto dela, percebi algo que me desconcertou. No canto de sua bochecha, havia um corte, discreto, mas ali, claro o suficiente para que eu não pudesse ignorar. O boné preto que ela usava, que tentava cobrir boa parte de seu rosto, já não era capaz de esconder os hematomas pequenos que começavam a se formar. Eu não precisava perguntar, mas não pude evitar.
— Caí da escada. — Dayane disse de forma tão simples, balançando os ombros, como se seu rosto machucado fosse um detalhe insignificante. E eu, que conhecia bem sua resistência, sabia que ela estava tentando disfarçar, mas o tom de sua voz era vazio, uma tentativa patética de me convencer de uma mentira ridícula.
Você acha que eu vou acreditar nisso? Eu quis dizer, mas não consegui. Aquelas palavras não saíram. Não queria alimentar a mentira. Ao invés disso, só fiz a pergunta, tentando não demonstrar o quão irritada eu estava com sua atitude.
— Você espera que eu acredite nisso? — Eu disse, observando o canto da boca dela se curvar em um sorrisinho, aquele que me dava arrepios. Não sabia se ela estava apenas tentando ser engraçada, ou se realmente pensava que eu seria tão ingênua a ponto de cair em uma história dessas.
Ela olhou para mim, mais um daqueles olhares desafiadores, mas com um toque de diversão. Parecia que a situação toda a divertia, enquanto eu estava aqui, tentando entender o que estava acontecendo.
— Só espero que você me convide pra entrar, já que você disse que iria cuidar de mim! — O tom dela foi leve, irônico, e eu, contra a minha vontade, sorri. Um sorriso involuntário que se formou nos meus lábios antes de eu conseguir controlá-lo. Como ela sempre fazia, Dayane era capaz de mudar o clima em um segundo. Sua presença, sua energia, era inconfundível.
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Ironia do Destino
RomanceDepois de uma grande tragédia, talvez Day nunca mais seria a mesma...Ela havia mudado, todos sabiam desse fato, a garota simplesmente não podia fechar os olhos para os erros do passado, que estremeciam seu cotidiano. Depois de perder sua família, o...