Indiretas Diretas

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Alguém foi dar os parabéns ao pai dela e disse-lhe: "Um homem escalou a janela da tua filha".

O príncipe indagou sobre ele, dizendo "O filho de qual dos príncipes é?" Eles disseram para ele: "É o filho de um cavaleiro, que fugiu da terra do Egito, de uma madrasta."

~ Fragmento de "Papiro Harris 500"

A noite tranquila tinha tomado conta do palácio real para alegria de todos. Afinal, muitos estavam preocupados com o parto da rainha ou pelo menos desconcertados com seus gritos de dor. A pequena Neferure estava acordada, mas tranquila. Seus olhos castanhos estavam entreabertos e sonolentos enquanto olhavam para Anúbis, que a segurava claramente tenso em machucar tão frágil e pequena criatura.

Hatshepsut, Bes e Anúbis admiravam a calmaria de Neferure e o milagre que era sua vida. Suas mãos, tão pequenininhas, se moviam lenta e gentilmente como se quisesse aproveitar o espaço que não tinha na barriga da mãe.

- É uma bela garotinha. Será uma bela princesa sem dúvida. - disse Bes.

- Sei que não sou imparcial, mas tenho que concordar. - disse Hatshepsut.

Nesse momento, surgindo acanhadamente no quarto, estava Anput. Ela avaliou se estava tudo bem se aproximar, já que Hatshepsut poderia muito bem estar dormindo tendo seu merecido descanso, e notando que estavam todos admirando Neferure, Anput se juntou ao pequeno grupo.

- Hathor me contou que tinha dado tudo certo no parto... - disse Anput.

- Olá, Anput. - disse Hatshepsut com um dose e cansado sorriso - Sim. Finalmente acabou.

- Sim. Venha ver a nova princesa. - disse Bes chamando Anput com a mão enquanto Anúbis nem ousava se mexer, já se sentia rebelde demais no momento por apenas respirar.

A única cadeira do cômodo estava ocupada por Anúbis e não parecia certo sentar na beirada da cama de Hatshepsut, assim Anput apenas se aproximou e curvou o corpo levemente para poder admirar a pequena recém-nascida mais de perto. Provavelmente atraída pela fofura da criança, Anput esticou o dedo indicador até a pequena mãozinha aberta da recém-nascida que, ao sentir o toque do dedo, por puro reflexo, fechou a mão ao redor do dedo que parecia tão absurdamente grande perto dela.

Os olhos de Anúbis focaram na delicada mão segurando fracamente o dedo de Anput e tentou não deixar sua imaginação ir muito além, o que era meio difícil. Então, tentou focar-se no momento. Afinal, podia até estar tenso e temeroso de sem querer machucar a pequena princesa, mas não podia negar que estava gostando de segurá-la também. E o pequeno sorriso que nasceu no rosto de Anput mostrava que ela notava isso.

- Quer segurá-la? - perguntou Anúbis olhando para Anput, que ficou levemente surpresa com a oferta.

- Claro... - respondeu a deusa.

Com muito cuidado, eles trocaram o bebê de um para o outro sob os olhos atentos e calmos da mãe. Neferure nada fez além de remexer as mãos e os lábios enquanto estava no meio do percurso. Antes que desse tempo da garotinha ficar emburrada por perturbarem a tranquilidade dela, ela já estava confortavelmente no colo de Anput.

- Qual o nome dela? - perguntou Anput.

- Neferure. - respondeu Hatshepsut.

- É um bom nome. - disse Bes já que, ao pé da letra, o nome significava "A beleza de Rá" - Amon-Rá com certeza gostará da homenagem.

- Achei que ficaria bonito e especial. - admitiu Hatshepsut - Eu realmente tenho que arranjar mais tempo para ir devidamente à um dos templos de Amon-Rá com mais calma novamente, e não com tanta pressa. Tem sido uma loucura desde que Tutmósis virou faraó. As fronteiras são muito grandes e consequentemente dão muito trabalho.

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