De mudança para o submundo

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Eu queria ser seu espelho para que você sempre olhasse para mim.

Eu queria ser sua roupa para que você sempre me usasse.

Eu queria ser a água que lava seu corpo.

Eu gostaria de ser o unguento, ó mulher, que eu pudesse te conhecer.

E a faixa em volta dos seus seios e as contas em volta do seu pescoço.

~ Fragmento de poema

Com o olhar brilhante e lágrimas se formando em seu olhos, o olhar de Anput, ao som da doce e importante pergunta, rumou das flores para os carinhosos olhos castanhos de Anúbis. O coração dele palpitava ansioso pela resposta que, embora uma pequena voz dentro de si dizia que seria óbvia, ainda muito preocupava.

Abrindo um sorriso radiante, Anput logo se aproximou dele e, deixando o singelo buquê de flores em sua mão esquerda, usou o braço direito para abraçar o rapaz enquanto seus lábios presenteavam-no com um doce e profundo beijo.

- Claro que eu quero! - disse Anput depois de se separar do beijo por alguns instantes para que pudesse responder apropriadamente.

O coração de Anúbis rapidamente se tranquilizou ao ouvir a resposta e tal tranquilidade chegou até seu olhar e seus lábios que se abriram também em um sorriso. Contudo, o sorriso não durou muito pois logo os lábios do jovem deus estavam ocupados beijando aquela que agora era sua noiva. Por um breve momento Anúbis se separou de Anput e pegou sua mão delicadamente.

Quando alguém pensa nas invenções dos egípcios, poderá facilmente citar o papiro. Pensando mais um pouco poderá citar invenções também criadas por outros povos, como as múmias, a maquiagem, os chinelos, as perucas e o calendário. Mas dificilmente alguém saberá da importância deles na criação do pequeno objeto circular feito de ouro, algo raro para esse tipo de objeto que comumente ainda era feita de marfim ou couro, que os dois jovens deuses fizeram magicamente aparecer em seus dedos como um símbolo dos sentimentos e da relação que ali existiam.

Com olhos brilhantes, Anúbis acariciou a bochecha dela docemente fazendo um sorriso romper na face de Anput. Sem se aguentar mais, os dois se aproximaram e beijaram-se deixando os sentimentos tomarem conta. Enquanto as estrelas se exibiam exuberantemente no céu negro, o casal trocava um apaixonante beijo bem sabendo que não seria necessário muito mais do que simplesmente morarem juntos para serem considerados oficialmente casados, tal era a simplicidade de um casamento para a época. Entretanto, as condições luxuosas em que viviam os deuses permitiam uma festa para celebrar, algo tão difícil dentre os mortais.

Até o raiar do sol eles ficaram ali. Conversando, aproveitando a presença um do outro. Sabiam que assim que contassem as mudanças daquela noite para os outros deuses, eles imediatamente iriam querer começar uma festa, foi exatamente esse pensamento que levou eles a querer simplesmente aproveitar o momento.

Com rapidez a notícia do noivado se espalhou entre os deuses, principalmente porque Hathor mal conseguiu ficar quieta depois que Anúbis perguntou se teria a permissão de pedir Anput em casamento. Depois que Hathor contou para Ísis e Tawaret o acontecimento, a notícia rapidamente se espalhou e então ganhou mais força ainda quando Anput voltou para casa e contou as atualizações.

- Oh, minha garota!- dizia Hathor feliz abraçando Anput - estou tão orgulhosa e feliz! Sabia que não iria dizer não.

- Obrigada! - respondeu Anput cheia de alegria.

- Já veio pegar suas coisas e para levar para o Salão do Julgamento? - perguntou Hathor.

- Sim. - respondeu Anput - Não vejo porquê esperar. Embora sem dúvida sentirei falta de ouvir-lhe tocando algo diferente toda manhã.

A Morte Das Areias do SaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora