Sentimentos e saudades

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POV CAROL

Chegar de manhã do trabalho nunca foi algo que combinasse comigo, mas às vezes era necessário. Trabalhar como detetive na maior delegacia de Nova York tinha seu preço. O cansaço estava me vencendo mais rápido do que eu podia descansar. Eram quase sete da manhã quando entrei em casa. O céu estava escuro, a chuva caía forte, trovões ribombavam, e os relâmpagos iluminavam as janelas abertas. A casa estava impecável, o cheiro de limpeza denunciava o toque de Dayane — sempre meticulosa com a organização. 

Procurei pelos quartos, mas ela não estava em nenhum lugar, o que me deixou imediatamente preocupada. Respirei fundo e liguei para ela.

"Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal. Por favor, aguarde para gravar sua mensagem após o sinal!"

— Droga, Dayane, onde você se meteu? — murmurei, irritada e ansiosa. No instante seguinte, ouvi o som da porta se abrindo.

Dayane entrou, encharcada, o cabelo colado ao rosto, o moletom gotejando. Ela jogou as chaves na mesa de centro e me olhou com um sorriso bêbado e desajeitado.

— Bom dia! — falou, as palavras emboladas.

Eu me aproximei, sentindo o cheiro forte de bebida.

— Não acredito que você estava bebendo até agora, Day! — Coloquei as mãos na cintura, exasperada.

Ela revirou os olhos e, cambaleante, foi até a cozinha, murmurando: — Não enche, Carol! — Ela abriu a geladeira, claramente ignorando minha presença.

— O que foi? — disse, tomando um copo d'água e me lançando um olhar sarcástico. — Virou cão de guarda? — debochou com um sorriso desajeitado.

Antes que ela conseguisse passar, segurei seu rosto, forçando-a a me encarar. Seus olhos estavam vermelhos demais para ser só efeito do álcool.

— Você está chapada? Deus, está caindo o mundo lá fora e você estava por aí, desse jeito?! — perguntei, segurando o olhar dela. Ela não me respondeu de imediato, apenas suspirou, impaciente.

— Não Carol, eu não usei nada, se é isso que quer saber. Só exagerei um pouco na bebida. — Afirmou em um tom mais baixo, desviou o olhar, procurando algo para comer na geladeira.

— Tem certeza? Porque você está parecendo uma louca vasculhando essa geladeira — disse, tentando soar menos dura, mas ela já estava na defensiva.

— Ah, eu não estou com paciência para sermão hoje, ruiva! — rebateu.

— Eu não estou te dando sermão. Só estou dizendo que poderia ter acontecido algo grave! — falei, tentando ser razoável.

— Mas não aconteceu! — rebateu, agora com uma certa magoa evidente.

— Não precisa falar assim! — levantei a voz, exasperada.

Ela se virou, a expressão endurecida. — Não grita comigo! Eu só estou rebatendo as suas falas. -- Suspirou como se o meu tom de voz a incomodasse. -- E para de querer mandar em mim, você não manda!

— Não estou dizendo que mando em você. Para de ser ridícula! — rebati, sentindo a tensão aumentar. -- Eu poderia ter evitado essa. -- Pensei mentalmente ao ver a reação da morena quando a chamei de ridícula. 

Dayane levantou as sobrancelhas surpresas, como se aquilo tivesse a atingido. Num movimento rápido, ela chegou perto demais, aproximando-se até nossos rostos quase se tocarem.

— Me chamou do quê? — seus olhos pareciam furiosos, mas havia algo mais ali, algo que me atingia como uma revelação. Tentei me afastar, mas um cheiro me distraiu. Aquele perfume não era o dela.

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