Cross

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— ACABA COM ELES DAY

— PISA FUNDO! –

— APOSTEI 500 DÓLARES EM VOCÊ!

O grito de victor e Billy e as batidas fortes do meu coração foram as últimas coisas que eu ouvi quando o último dos três sinais ficaram verdes. De repente tudo ficou em câmera lenta, dando uma última olhada para as motos ao meu lado, eles estavam prontos pra arrancar.

As técnicas em corridas de motos sempre me lembraram muito os rachas de carros que já disputei na cidade grande. E uma das primeiras técnicas que eu sempre usei era; observar se os adversários estavam com o corpo inclinados um pouco pra frente na hora de dar a primeira arrancada. Se você estiver prestando atenção nesse detalhe, você tem chance de sair na frente. E foi isso que eu fiz , segundos depois arrancando minha KTM Sx250f, deixando as motos que estavam do meu lado, ficarem pra trás.

Acelerei pela pista, fazendo a primeira curva sem muito esforço. Olhei levemente para trás e vi o uma moto vindo logo atrás. Eu sabia como aqueles participantes eram, não foi surpresa quando senti um baque na minha roda traseira.

— Babaca. — Acelerei ainda mais forte, fazendo minha mão se curvar toda no guidão por conta da pressão da alta velocidade, e voltei meu olhar para a frente sentindo a adrenalina pulsar no meu corpo. Tudo se passava como um borrão, eu fazia as curvas derrapando e jogando terra para todos os lados.

Algumas voltas depois eu quase não vi quando um motoqueiro me alcançou, praticamente ao meu lado. Joguei minha moto na curva, fechando o máximo possível na tentativa de encurralar ele, o que acabou fazendo desacelerar. Dei um sorrisinho imaginando sua expressão, — Fazem motocross todos os dias e nunca aprendem.

Quando participei das minhas primeiras corridas, antes de qualquer coisa, eu me preparava psicologicamente, e se me sentisse preparada mentalmente, eu poderia vencer qualquer corrida. Quem nunca disputou uma corrida de motocross nunca iria entender a sensação e adrenalina de estar manobrando na estrada.

A última curva da pista de terra daria em uma reta que indicava o final da corrida, e essa era a melhor parte, porque pra entrar nela era uma curva fechada, não era pra amadores. Quando a estrada de terra finalmente chegou próximo da curva, acelerei trocando a marcha e segurando firme o guidão, sentindo a moto deslizar de lado e os pneus cantarem na terra. A curva foi perfeita, e olhei pro lado e e vi Vitão comemorando junto com o pessoal na arquibancada.

Eu estava na reta final e meu sorriso desmanchou assim que vi uma moto do meu lado acelerando para tentar me ultrapassar, conseguindo sucesso logo em seguida.

— Idiota. — Senti um outro baque na minha roda e o a moto de outro alguém logo atrás de mim. — Só pode estar de brincadeira? — acionei a marcha mais forte da moto e arranquei ainda mais rápido pela estrada. Eu conseguia ouvir meu coração acelerado pela adrenalina. Essa era uma das partes divertidas, porém perigosas, eu passei facilmente pelo concorrente deixando uma buzinada provocativa e voltei meu olhar pra pista desviando dos buracos que apareciam incansavelmente. Eu podia sentir cada parte do meu corpo em chamas.

Diferente daqueles que estavam ali, eu corria porque gostava de correr e não pra me exibir, até porque eu tinha o sangue Lima correndo nas veias. Corridas eram sempre bem vindas para mim.

Eu aprendi a disputar rachas e corridas de motocross junto com meu pai e Billy, quando tínhamos apenas quatorze anos. Claro que minha mãe nem sonhava com isso, mas o papai não ligava, ele era tão viciado em adrenalina quanto eu.

Ele dizia: "Alguns gostam de bebidas e drogas, nós Lima gostamos de adrenalina." Por mais que estivesse quase ganhando, deixei o concorrente ficar lado a lado comigo. Era bem mais gostoso ganhar com um pouco de dificuldade.

Eu já conseguia ver a multidão e a placa de chegada. olhei pela última vez para a moto correndo ao meu lado. Soltei uma risadinha irônica. Acelerei a moto o máximo que podia, tentando sair do lado dele. Joguei minha moto pra esquerda e ele jogou também, joguei pra direita e ele repetiu. Confesso que era esperto, mas previsível. Fingi jogar minha moto para a direita e quando ele jogou, tirei a mão do acelerador e joguei pra esquerda, acelerando muito e passando direto pela moto de trilha.
Cruzei a linha de chegada, ouvindo os gritos escandalosos dos meus amigos, encarando eles um a um.

Até encontrar um olhar que eu conhecia bastante, e eu me perguntava o que diabos ela estava fazendo ali? A vitória de uma corrida me causando felicidade e o reaparecimento do passado trazendo angústia.

Se passariam anos e eu não me acostumaria, o universo me odiava ou gostava de brincar comigo, e eu odiava isso.

Ironia do Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora