A escuridão da solidão

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Sua Majestade ficou extremamente entristecido com as más notícias.

Sua Majestade deu ordens de trancar a criança dentro de uma casa no campo, provida de atendentes e todos os tipos de coisas boas do palácio do rei, e que a criança não deveria sair para o exterior.

~ Fragmento de "Papiro Harris 500"

Para a maioria dos deuses que seguia fazendo seus afazeres enquanto a filha de Tutmosis nascia, era só mais um dia. Já tinham visto muitos príncipes e princesas nascerem e, por mais que aquela fosse fruto de uma noite que incluiu Amon-Rá indiretamente, para os deuses, ficar ali esperando o bebê nascer tal como Hórus havia feito era exagero demais. Assim, os deuses até cochichavam entre si perguntando-se se o tal bebê já tinha vindo ao mundo, mas não deixava de ser um dia relativamente normal.

No entanto, Ísis, Tawaret e Hathor cumpriam suas funções apenas com atenção parcial. Elas sabiam que a filha de Tutmosis I estava vindo ao mundo e era só uma questão de tempo até Hórus descobrir que elas esconderam o mero detalhe de que a rainha esperava uma filha, não um filho. Contudo, as três deusas escondiam sua tensão muito bem.

No Salão do Julgamento, no momento não estava acontecendo nenhum julgamento. Não era como se não tivessem ninguém para julgar, afinal os mortais não paravam de morrer e o fato de Tutmósis I ter resolvido guerrear para aumentar as fronteiras certamente trazia alguns guerreiros até o submundo. Osíris havia decidido que era um bom momento para os julgamentos terem uma pausa por alguns momentos para que os deuses envolvidos nele resolvessem outros assuntos e também para a fila de mortos aumentar um pouco mais.

Enquanto para Osíris aquela pausa significava discutir assuntos com Ísis enquanto Ammit levava até ele uma longa costela para que Osíris jogasse longe como um brinquedo para Ammit buscar, para Anúbis significava, no momento, checar a situação de seus sacerdotes e embalsamadores.

Anúbis se sentava no chão no cantinho do Salão do Julgamento debruçando-se sobre um papiro que analisava, escrevia e riscava organizando as informações que tinha na mente sobre quais sacerdotes e embalsamadores teria que ir fisicamente visitar e onde cada um ficava. Atualizava sua listinha riscando o nome daqueles que morreram desde que se debruçara sobre ela a última vez, incluía nomes novos e cargos novos para nomes antigos.

Anput não estava lá, estava caminhando dentre os humanos cuidando das coisas no Nomo que, até onde Hórus sabia, ela cuidava junto com Anúbis. Mas, na verdade, desde do começo ela cuidava inteiramente sozinha, assim como ela tinha insistido, já que queria tanto fazer coisas independentemente.

Foi nesse momento tranquilo no Salão do Julgamento que Hórus chegou repentinamente em sua forma de falcão e logo trocou para sua forma humanóide numa agitação e pressa tão grande que atraiu a atenção dos poucos que estavam no Salão do Julgamento no momento.

Claramente exasperado, ele começou a andar com passos firmes e aparentemente irritados para Ísis e certamente teria ido para Hathor caso a deusa estivesse ali.

- Você sabia! - acusou Hórus - Não tem como você não saber!

- Não fale assim comigo! - ralhou Ísis imediatamente, mas sem perder a compostura enquanto Anúbis deixava sua listinha de lado e se levantava para acompanhar melhor o que parecia ser o começo de mais um novo problema - De que raios está falando?

- Sabe bem do que estou falando! - gritou Hórus perdendo a paciência - Onde estão Hathor e Tawaret?!

Os gritos de Hórus atraíram a atenção também de Thoth que surgiu primeiramente no Salão do Julgamento vindo de um corredor colocando timidamente a cabeça para dentro do ambiente primeiro. Thoth e Anúbis se entreolharam como se perguntassem um para o outro o que exatamente estava acontecendo, mas os dois apenas deram de ombros sem entender bem o que havia causado toda a raiva de Hórus.

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