Susto

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Eu queria falar que, embora não pareça, mesmo sendo improvável e mesmo que você não mereça na maior parte do tempo, eu gosto de você de verdade.

POV CAROLINE

Quando conheci Dayane, eu tinha certeza de que ela ia trazer problemas. Desde o começo, algo nela me dizia que seria aquele tipo de pessoa que faz tudo sair errado, sempre deixando confusão pelo caminho. 

Apesar de todos os problemas pessoais que ela carrega, Dayane tem uma personalidade única. Mantém os pés firmemente no chão, mas ao mesmo tempo não conhece limites. Inteligente e determinada, ela sabe como ultrapassar qualquer barreira colocada no seu caminho. Sabe persuadir, conquistar todos ao seu redor, fazer as coisas do jeito dela. Ao mesmo tempo, é cabeça-dura e sonhadora. Não gosta de ouvir que está errada e não aceita qualquer corrente que tente prendê-la. É uma garota livre — e, sendo livre, ela não sabe ser de mais ninguém além dela mesma. E essa liberdade dela... me encanta e me apavora. 

Fechei as grandes cortinas da sala e sentei-me no sofá. Faz uma semana desde que Day se mudou para o meu apartamento. Ficamos bastante próximas na última semana, e sempre dedicamos nossos tempos livres para jogar conversa fora e rir como duas bobas. Minha mãe sempre disse que depois que as pessoas passam a morar juntas é que realmente conhecem uma a outra. E é verdade. Nunca achei que ficaria com raiva de uma toalha encima da cama ou de um prato sujo dentro da pia limpa. 

O jornalista do jornal de NYC acabava de anunciar que uma tremenda tempestade estava chegando. Sentei-me na bancada e comecei a descascar algumas batatas para o escondidinho de carne que iria fazer. Os ventos do lado de fora estavam fortes o que me deixava um pouco inquieta. Deixei a tupperware sobre o balcão da cozinha e limpei as minhas mãos no pano de prato que estava sobre o meu ombro. Peguei meu celular e disquei o número da morena. Segundos depois a linha é preenchida pelo som de sua voz.

— Oi Ruiva! — Dayane diz do outro lado da linha.

— Oi, onde você está? Olhei para o relógio pendurado na parede da cozinha e pude ver que já se passavam das sete da noite.

- Estou dentro do ônibus e estamos presos no trânsito, uma árvore caiu no meio da avenida principal e parece que o ônibus não conseguiu cortar caminho pela outra rota porque está fechado também! – Falou rápido e os barulho das buzinas preencheram a ligação.

— Tudo bem, é que estão anunciando que vai chover muito! – Falei preocupada. — Só estou preocupada com você.

— Eu sei, Carol. Prometo que daqui a pouco estou em casa! – Ela afirmou e eu olhei pela janela e os vidros balançavam um pouco por conta do vento. Meu medo não era da chuva e sim o que ela pode causar. Uma queda de energia por exemplo. Ficar em casa sozinha no escuro não é uma coisa muito legal.

Tudo bem, Dayane – Na verdade eu não queria dizer que estava tudo bem. Estava quase dizendo para ela deixar o ônibus no meio do caminho e vir a pé para casa. – Tenta vir rápido, não quero que você pegue chuva! – disse, afirmando que também eu não queria ficar sozinha.

— Chegarei o mais rápido possível.

Coloquei o celular sobre a mesinha de centro e peguei a tupperware que estava sobre a mesma e caminhei até a cozinha. Liguei o pequeno rádio e sincronizei em uma estação que estava tocando uma música animada, terminei de descascar a batata e coloquei a mesma em uma panela para cozinhar. Os pingos grossos da chuva começaram a bater forte no vidro da cozinha e os trovões tomavam o céu clareando tudo. Peguei alguns dentes de alho e comecei a cortar os mesmo para temperar a comida. Caminhei até o armário e abaixei para pegar uma panela quando tudo ficou escuro.

— Não. Não. Não. Não! – Comecei a negar repetitivamente. Levantei-me rapidamente e comecei a procurar desesperadamente por uma lanterna naquela cozinha. Um clarão vindo da janela iluminou toda a cozinha causando arrepios por todo meu corpo. – Meu Deus do céu! – Comecei a clamar por uma ajuda divina naquele momento.

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