Insana

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Ora, tenha a fineza de não vir para puxar o tapete do coleguinha. Não vem para bagunçar o mundo do outro. Não transforme o outro em caos só porque a sua vida está vazia. Tenha educação, tenha valor, tenha decência meu amigo.

Pov Caroline Biazin.

A espera pelo elevador parecia durar uma eternidade, e a cada segundo que passava, meu coração pulsava mais forte, como se ele mesmo quisesse me lembrar da loucura que eu estava prestes a fazer. A realidade era simples: eu poderia simplesmente sair dali, dar as costas e nunca mais ver Dayane. Cortar esse ciclo de idas e vindas de uma vez por todas, preservar o pouco de paz que ainda restava em mim. Mas não. Aqui estava eu, Caroline "Trouxa" Biazin, decidida a bater de frente com o furacão que era Dayane Lima e a mostrar, pelo menos uma vez, que eu ainda ditava as regras desse jogo torto.

Quando finalmente chego ao andar, puxo o papel amassado do bolso e leio o número do apartamento novamente, só para confirmar. Encaro a porta branca à minha frente com determinação, como se ela fosse a própria personificação do meu conflito interno. Dou alguns passos, ajusto a postura e toco a campainha. No instante em que meus dedos tocam o botão, sinto uma onda de ansiedade me invadir. E se ela não estiver aqui? E se eu tiver vindo à toa?

A porta se abre e, para minha surpresa, quem aparece não é ela. Um rapaz de cabelos cacheados e bagunçados, com uma expressão confusa, me olha de cima a baixo.

— Olá. Quem é você? — ele pergunta, franzindo a testa. — Como deixaram você subir?

Endireito os ombros, tentando manter a compostura, e estendo a mão.

— Eu sou a Detetive Biazin. — Falo formalmente, esperando que o título carregue o peso que preciso agora. — Estou procurando a Lima.

Ele sorri, como se reconhecesse meu nome, e aperta minha mão.

— Ah, então você é a famosa ruiva. — Ele ri, e eu posso ver um brilho divertido nos olhos dele. — Day fala muito de você. Eu sou o Victor.

Meu coração dá um salto, mas ignoro e corto a conversa.

— Onde a Lima está? — questiono, impaciente. — Preciso falar com ela.

O sorriso de Victor diminui um pouco, substituído por uma expressão mais séria.

— Olha, se você veio aqui a essa hora, deve ser coisa séria mesmo, não é? — Ele suspira, preocupado. — Mas, infelizmente, a Day saiu algumas horas atrás e não mencionou para onde ia. Só disse que precisava dar uma volta.

Ele abre a porta, me dando passagem para entrar.

— Pode esperar por ela aqui, se quiser. Acho que ela não deve demorar.

Assinto e entro, tentando mascarar o nervosismo com uma postura firme. O apartamento parece refletir cada pedaço dela – violões e guitarras penduradas nas paredes, alguns quadros desorganizados e, claro, aquele cheiro que só lugares que ela frequenta têm. Olho em volta, sentindo cada detalhe como uma lembrança viva do que talvez, ainda pudéssemos ser.

Mas antes que eu pudesse me perder nos pensamentos, percebo Victor ao telefone, trocando olhares apreensivos comigo enquanto falava com alguém. A apreensão dele começa a se misturar com a minha própria, e uma pontada de preocupação atravessa meu peito.

Onde ela estava? Eu tento fazer as contas, calcular o tempo desde que a vi pela última vez. Se já era tarde, o que significava que ela não voltara desde então? Significava que estava por aí, sozinha, provavelmente sem dinheiro... e possivelmente sem destino.

Merda! Como eu a deixei sair daquela maneira? Como pude ser tão orgulhosa? Meus pensamentos se enredam em um emaranhado de culpa e angústia. Estava ali, no apartamento dela, cercada de suas coisas, e me sentia cada vez mais vulnerável, como se, em vez de esperá-la, estivesse me despindo de cada camada de autossuficiência que eu tentava manter.

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