O universo me odeia

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Existem momentos das nossas vidas que as nossas borboletas estão voando distante da gente. Talvez alguém tenha nos roubado e precisamos correr atrás pra pegar de volta. Na teoria das pessoas que são de verdade, ladrão que rouba ladrão não merece cem anos de perdão. O universo permite que nós roubem pra gente aprender a ser de verdade.

Alguns dos piores momentos são aqueles que uma brisa leve se torna uma ventania impetuosa e cruel. A gente se proteje e depois chora para futuramente descobrir que sobrevivemos e aprendermos. A gente não sabe o que o destino reserva, e não adianta xingar ou se revoltar com o mundo, porque no final aqueles ventos impetuosos são para nos fazer mais fortes.

Doeu, doeu muito ouvir de Caroline que ela estava pulando do barco, em alto mar me deixando sozinha. Quando eu tive a última conversa com ela me fiz prometer nunca mais ser dependente de alguns para ser quem eu quero. Ser abandoada da forma mais fria e mais sentimental que podia existir foi como tomar um tiro, eram duas palavras que não casariam nunca juntas ela fez acontecer. Soa estranho dizer isso, porque logo com Caroline eu fui a pessoa mais segura do mundo, segura de mim, segura de nós. No momento de maior força, eu estava conhecendo o nosso céu, ela cortou minhas asas.

Foi uma queda doentia e brusca que já pude presenciar, eu tentei explicar para a minha mente que eu ficaria bem. Eu então entendi que o universo queria me dizer; eu precisava mais de mim, mais do meu eu, e que seria bonito se meu coração escutasse tudo que minha mente insistia em me dizer. Mas é como se meu coração fosse uma criança teimosa e agitada, ele recusava a aprender o reforço da escola.

Um dia eu me perguntei sobre Rafaella, por que diabos o destino havia colocado ela no meu caminho? "Eu tenho Victor e não preciso de outra amiga." Mas eu me enganei porque eu percebi.

Na vida nos temos três amores.

A  maioria das pessoas experimenta esse tipo de amor no início da vida, geralmente quando ainda se é adolescente. Ironicamente, esse amor é mais sobre viver de acordo com ideais sociais e enredos de filmes de Hollywood do que amar verdadeiramente outro ser humano. No entanto, faz-nos sentir como se fosse a coisa mais verdadeira do mundo, puro e inquebrável, levando você a acreditar que aquele sentimento durará para toda eternidade. E é nessa fase que vivemos os nossos primeiros sonhos clichês, o de casar com o escolhido, ter filhos e morar numa casinha branca de varanda. Nesse tempo nem desconfiamos que ainda poderemos viver outras paixões, que aquela pessoa a qual julgamos ser o grande amor, provavelmente não significará nada para nós no futuro, mas está servindo no momento para iniciarmos nossas primeiras experiências e preparativos para os amores seguintes.

O segundo amor;

Esse tipo de amor é um tipo de amor mais difícil, e isso nos obriga a compreender quem somos realmente como indivíduos, quem realmente são nossos parceiros e aonde você quer ir (e está indo) na vida. Além disso, isso nos obriga a entender o tipo de pessoa que queremos amar no presente e no futuro, e que seja da mesma forma correspondida. Mas também é um amor difícil porque geralmente dói; Normalmente existem mentiras, outros enganos e até mesmo manipulações. As pessoas podem ficar "presas" com esse tipo de amor por um longo tempo e até se envolver com uma série de parceiros diferentes, mesmo que esse tipo de amor tende a ser insalubre, desequilibrado ou mesmo narcisista. Nessa fase, às vezes, insistimos em permanecer acreditando que há como viver de remendar a relação, mas chega um momento em que não resta mais nada do tecido original que compunha o amor, então já é hora de dar um basta.

O terceiro amor;

A maioria das pessoas não vê esse tipo de amor chegando, porque muitas vezes ocorre com alguém que não parece certo para você, e para quem você também não parece certo (não importa em que perspectiva você esteja vendo as coisas). E, no entanto, este é um tipo de amor "fácil" que parece acontecer naturalmente, quer queira ou não. É impossível explicar a atração e conexão mútua, mas é incontestavelmente lá e tangível no entanto. Isso pode ser porque nenhum de vocês esperava se apaixonar pelo outro, e nenhum de vocês tentou, então nunca houve nenhuma pressão ou procedimentos de corte torpes. Seja como for, é um tipo de amor que não pode ser negado, explicado ou preparado; Simplesmente se sente bem, de uma forma extremamente inegável.

Mas ninguém nunca contou que os nossos amores podem trocar a ordem! O nosso segundo amor pode retornar no futuro e ocupar o lugar do terceiro, deixando o mesmo em segundo. Eles trocam de lugar porque o aprendizado do segundo você precisava ter naquele momento, e depois que aprende o universo permite ser feliz com a pessoa que mais amou.

Um dia eu me questionei o porque eu sentia uma coisa diferente sobre Rafaella, o porque ela teria aparecido na minha vida. Logo ela com o seu jeito levemente adocicado.

Em Greys Anatomy, quando a Cristina vai falar sobre Meredith ser a pessoa dela, ela diz; "Se um dia eu precisasse da ajuda para carregar um cadáver pela sala, quem eu chamaria?"

Conseguem entender?

É essa pessoa que Rafaella é para mim nesse determinado tempo. Ela é a minha terceira pessoa.

— Sua cabeça vai explodir de tanto pensar Dayane! — Olívia diz e eu solto uma gargalhada com a fala da menor. — Toma, te trouxe o café que o papai fez.

— Escolhas Olivia, quando você crescer e lidar com elas vai lembrar de me ver reclamando. — Disse dando espaço para a garotinha se acomodar ao meu lado.

— Quem procura acha, quem pede é atendido. — Olívia disse eu eu olhei pra ela incrédula por uma fala tão madura. — Não me olhe assim, eu sei que você ainda se questiona sobre eu ter 14 anos.

— Quantas vezes eu não repeti isso sem dar o menos valor Olívia. — Afirmei encostando minha cabeça no encosto da cadeira que estava sentada. — Apenas estou incrédula que você sempre consegue ler a minha mente.

— Eu acho que em um universo paralelo nos somos irmãs. — Ela afirmou com um toque de deboche. — E só por essa teoria eu sei que você está pensando em Rafaella, estou certa, não é?

— Sempre certa Oli, sempre certa! — Afirmei levando meu copo a boca e tomando um gole do meu café. — Será que seria certo eu? Eu deixar acontecer?

— Por que não? — Ela deu de ombros. — Qual é Lima, você tomou um pé na bunda e está preocupada com o que Caroline vai pensar? — Afirmou e eu tentei responder mas ela me interrompeu. — Não responda essa pergunta porque eu já sei a resposta. Olha, presta atenção a sua volta, vai viver sua vida sozinha e depois você pede Carol em casamento.

— Não é tão fácil assim Olívia, além do mais ela pode Não estar me amando mais amanhã.

— Qual é Dayane, todos os dias nos conversamos sobre tudo, e você sempre toca no assunto sobre Rafaella. — Olívia afirmou me encarando rude. — Quem estava com você no seu pior momento? Quem cuidou de você na recuperação? Quem conseguiu deixar você feliz depois que Caroline simplesmente te jogou fora? — Ela suspirou pesadamente. — Consegue sentir a diferença? Não adianta Caroline vir atrás por uma coisa que sla mesmo causou.

— Mas é que talvez eu devesse aceitá-la de volta?

— Lima, não se culpe por uma coisa que ela mesmo causou, eu já disse. — Olívia afirmou séria. — Você tem uma turnê daqui a uma semana, consegue imaginar como manteria um relacionamento a distância? Ainda mais com ela? —

— Talvez dê certo.

— Talvez? Isso é bem pior que a teoria do achismo!
Caroline não consegui admitir para você que não conseguiria te deixar livre, e por isso usou um motivo bobo para te deixar ir, depois se arrependeu.

— Nunca tinha pensado por esse ângulo. — Disse irritada. — Ela terminou comigo por medo de me deixar viver? Mas se sla não me amar mais depois? Nos já estamos separadas ha quase dois meses.

— Por mais que eu não concordei com a atitude dela, e que eu prefira Rafaella com você agora. Eu ainda te pergunto; você acha mesmo que amor é igual fogo? Jogou água, apagou, acabou? Você já foi mais inteligente que isso.

— Ei! — Disse dando um tapinha em seu ombro.

— Eu escutei vocês ontem e aposto que Rafaella te fez bem e te fez esquecer sua dor? Estou certa. — Ela questionou e eu concordei com a cabeça. — Então deixa isso acontecer, e deixe bem claro que pode terminar a qualquer momento. Ou talvez vocês vivam felizes pra sempre.

— Talvez isso aconteça... — Sorri irônica. — No universo paralelo onde você é a minha irmã, só que mais tapada. — Disse abraçando ela de lado. — Queria ver o mundo do seu jeito, isso seria muito mais fácil.

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