Que seu coração prospere, meu mestre.
Eis que chegamos em casa.
O maço foi tomado, o poste de amarração é conduzido.
A corda do arco foi colocada na terra, agradecimento e louvor a Deus são dados.
Todos estão abraçando seus companheiros.
Nossa equipe retornou em segurança; não houve perda para o nosso exército.
Chegamos ao fim de Wawat;
nós passamos pelo Senmut.
~ Fragmento de "O conto do marinheiro naufragado"
O ambiente ao redor de Anúbis era a definição da mais completa escuridão e silêncio. A única sensação que tinha, além dos pés tocando o solado da própria sandália de couro, era a levíssima poeira arenosa que chegava até seu nariz. Calmamente, Anúbis abriu a palma de sua mão diante de si apontando para cima criando ali uma pequena e tímida chama que não parecia estar muito afim de aumentar de tamanho. Apesar da timidez da chama, aquilo foi o suficiente para iluminar um pouco mais o ambiente ao seu redor.
No meio de uma sala escura cercada com quatro paredes de pedra e um teto do mesmo material, Anúbis olhava ao redor para os vários sarcófagos organizados meticulosamente no espaço disponível. Alguns se amontoavam nas paredes que haviam sido entalhadas como prateleiras, outros se organizaram no centro da sala mesmo dentro de o que seria melhor descrito como caixas ou baús de pedra grandes o suficiente para guardar em seus interiores seres humanos e seus devidos sarcófagos.
Os olhos castanhos de Anúbis percorriam o espaço do que era obviamente uma tumba não tão particular como os mais ricos faziam. Contudo, sabia bem que havia grandes sentimentos e histórias dentro daquela tumba familiar.
Com um suspiro, o deus notou que havia ainda uma estante de pedra vazia. Viria bem a calhar. Parecia até que a sorte estava mesmo querendo dizer para ele que devia parar de tentar juntar mais dentro daquela mastaba aquela família. De toda forma, o sarcófago que ele magicamente fez aparecer na prateleira vazia seria o último que colocaria ali. Até porque, estava ficando tão cada vez mais ocupado que não podia simplesmente sair por aí mumificando tantas pessoas como gostaria. Contudo, se esforçava ao menos para tentar fazer isso para alguns que sabia que teriam seus corpos largados por aí ou esquecidos como indigentes caso ele não fizesse algo.
Aquela história que, caso contrário, terminaria de uma maneira triste, era a história daquele cujo corpo ocupava aquele sarcófago simples que havia acabado de ser adicionado à mastaba. O ocupante daquele sarcófago não passava de um jovem cuja vida tinha sido rodeada de pobreza depois que a plantação de seu avô foi completamente perdida devido à uma seca. Entretanto, o mesmo estado de pobreza não podia ser visto em todas as ramificações da família daquele homem. O morto não sabia, mas, bem ao sul dali, na crescente cidade de Assiut, possuía parentes distantes que estavam dentre os mais ricos e influentes da cidade por serem importantes sacerdotes e o mesmo acontecia na cidade de Mênfis. Aquela família havia chegado tão longe, que não era de se surpreender que poucos estivessem dentro daquela mastaba.
Mesmo pensando em todo o histórico daquela família, cujo cada um dos mortos Anúbis lembrava com vividez do julgamento, ele bem notou quando Anput apareceu naquela mesma mastaba.
- Mudei de ideia. - disse ela acendendo uma pequena chama em sua própria mão também - Decidi vir também.
- Bem imaginei que fosse mudar de ideia. - disse Anúbis com um pequeno sorriso de canto enquanto ia para até onde Anput estava.
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A Morte Das Areias do Saara
Ficción históricaAntes de as pirâmides serem construídas, as areias do Saara, as águas do Nilo e suas margens pertenciam aos deuses. E, dentre esses deuses egípcios que reinavam, protegiam e castigavam os humanos, existia um deus conhecido por sua ligação com a mort...