Laço Familiar

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Não use contra alguém aquilo que te contaram em um momento de fraqueza, porque é tão difícil se abrir e ficar totalmente exposto. Tenha empatia com o próximo. Não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você. É importante ressaltar. Pense nisso.

Mantive-me afastada da cidade por um tempo, de fato eu deixei uma carta a Caroline e perambulei por várias cidades pequenas nos Estados Unidos. Eu andei tocando em vários bares espalhadas pelo país, comecei a fazer dinheiro e conheci várias pessoas, eu não percebi o tempo passar e quando me dei conta já fazia mais de duas semanas que eu estava fora.

Eu precisava ficar longe dos becos e das Vielas que pudessem me fazer recair a Dayane ruim de meses atrás. Me manter longe de todos e de tudo me fez voltar ao passado, me fez voltar na época em que eu e minha família éramos feliz, me fez relembrar a época que minha alma ainda era limpa, a época que eu ainda tinha uma família. Eu precisei me manter afastada por um tempo. Me manter afastada de Caroline, de Nova York, de tudo que me tornou isso, pois, eu devia isso a minha família, eu deveria isso ao meu pai.

Bom, minha família não tinha muito poder aquisitivo, não era de esbanjar as poucas coisas que tinham. Mas se tinha uma coisa que eu sabia que era correto, era a única coisa que me restou,  eu ainda tinha uma herança para lutar, eu ainda tinha um pedacinho deles para zelar.

Quando a casa de meus pais pegaram fogo eu não tinha para onde ir e nem como ir, pois eu não tinha nada, não tinha dinheiro, roupas, e muito menos dignidade. A única coisa que me sobrará era documentos e uma mochila cheia de livros da faculdade que cursava na época.

Bom, eu tinha apenas dezessete anos e em um piscar de olhos não tinha mais casa, mais pais, mais nada. Eu só tinha medo de ir para um orfanato e nunca mais me encaixar em uma vida normal, e por isso, eu tomei a iniciativa de fugir até completar a maior idade.

Ok, o resto da história vocês já sabem não é?
Eu conheci ela e blá blá blá.

Mas logo voltando aos assuntos do afastamento da cidade grande e da ida repentina para a fazenda da minha família no interior do País. Muitos sabem que eu conheço Billy, o homem que foi melhor amigo do meu pai, que morava na fazenda para cuidar de tudo, cuidar de tudo que o meu pai um dia deixou. Eu devia a minha família uma luta digna ao que era meu por direito, e por isso, eu segui rumo a isso.

Mordo meu lábio na fracassada tentativa de pará-lo de tremer. As lágrimas rolam por minha face, sem que eu possa impedi-las.
- Desculpa... — digo entre lágrimas, erguendo-me do banco e caminhando para longe dele. - Isso é demais para mim, não sei se consigo ouvir mais a sua história.

Saber da dor do meu pai e do quanto ele me queria por, só piorava tudo.
Parte de mim queria que Billy; o melhor amigo de meu pai, apenas tivesse seguido sua vida, sem se importar comigo, mas a outra parte... queria que alguém ficasse por mim, queria que alguém ainda se importasse comigo. Mas da mesma forma, a parte que aprendeu a gostar de Billy como um amigo, não consegue se perdoar por ter feito meu pai se sentir tão mal.

- Você está bem? - A voz do homem é baixa e preocupada. Eu apenas respiro fundo e  balanço a cabeça em um forma de negação. Meu coração bate dolorosamente contra meu peito. Tudo o que queria nesse momento era o apoio de Caroline.

— Então, quer dizer que eu passei essa minha vida toda odiando uma das únicas pessoas que me amaram de verdade — digo com a voz entrecortada. - e vocês? Sorri sarcástica. - Por que resolveram me contar que o meu pai não é meu pai? Só agora? - Disse aumentando o tom de voz. - Se vocês tivessem me contado toda a verdade... - Eu afirmei lamentando. -- Se não tivesse sido tão fraca ao ponto de deixar que a minha própria mãe me manipulasse., se eu tivesse sido madura o suficiente para falar com ele abertamente, assim como estou fazendo com você, eu teria tido a chance de recuperar um pouco do tempo que perdemos...

- Eu sinto muito Day... - Billy diz colocando a mão em meu ombro enquanto eu observava o pasto a minha frente. - Nunca me passou por minha cabeça que um dia você saberia da verdade. - Ele diz totalmente apreensivo.

Eu apenas ri com a sua fala ridícula. - Sabe de uma coisa Billy? - Falei olhando diretamente para seus olhos verdes. - A verdade sempre aparece, por mais que demore. - E eu sempre achei vocês meios estranhos quando vínhamos para cá.

- Nós não sabíamos reagir quando víamos a sua mãe manipular o seu pai assim. - Ele disse após se posicionar ao meu lado.

- Nunca sequer achei que eu pudesse vir a morar na fazenda após a morte do meu pai... - Falei sentindo mais lágrimas descerem por meu rosto.

Enxugo minhas lágrimas e volto-me para o lado dele.

- Na verdade... Nunca me passou pela cabeça, voltar para cá... - Eu só voltei porque eu precisei. - Eu sempre odiei tudo que envolvesse o meu pai. - Forço um sorriso e coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

- Eu sei. Eu sei. - Ele disse convicto. - Mas sua mãe passou a vida se empenhando para que você não gostasse de mim... - Ele suspira. - Porque sabia que um dia a verdade viria a tona, e que eu, colocaria ela no seu caminho. — sua mãe sabia que você não aceitaria a manipulação dela sobre isso. — Ele suspira. — Ela sabia que você ficaria do lado do seu pai ao saber que você não era filha dos dois, apenas dela. — Billy lamenta junto a mim.

- Esse papel ela soube fazer muito bem, por sinal... - sorri batendo amigavelmente no ombro do meu amigo ao meu lado. - Minha mãe sempre posou de vítima, a esposa abandonada e mau amada.

- Mas ainda sim é hipócrita da sua parte colocar a culpa toda em sua mãe, sendo que foi escolha sua afastar o seu pai da rua rotina. - Ele joga rápido a fala na conversa, me fazendo suspirar.

— Eu sei que fui culpada, também errei quando afastei meu pai da minha vida. - Afirmei ríspida. - Mas ainda sim eu afirmo que voltar para essa fazenda foi apenas uma obrigação com meu pai para receber a herança deixada para mim.

Respiro fundo, e pesadamente, sentindo as lágrimas rolarem por minha face.

— Se não fosse pelo tempo e pelo dinheiro, não teria voltado. - Disse ríspida. - Mas tenho que confessar que voltar para a fazenda acabou se tornando uma coisa boa que aconteceu na minha vida, pois com essa verdade, conheci um lado do meu pai que nunca soube que existia... - disse magoada. - eu aprendi a amá-lo, respeitá-lo e admirá-lo. Sei que foi tarde demais, mas...

Deixo a frase no ar, não sabendo exatamente o que quero dizer, mas sabendo o que pretendia com tudo isso.

— Estou tentando ser uma pessoa melhor... Alguém digno de tudo o que ele sentia por mim. - meus olhos marejados sentiam o homem ao meu lado me avaliar atentamente. Sei que há muito a dizer ainda, mas não consigo mais ouvi-lo.

Eu só queria voltar para casa, para o único lugar que podia ficar segura de tudo, mesmo que isso significasse enfrentar o meu pai, se é que ele ainda estaria lá por mim.
- Obrigada por ter me contado toda a história, sei que não deve ser fácil para você falar a respeito, então... eu agradeço.- Falo e logo sinto ele segurar minha mão em um gesto repentino.

- Não me agradeça. Você tinha todo o direito de saber a verdade. - Ele diz carinhosamente. - Não se culpe por algo que passou, Day. A vida nem sempre é justa, mas você tem a vida toda pela frente para fazer as coisas certas e ser uma pessoa melhor.

- Obrigada! — agradeço com um pequeno sorriso. - Nós ainda teremos muitas conversas pela frente, pois pretendo ficar aqui por mais algumas semanas.

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