Dilúvio

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Te levo
Comigo
Pro que der
E vier.

POV Caroline

Já era noite, e eu estava deitada, virando de um lado para o outro na cama, tentando achar um sono que parecia brincar de esconde-esconde. Toda tentativa de relaxar se dissolvia em preocupação — Dayane tinha saído desse apartamento horas atrás, e já fazia mais de oito horas desde então. Minha mente estava exausta de tanto insistir em imaginar o que ela poderia estar fazendo. Cada vez que eu olhava para o celular, não havia resposta, nenhuma ligação completada.

Meus pensamentos me consumiam, e o que eu mais queria era que ela voltasse bem, que pudesse entender tudo o que aconteceu. Nós duas tínhamos errado, mas eu estava disposta a pedir desculpas. E, por mais que eu não quisesse admitir, a insegurança crescia com cada minuto que passava. Será que ela estaria disposta a me ouvir? Será que ela me perdoaria?

Foi então que ouvi o barulho da porta se fechando com cuidado, quase como se ela estivesse tentando não fazer alarde. Imediatamente, acendi a luz e me levantei, meu coração disparado, sem saber exatamente o que encontraria. Saí do quarto e caminhei em direção à sala, parando assim que vi Dayane ali, sentada no sofá, tentando limpar o rosto ensanguentado com a barra de sua blusa.

— Day! — Minha voz saiu quase sem controle, carregada de um alívio que logo deu lugar à preocupação ao vê-la daquele jeito. Seu rosto estava machucado, escoriações espalhadas pela testa e um lábio inferior cortado. Sob o olho esquerdo, uma mancha roxa começava a aparecer. Suas mãos estavam sujas de sangue, os nós dos dedos arranhados. Ela parecia destruída.

Ela virou o rosto, tentando evitar o meu olhar. — Vai para o quarto, Caroline. Agora. — Sua voz saiu firme, mas eu vi a dor por trás dela.

— Dayane, você está machucada... me deixa ajudar. — Tentei manter o tom calmo, implorando para que ela me deixasse chegar perto. — Não é justo me afastar assim.

— Eu não preciso da sua ajuda, Biazin. — Ela deu um sorriso sarcástico, mas seus olhos estavam cheios de ressentimento. — Vai pro quarto e esquece que eu estou aqui.

Por um instante, hesitei, mas a teimosia tomou conta. Fui até ela e, segurando suas mãos, pude notar que os ferimentos nos dedos de uma de suas mãos eram novos, enquanto a outra estava limpa. Quase sem perceber, um pedido mental escapou dos meus lábios: "Por favor, que ela não tenha se metido em algo pior."

Ela sentou-se no sofá, uma expressão de dor cruzando seu rosto ao se mexer, e eu pude perceber o cuidado com que segurava as costelas. Respirei fundo e fui até a pia para umedecer uma toalha com água morna. Voltei, e ajoelhei-me em sua frente, determinado a limpar seu rosto. Seus olhos, escuros e intensos, me encaravam com uma profundidade que quase me fez desmoronar. Era uma mistura de dor, raiva e... algo mais.

— Dayane, ou você me deixa fazer isso ou faço à força. — Minha voz soou mais dura do que eu pretendia, mas era o único jeito. — Acha mesmo que eu vou te deixar assim? Não seja tola. Não vou embora.

Ela me olhou por um segundo, como se estivesse decidindo entre me mandar embora de novo ou ceder. No fim, suspirou e relaxou um pouco, permitindo que eu tocasse seu rosto. Passei a toalha com delicadeza por sua pele, removendo o sangue seco que manchava até mesmo seus cabelos. Sua expressão era intensa, e seus olhos cravados em mim pareciam tentar garimpar cada emoção escondida.

— Dayane, você precisa parar com isso. Não pode sair de casa e voltar assim, toda machucada, como se nada tivesse acontecido. — Minha voz saiu decepcionada, com o peso de tudo o que eu queria dizer.

Ela soltou uma risada amarga. — Por que você se importa, Caroline? — Suas palavras tinham uma acidez que machucava, mas também revelavam uma dor que eu conhecia bem.

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