Imaginação errada

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Era difícil interpretar o que acontecia dentro de mim, os sentimentos estavam aguçados e confusos e minha própria mente questionava a cena vivenciada há meia hora atrás. Talvez a única sensação mais concreta que percorria meu corpo era a enorme ânsia de vômito ao pensar no cadáver do homem morto na areia da praia. Como eu explicariam à polícia? Justificar que eu estava ali porque não tinha lugar para morar. Isso me salvaria de uma possível prisão? Minha vida que mal iniciara já chegaria no fim: com certeza a notícia de assassinato se espalharia e ninguém iria me contratar para trabalho algum. Entretanto, apesar da dor de cabeça ao pensar em minha vida e a neblina que passou a pairar sobre o meu futuro. Sim, eu não consegui em momento algum surtar por completo graças ao efeito toxicológico que ainda permaneciam em meu organismo...

– Parada com as mãos acima da cabeça! – Uma voz masculina ecoou no ar gélido da madrugada, me arrancando dos meus pensamentos.

Levantei as mãos devagar, revirando os olhos antes de me virar para o policial, que parecia pronto para pular no meu pescoço.

– Calma aí, eu não fiz nada do que você tá pensando – comecei, ainda com as mãos no alto. – Eu que liguei pra vocês, lembram?

– E eu lá vou saber disso? Quem garante? – ele retrucou, aproximando-se ainda mais. A arma estava tão perto de mim que dava até pra ver as manchas de ferrugem no cano.

Suspirei, tentando não explodir de sarcasmo. – Me diga você, já viu algum assassino burro o suficiente pra ligar pra polícia depois de um crime? Porque eu não – falei, arqueando uma sobrancelha.

Ele hesitou, mas logo voltou a cara de durão. – A perícia vai investigar o cadáver. Enquanto isso, você fica sob nosso comando.

Antes que eu pudesse protestar, senti o aperto frio das algemas em meus pulsos. Maravilha. Ali estava eu, algemada e sendo conduzida para longe do corpo como se fosse uma criminosa qualquer.

– Sério mesmo? – balancei os pulsos algemados, fazendo o metal ranger. – Precisa de tudo isso? Eu já disse que só estou colaborando aqui.

– Eu não tenho como saber isso agora – ele respondeu, impassível. – Procedimento padrão.

– Claro, claro, procedimento padrão – falei com desdém, e ele não pareceu gostar nem um pouco. Mas antes que retrucasse, já me empurrava em direção ao carro da polícia. Estava congelando, e o frio metal das algemas parecia cortar minha pele. Minhas mãos latejavam, e o vento gelado só fazia piorar a dor.

Encostei-me ao carro, tentando ignorar o desconforto nos pulsos e o olhar curioso dos outros policiais. Mas por dentro, eu estava em outro lugar, tentando entender que rumo desastroso minha vida tinha tomado. O que foi que deu tão errado? Onde eu fui parar?

– Você está muito calada pra quem "não fez nada", hein? – o policial voltou a falar, cínico.

– É que ainda estou processando a genialidade dessa operação – rebati, com um sorriso sarcástico. – Pensa comigo, que assassina brilhante eu seria se chamasse a polícia pra minha própria cena de crime, né?

Ele estreitou os olhos, mas manteve o tom firme. – Olha, você está oficialmente na cena de um crime. Até tudo se resolver, fica quietinha!

Soltei um riso. – Ah, isso é ótimo – murmurei, rolando os olhos. – Vai ver sou só uma masoquista que gosta de perder o sono na madrugada ligando pra vocês. Adoro algemas, na verdade. É praticamente um hobby.

Ele suspirou, ignorando meu tom sarcástico, e se afastou para conversar com o perito, que já começava a examinar o cadáver. Eu não conseguia desviar os olhos do corpo, mas não de um jeito mórbido; era profissional. E agora eu estava ali, no limbo, presa em frente ao carro da polícia, esperando para provar o óbvio.

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