Tempestade no Deserto

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Sua Majestade chegou à cidade de Kadesh, e agora o miserável Caído de Kadesh chegou e reuniu todos os países estrangeiros até o fim do mar; toda a terra de Khatti veio, a de Nahrin da mesma forma, a de Arzawa, Dardany, a de Karkisha, Luka, Kizzuwadna, Carchemish, Ugarit, Kedy, toda a terra de Nukhashshe, Mushanet, Kadesh; ele não deixou nenhum país estrangeiro para não trazê-lo de todas as terras distantes, com seus chefes lá com ele; cada homem com sua infantaria e suas carruagens excedendo muitos, sem limite de semelhantes. Cobriram montanhas e vales e eram como gafanhotos por causa de sua multidão. Ele não deixou prata em sua terra, despojou-a de todos os seus bens e os deu a todos os países estrangeiros para trazê-los consigo para lutar.

~ Fragmento de "Registro egípcio oficial da Batalha de Kadesh, Poema do Pentauro"

Com as presas gigantes para fora e os dedos da mão roçando no solo seco, Sekhmet encarava Zababa e rosnava para ele antes de pular com a boca escancarada em sua direção. Logo ao lado, o confronto entre Anúbis e Tashimishu, um dos vários deuses de guerra dos hititas, também continuava. Com a tempestade forte, os dois nem conseguiam ver onde estavam os demais e como iam as lutas deles.

Tashimishu, como registro de seus conflitos anteriores do dia tanto com Sekhmet como com outros deuses, já colecionava seu próprio álbum de cicatrizes e ferimentos. Dos quais, o mais doloroso era visivelmente um no antebraço, cuja carne tinha sido cortada profunda e dolorosamente, como se o braço fosse uma banana cuja casca havia começado a ser retirada. A pele que estaria frouxa devido ao corte estava, no entanto, amarrada ao braço, forçando-se a ficar conectada. Com certeza estava doendo, ainda assim, a luta continuava.

A lança de Tashimishu ia de encontro com o cetro de Anúbis e o sorriso no rosto do deus hitita dava a entender que ele esperava que o cajado logo iria se quebrar, por ser de madeira enquanto sua espada era de ferro, a novidade do século. Contudo, golpe atrás golpe, o cajado resistia sem grande dificuldade. A lança de Tashimishu cortava a chuva quando ele súbita e magicamente a trocou por uma espada em busca de atacar um ponto aberto na defesa de Anúbis num ataque mais curta distância.

Anúbis pulou para longe no último segundo, mas sentiu a lâmina raspar em seu abdômen, abrindo um pequeno corte do qual escapou um pouco de sangue prateado. Apenas algumas gotas. Mas ele não parou para analisar o fato, simplesmente invocou sua névoa e fez com que ela engolisse Tashimishu de baixo para cima.

O hitita soltou um pequeno resmungo quando uma dor lacerante e aguda subiu por seu corpo quando a ponta de seu dedão do pé tocou a névoa. Ele também pulou logo para longe. Contudo a névoa o seguiu com tranquilidade. Ele pulou mais uma vez para trás mas, dessa vez, quando a névoa o seguiu, Tashimishu sumiu dali e, no segundo seguinte, reapareceu atrás de Anúbis.

Obviamente, ele não deu tempo para Anúbis lidar com sua repentina aparição. Um pouco de mágica foi suficiente para atirar contra Anúbis dezenas de lanças. Mas tudo que elas encontraram foram mais névoa quando Anúbis se desfez nela. Essa névoa, mais rápida do que a primeira, rapidamente pulou na garganta de Tashimishu, e logo uma faixa de linho extremamente apertada se formou ali, enforcando o deus e putrefazendo onde tocava.

Tashimishu engasgava e tentava puxar a faixa enquanto Anúbis se materializava atrás dele, puxando a faixa para que ficasse cada vez mais apertada. O pescoço do deus ficava em tons nojentos de roxo, cinza e preto, quando Zababa acabou esbarrando atrás de Anúbis ao tentar escapar de um ataque de Sekhmet, fazendo ele deixar de puxar a faixa por alguns segundos.

- SEKHMET! - reclamou Anúbis dando para si uns segundos para chutar Zababa no meio das costas, fazendo o deus tropeçar e morder o lábio, segurando uma pequena reclamação de dor, pois o chute foi acompanhado de névoa - CUIDADO COM SEU ADVERSÁRIO!

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