Sober

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POV Caroline 

No instante em que as palavras de Dayane escapam da sua boca, um calafrio percorre minha espinha. "Eu quero que você fique na minha vida, ruiva!" Ela me diz isso com uma facilidade tão desconcertante que eu quase me sinto tonta. E, por um segundo, a tentação é tão forte que meu cérebro simplesmente desconecta. E daí se eu deixar tudo pra lá? E daí se eu perder a cabeça e agarra-la ali mesmo, no meio do meu quarto, em um impulso impensado?

A ideia surge na minha mente como uma onda inesperada, grande e avassaladora, e eu sou incapaz de não imaginá-la, de não me ver me entregando a ela sem reservas. Mas... não! Eu não posso. Não posso fazer isso. Eu não sou assim.

Uma vozinha pequena, mas insistente, começa a se levantar no fundo da minha mente. Ela fala com calma, mas com uma clareza que me atinge em cheio. "Isso não vai te levar a lugar nenhum, Caroline. Você sabe disso. Foca na sua saúde mental, no que você realmente precisa. Porque, sério, não há como ser saudável quando ela está por perto." E, de alguma forma, essas palavras têm o poder de me ancorar de volta à realidade, como um balde de água fria.

Eu respiro fundo, tentando acalmar o furacão de pensamentos que me invade. Maldita seja essa coisa de gostar! Por que é tão difícil manter a cabeça no lugar quando ela está aqui, perto de mim, com esse sorriso despreocupado e esse olhar que parece saber tudo sobre mim, até mesmo o que eu estou pensando, como se fosse capaz de me tirar do eixo a cada palavra, a cada movimento.

Eu respiro de novo, mais fundo agora, e uma tentativa de racionalidade se faz presente, por mais difícil que seja.

— Desde quando você toca instrumentos? — Eu me pego dizendo isso, e eu sei que é uma distração, uma tentativa de tirar o foco da confusão crescente dentro de mim. O que é isso? Como alguém pode ser tão enigmática, tão imprevisível? Como ela pode me surpreender a cada momento, deixando meu cérebro cada vez mais confuso, sem respostas? A ideia de que ela ama música, de que ela toca... aquilo é tão oposto ao que eu imaginava dela, tão desconcertante, que meu cérebro ainda não conseguiu processar.

Ela me olha, e a brincadeira na expressão dela me faz engolir em seco. Merda, eu não posso ser tão óbvia assim, posso? Minha mente está correndo a mil, enquanto minha boca se abre, mas nenhuma palavra parece boa o suficiente para corrigir o que acabei de dizer.

— Você olhou desse jeito pra mim só pra perguntar se eu toco instrumentos? — Ela ri, e aquilo, embora leve, me atinge como uma onda. É uma gargalhada despreocupada, como se ela soubesse exatamente o que eu estou pensando. E eu me sinto pequena. Tão pequena.

Eu abro a boca para dizer algo, mas ela me antecipa. Claro que ela se antecipa. Claro...

— Desde criança. — Ela começa a explicar, sua voz carregada de algo que eu não consigo decifrar, mas que me atrai. A maneira como ela fala, quase com um tom de confidência, algo na simplicidade da frase me faz querer ouvir mais, saber mais. — Eu sempre gostei de música, porque é o que mantém minha alma viva...

E ela para por um momento, mexe-se desconfortavelmente na cama, coçando a nuca com um leve sorriso sem graça. Como se a música fosse mais do que apenas um gosto pessoal para ela. 

E eu... eu só quero saber mais. Eu quero entender tudo. Eu quero saber desde sua infância até agora, quero mergulhar nesse lado dela que, até agora, parecia tão distante de mim. Mas, ao mesmo tempo, eu me sinto deslocada, como se fosse indevida nesse espaço íntimo. Eu estou em negação. Eu não posso me permitir ir tão fundo. Não posso me permitir ficar fascinada por cada palavra que ela diz, cada nuance que ela revela.

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