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POV CAROLINE: 


Estou sentada na porta do meu quarto há horas. Acho que já passaram cinco, talvez mais, mas perdi a noção do tempo. Tudo o que consigo sentir é esse aperto no peito, como se alguém tivesse arrancado uma parte de mim à força. As lágrimas escorrem pelo meu rosto, quentes e incessantes, enquanto eu encaro o chão. Saber que não vou tê-la todos os dias ao meu lado... isso me destrói. É como se um pedaço do meu mundo tivesse se desfeito, deixando um vazio insuportável.

Na minha mão trêmula, está a carta que Dayane deixou. Suas palavras ainda ecoam na minha mente, como um fantasma que não consigo afastar. Ela escreveu que eu precisava de tempo, que era melhor assim. Tempo para pensar no que eu estava sentindo, no que nós éramos.

Talvez ela esteja certa. Talvez eu realmente precise de tempo para entender tudo. Mas o que ela não entende é que eu queria esse tempo com ela. Eu precisava dela aqui, ao meu lado, para enfrentar esses sentimentos juntos. Não sozinha. Nunca sozinha.

Mas, ao mesmo tempo, pensar que Dayane considerou meus sentimentos, pelo menos uma vez, traz um alívio estranho. Ela sempre foi egoísta, sempre priorizou as próprias vontades. Hoje, com essa carta, ela mostrou algo diferente. Ela mostrou que talvez esteja mudando. Mudando por nós.

Levanto-me da porta, os joelhos doem, a cabeça lateja. Vou até a cozinha, buscando qualquer coisa que alivie a angústia que me consome. Abro a geladeira e pego uma cerveja. Está quente, mas não me importo. Sento no sofá, encaro a garrafa e começo a descascar o rótulo com a unha, perdida em pensamentos.

Quase duas semanas. É esse o tempo que passou desde que ela se foi. Duas semanas que parecem dois anos. Mas tudo ainda está tão vivo em mim. A última briga. A última vez que ouvi sua voz.

— Sai da minha casa! — gritei, as palavras saindo com mais força do que eu pretendia.

Eu consigo ver aquela cena tão claramente como se estivesse acontecendo agora. Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas o olhar dela mudou. Não era mais apenas tristeza; era mágoa, algo mais profundo. Ela saiu correndo, o som dos seus passos na escada ainda ecoa na minha cabeça. Não pegou o elevador. Eu sei disso porque a ouvi, porque até nesses momentos ela fazia questão de ir contra o óbvio.

Caminho até a janela e olho para baixo, como se pudesse ver aquele instante novamente. Lembro de vê-la, parada, olhando para cima antes de entrar no táxi. Não parecia mais estar chorando. Mas será que estava mesmo? Quem eu quero enganar? Como eu poderia ver isso daqui do quinto andar?

A raiva cresce de novo dentro de mim, quente e pulsante, misturada com tristeza e arrependimento. A cerveja desce amarga na garganta, mas eu a termino de qualquer jeito. O vidro quebra quando a jogo no canto da sala. Não me importo. Assim como não me importei que ela estava quente.

Vou até o quarto dela. Ou melhor, o quarto que costumava ser dela. Abro o armário e vejo que quase todos os seus pertences ainda estão lá. Os objetos de valor, suas roupas favoritas. Isso só pode significar uma coisa: ela vai voltar. Um dia, ela vai voltar.

Fecho as portas do armário e me jogo na cama. O cheiro dela ainda está lá, impregnado no travesseiro, no lençol. Fecho os olhos e respiro fundo, querendo me perder nesse vestígio dela. Queria pedir ao universo que cuidasse dela, que protegesse sua cabeça. Que ela não fizesse nenhuma besteira.

Porque esse medo... esse medo ainda está aqui. Um medo constante, que me acompanha todos os dias. Medo de ir trabalhar e voltar para casa e não encontrar mais nada dela. Medo de que ela decida que não vale a pena. Medo de nunca mais ouvir sua risada, de nunca mais sentir sua presença.

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