Mentes

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Quando tudo desmoronou na minha vida, eu passei a acreditar que certas coisas simplesmente não mudam. Achei que meu maior erro tinha sido acreditar que as pessoas poderiam mudar. Esse papo clichê de "vou ser diferente" depois de errar feio... Já vi isso tantas vezes. Uma mudança dura só até a primeira semana, depois o velho comportamento aparece, inevitável. Quem tem uma essência violenta ou dominadora nunca se transforma totalmente. E a verdade é que algumas coisas na vida são, de fato, imutáveis, não importa o quanto a gente se entregue ou se esforce para mudar a história.

No fundo, aprendi que ninguém pode mudar ninguém. Mas o amor... o amor pode mexer com a gente de um jeito que a gente nem imagina.

— Já falei que está tudo bem, Victor! — Tento tranquilizar meu amigo pela décima vez. — Eu vou encontrar um lugar pra ficar, não precisa se preocupar. — Dou um sorriso, meio forçado, ao ver a expressão dele.

— Day, você pode ficar aqui. Por que sair assim, de repente, sem planejamento? — Ele insiste, tentando me convencer.

Eu rio, tentando descontrair. — Desde quando eu planejo alguma coisa na minha vida, Victor? — Abro os braços, gesticulando para reforçar meu ponto. — Tenho uma cidade inteira esperando por mim! Não se preocupa. — O abraço apertado que dou nele é mais pra convencer a mim mesma do que ele.

— Então você vai mesmo amanhã cedo? — ele pergunta, com uma preocupação sincera. — Só... só toma cuidado, ok?

— Ok, prometo! — respondo, com um aceno e um sorriso que tentam ser firmes. Volto a arrumar as minhas coisas, poucas, mas cheias de memórias.

Eu sabia que, a partir de agora, tudo ia depender só de mim de novo. Já vivi isso antes, essa sensação de solidão. E dessa vez eu não estava me iludindo nem criando expectativas. Porque, sim, ser sozinha tem seu peso, e eu estava disposta a enfrentar isso de novo, com tudo o que vem junto: os silêncios, as contas, o vazio.

Quando saí de lá, o mundo parecia mais pesado. Lembrei de como é morar sozinha, sem ninguém esperando por mim. Podia morar em mil lugares, mas nenhum se tornaria um lar de verdade. Ser sozinha é carregar o mundo nas costas, é fazer contas e aprender a sobreviver com o que se tem. É ver a saudade apertando à noite e, mesmo assim, acordar na manhã seguinte e seguir em frente. Eu já passei por isso antes: cair, reprovar, me ver contando as moedas pra fazer uma refeição. E, ainda assim, o tempo passa, e a vida continua me empurrando pra frente.

Quando meu celular vibrou, era uma mensagem de Caroline. Aquilo me pegou de surpresa.

"Pode vir aqui mais tarde?"

De todas as pessoas, não esperava que ela me chamasse assim, tão cedo, tão direto.

"Não pode ser agora? Mais tarde estarei ocupada."

Eu respondi na hora, meio impaciente, meio intrigada, e logo veio a resposta dela.

"Claro! Venha assim que puder."

O que será que ela queria? Me deu um frio na barriga, uma mistura de curiosidade e apreensão. Algo no jeito dela, no tom da mensagem, parecia urgente.

"Chego em alguns minutos!" — Escrevi e saí apressada, caminhando com o coração acelerado.

Quando Caroline abriu a porta, me puxou para um abraço apertado, sem falar nada de imediato. Ela estava um pouco diferente, mais acolhedora. Me deu um sorriso que tentava me tranquilizar, mas eu sabia que algo mais estava por vir.

— Até que enfim, Dayane! Achei que nunca iria chegar — ela disse, enquanto eu ainda tentava disfarçar o cansaço e a confusão na minha cabeça.

Entrei e me sentei no sofá. Soltei um longo suspiro, encostando a cabeça no encosto, tentando me sentir um pouco mais segura. E ali, de repente, me veio uma sensação estranha, uma mistura de alívio e ansiedade. Caroline se sentou ao meu lado, e senti a mão dela repousar na minha perna. Ela respirou fundo, como se estivesse prestes a me contar algo importante.

— Dayane... o assassino do farol foi morto! — ela soltou a frase de uma vez, sem rodeios, enquanto eu processava cada palavra. — Encontraram ele morto, no mesmo lugar onde o crime aconteceu, e as digitais eram as mesmas da cena.

Olhei pra ela, tentando manter a calma, mas o choque ainda estava ali.

— Eu já sabia — falei, finalmente, depois de alguns segundos de silêncio, e vi a expressão dela mudar, surpresa. Ela arregalou os olhos, e eu senti o peso do que viria a seguir. — Caroline... eu quero te contar a verdade, toda a verdade. Mas não sei se você está preparada para ouvir. — Minha voz saiu mais baixa, quase um sussurro. — Só... só me promete que você não vai me mandar embora.

Ela apertou minha perna de leve, o olhar dela cheio de intensidade e uma vulnerabilidade que eu não costumava ver nela.

— Dayane, eu não conseguiria te mandar embora, nem se quisesse. — Ela me olhou com um sorriso leve, deixando um carinho na minha perna. — Eu estou do seu lado agora, e quero que me conte a sua versão.

Era um sorriso encorajador, e, de algum jeito, me senti mais segura com ela ali.

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