Coisa da geração

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Muito perdão pela minha intensidade, é que eu só tenho essa vida e eu não sei até quando vai durar.

Era uma vez uma geração que se achava livre, apelidada por geração do futuro. Essa geração era diferente, sentia pena dos avós que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa. Pena dos pais que trabalhavam em empreguinhos ingratos, suavam a camisa para pagar o aluguel, escola e as viagens em família para pousadas no interior. Tinha pena de todos os que não falavam outras línguas fluentemente.

Uma geração que cresceu quase bilíngue, sempre frequentando as melhores escolas e melhores faculdades. Passavam em processos seletivos dos melhores estágios,  efetivados com orgulho e claro, com razão! 

A geração do futuro cresceu, aos vinte ganhavam o que não precisavam, aos vinte e cinco ganhavam o que os pais ganharam aos quarenta e cinco. Aos trinta ganhavam o que os pais ganharam a vida toda. Aos trinta e cinco ganhavam o que os pais nunca sonharam.
Ninguém podia os deter, a experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.

O auge estava cada vez mais longe, a meta estava cada vez mais distante, algo como, o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.

Essa geração não conseguia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que era necessário e o que era vício.

O dinheiro estava na conta, pagaria muitas viagens, pagaria a viagem de visita aquele amigo querido que estava em Barcelona, ou para realizar o desejo de conhecer a Tailândia, com aquele dinheiro a geração poderia voar bem alto.

Mas, sabe como é, né? Prioridades!

Sempre ficando ao invés de ir.

A geração vivia em uma tentativa de se convencer de que podia comprar saúde em caixinhas. Chegavam a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano do dia a dia. 

Aos vinte, Ibuprufeno.
Aos vinte e cinco, Omeprazol.
Aos trinta, Rivotril.
Aos trinta e cinco, stent.

Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não. 

Você dá conta? Sim.
Cumpre o prazo? Sim.
Chega mais cedo? Sim.
Sai mais tarde? Sim.
Quer se destacar na equipe? Sim.

Quando se tratava de vivencias, o não era bem grande. 


Aos vinte, não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito. Aos vinte e cinco, não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa. Aos trinta, não foram no aniversário de um velho amigo porque ficaram até tarde no escritório. Aos trinta e cinco, não viram o filho andar pela primeira vez, pois quando chegavam em casa, ele já tinha dormido, e quando saíam ele ainda não tinha acordado. Às vezes, essa geração crescida até chorava no carro e, descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.

Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular e férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido. Mas, não dava mais tempo! Já tinham se tornado escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos "amigos".

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