Can you feel it?

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Você sempre tem resposta pra tudo minha doce Antonieta?
— Se eu tivesse todas as respostas do mundo, não estaria aqui., sentada, aos prantos e calada.

P.O.V CAROLINE

O sol invadiu o quarto sem pedir licença, batendo direto no meu rosto e me acordando mais cedo do que eu gostaria. Eu nem sequer fechei a cortina na noite anterior, resultado da exaustão de horas de conversa madrugada adentro. Minha cabeça estava pesada, minha boca seca e meus olhos ardiam. Suspirei, certa de que era o cansaço acumulado da noite mal dormida.

Levantei-me devagar, tentando me recompor, e segui para o banheiro para fazer minha higiene matinal. Havia algo me incomodando, um aperto no peito. Será que a Dayane ainda está dormindo no quarto de hóspedes? A pergunta não parava de ecoar na minha mente. Apressei o passo e fui até o quarto ao lado, mas ao abrir a porta, meu coração deu um leve solavanco de decepção. A cama estava perfeitamente arrumada, sem nenhum sinal de que alguém tivesse dormido ali.

— Ela foi embora sem se despedir? — murmurei, tentando engolir a frustração. Mas, ao me virar, notei um pequeno papel em cima do balcão da cozinha. Ao lado dele, uma flor amarela, fresca e delicada.

— Ela foi embora! — falei, em um misto de frustração e surpresa, enquanto pegava a carta e a flor com cuidado. Por um segundo, fiquei parada, olhando para o papel, com a mente dividida entre o desejo de entender e a leve mágoa por ela ter partido sem dizer nada.

Respirei fundo e abri a carta, preparando-me para o que quer que ela tivesse deixado ali para eu ler.

Caroline,
sei que é deselegante da minha parte sair tão cedo, mas é que a vida fora desse apartamento me cobra, o tempo que me resta escrevo isso para você em forma de agradecimento. E não, isso não é um adeus. Considere como um até logo ou um até breve, você querendo ou não.  Sei que uma hora ou outra a gente vai acabar se esbarrando em algumas dessas esquinas da cidade. Eu quero que saiba que eu estou totalmente disposta ajudar você com o caso, apenas me ligue se precisar de algo...

Obrigada e um até logo!

Se cuide ruiva.

- D.L

Ao ler a carta, sorri com as palavras e, de repente, um flash de memória trouxe a noite anterior de volta. Durante aquelas horas ouvindo sua história, só queria ajudá-la, abraçá-la e garantir que tudo ficaria bem. Desejava mostrar que ela não estava sozinha. E acho que consegui; ela me agradeceu com um abraço apertado e lágrimas sinceras. Por alguns minutos, me senti bem por poder ajudar. Mas agora, sozinha, sentia aquele peso emocional recaindo sobre mim. Entendia exatamente o que Dayane estava sentindo, porque estava passando pelo mesmo.

Ainda assim, nossa conversa não foi apenas sobre as dificuldades. Conseguimos nos distrair, falando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, alternando entre momentos sentimentais e risadas espontâneas. Quatro horas passaram sem que eu trocasse isso por nada. E então veio a parte divertida: ela tentou adivinhar minha cor favorita, insistindo que era amarelo. Na verdade, eu nem tinha uma cor preferida, mas, ao vê-la tão animada, afirmei que ela estava certa só para ver aquele sorriso infantil estampado em seu rosto. Talvez amarelo agora seja minha cor favorita, graças a ela.

Voltando a Dayane, ela é uma mulher inegavelmente atraente. Seus traços são marcantes, e seu jeito tem algo de perigoso. Se eu não fosse hétero, provavelmente teria caído nos braços dela ontem mesmo. Há uma intensidade nos olhos dela, um sorriso doce, mas que carrega o amargor da experiência, como se ela soubesse dos perigos do mundo. Dayane é uma geminiana perfeita, equilibrada e cheia de magnetismo, uma daquelas sereias capazes de fazer qualquer um perder o rumo. Ela tem um poder que, se soubesse usar, poderia ter o mundo aos pés.

— Esses pensamentos estão indo longe demais! — falei para as paredes, enquanto corria para me arrumar para o trabalho. Logo estava no elevador, depois no carro, acelerando pelas ruas de Nova York em direção à delegacia.

Já sentada na minha mesa, perdi-me na pilha de papéis e na rotina dos casos. Uma xícara enorme de café era minha aliada enquanto organizava os documentos até que Vincent, um dos detetives veteranos, se aproximou.

— Ei, Biazin, vai acabar enlouquecendo com tanto caso! — disse ele, rindo.

— É o que importa, Vincent! — retruquei, retribuindo o sorriso. Quando ele virou-se para ir embora, chamei-o de volta.

— Você estava no caso dos Lima, quando houve o incêndio, não estava? — perguntei, casual.

Vincent respirou fundo, o rosto assumindo um tom de seriedade misturado com curiosidade.

— Sim, estive lá. A filha deles, Dayane, fugiu da assistência social quando soube que seria levada ao orfanato. Era uma garota esperta e teimosa. Tentei puxar a ficha dela, mas estava limpa... e isso não me pareceu certo. — Ele me olhou intrigado, enquanto eu me lembrava de ter retirado as queixas da ficha dela.

"Garota problema." Dayane parecia encaixar-se nessa definição, mas ao mesmo tempo era muito mais. Linda, carismática e complexa. Ela adorava causar pelas ruas de Nova York e parecia uma mulher segura de si, ainda que se perdesse em meio aos próprios sentimentos. Apaixonada por música e basquete, ela vivia intensamente.

Decidi ligar para ela. Assim que atendeu, ouvi sua voz carregada de diversão.

— Caroline Biazin! Faz só cinco horas que saí da sua casa e já está me ligando? — ela gargalhou.

— Não se ache, Lima! — respondi, sorrindo. — Você não se despediu direito, então estou te convidando para uma cerveja gelada hoje à noite.

— Olha, Carol... — a voz dela vacilou. — Não tenho dinheiro pra essas coisas agora.

— Eu convido! Se eu te chamei, sou responsável. — Respondi com firmeza.

— Se eu disser não, vai insistir, né? — Dayane riu do outro lado.

— Já está me conhecendo bem! Onde te busco?

Ela hesitou antes de responder.

— Vou para o bar sozinha, nos encontramos no Gallow Green às oito, Biazin! — E desligou, me deixando ali, ansiosa e um pouco frustrada.

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