Geminiana

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Você me procura só
para satisfazer pequenos desejos.
Para sentir o coração pulsar mais forte no peito e
ficar com essa dúvida na mente se deve ou não ficar.
Você só me procura para se aventurar
e sair de mansinho, assim,
ileso dos danos que causa.

Um dia alguém me disse que a diferença entre gostar e amar é o quanto estamos dispostos a enfrentar os problemas, a lutar e superar as dificuldades por alguém. Gostar é fácil, mas amar de verdade... Isso exige paciência, perdão e sacrifício. Se é só um 'gostar', o primeiro sinal de problema já faz a gente querer fugir, tentar de novo com outra pessoa. Mas quando é amor, a ideia de perder a pessoa nem passa pela cabeça; tudo o que a gente quer é fazer dar certo.

Essas palavras ecoavam na minha cabeça enquanto eu caminhava em direção ao apartamento de Caroline. O peso do que fiz e do que disse se agarrava a mim como correntes invisíveis, mas que não me deixavam em paz. Eu podia sentir cada segundo que passava correndo contra mim, e uma parte de mim gritava que era agora ou nunca. Podia me ferir, sim, mas perder Caroline... isso parecia mais insuportável agora.

Respirei fundo e bati na porta. Depois de alguns segundos, ela abriu. Caroline, com seus olhos  intensos e a expressão carregada de uma mágoa que eu conhecia bem demais, apenas me olhou sem dizer nada.

– O que você quer aqui, Dayane? – A voz dela era fria, mas eu sabia que por trás dessa fachada tinha dor. E era uma dor que eu tinha causado.

Engoli em seco. Não sabia exatamente como explicar, só sabia que precisava tentar.

– Não sei, Caroline... – minha voz saiu fraca, um sussurro quase. – Eu só... sinto que preciso te ver, que a gente precisa falar sobre isso.

Ela fechou os olhos, suspirando profundamente. Em seguida, abriu-os e encarou-me com uma firmeza que me fez estremecer.

– Acho que é melhor você ir embora, Dayane. – Ela se afastou, cruzando os braços. – Não estou pronta para outra cena sua.

Aquilo doeu. Tentei dar um passo em sua direção, mas ela colocou as mãos no meu peito, pressionando para me impedir.

– Não, Caroline. Eu não vou embora – minha voz saiu um pouco mais forte, mas ainda hesitante. – Eu não consigo sair daqui sem conversar com você, sem te explicar o que aconteceu.

Ela me olhou, os olhos faiscando com uma mistura de raiva e mágoa. – Dayane, vá embora. Eu não quero confusão. Não depois de como você me tratou. Você me desrespeitou, e eu não vou esquecer disso tão fácil.

Senti um nó se formar no meu estômago. Sabia que estava errada, mas as palavras, as desculpas... Elas simplesmente não saíam.

– Eu não falei sério quando disse aquilo, ok? – soltei, tentando manter a calma. – Eu só... estava com raiva e acabei te culpando sem motivo. Percebi que você... que você não tinha tanta culpa assim.

Ela soltou uma risada curta, amarga. – E espera que eu acredite nisso? Agora? Depois de tudo o que você disse, da forma como me tratou?

Ela desviou o olhar, como se estivesse decidida a não ceder. – Eu acho que é melhor pararmos por aqui, Dayane. Chega dessa brincadeira de tentar ser amiga... você me desrespeitou como se eu fosse alguém sem valor. Como se eu fosse... – ela pausou, buscando as palavras e encarou-me com o rosto rígido – ...como se eu fosse uma qualquer. E eu não sou.

Cada palavra dela acertava meu peito como um golpe. Ver Caroline falar assim, com a voz embargada, com tanta dor, mas sem perder a dignidade... eu sentia o desespero crescer dentro de mim, sufocando qualquer tentativa de desculpas que eu quisesse dar.

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