O Assassino de Seus Inimigos

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Eles são assim: São aqueles que agarram o cabo de reboque do barco de Rá quando ele sai da espinha do deus vivo. Eles são aqueles que rebocam este grande deus em seus caminhos (do) alto. São eles que causam o que aconteceu no céu, no vento na calmaria, na tempestade, na chuva.

~ Fragmento de "O livro do Amduat"

Às margens do Nilo, uma pobre gazela dava seus últimos suspiros enquanto uma leoa acabava com sua vida. As grandes e poderosas presas da leoa sujavam-se com o sangue da garganta da gazela enquanto a silenciava ao cumprir a cadeia alimentar. Com o serviço cumprido, a leoa ergueu a cabeça, lambeu os lábios e admirou o trabalho feito de forma solitária sem saber que nos arbustos que o vento balançava as folhas depois de tocar no rosto da leoa, algo estava escondido.

Dentre arbustos e árvores, aproveitando a proteção tanto destes como do vento que batia em seu rosto, Ramsés II colocava silenciosamente uma flecha em seu arco. Nem seu coração ou respiração faziam barulho, tal o controle e calma que ele estava agora. Ambos adquiridos com muito esforço e que certamente chamavam atenção em relação a sua idade de meros 16 anos. Ainda assim, era a primeira vez que caçava uma leoa e não queria que os soldados, escondidos mais além, tivessem que interferir em seu combate na tentativa de não deixar o herdeiro do trono morrer.

Ele sentia o suor escorrendo pelo seu corpo, fruto do calor que fazia mesmo nas margens frescas do Nilo, quando ele deixou a primeira flecha escapar do arco, atingindo a leoa com perfeição em cima do ombro. A leoa gritou, inconsciente de que a flecha só tinha errado a sua cabeça pois o ângulo que estava disponível para Ramsés II atacar não incluía a cabeça dela.

Antes que a leoa pudesse entender de onde a flecha tinha vindo, Ramsés II prontamente atirou uma segunda flecha. A leoa procurou a origem dos ataques, e o encontrou bem quando ele deixou a terceira flecha voar. O alvo era o rosto da leoa, mas infelizmente acabou acertando o peito quando ela pulou, rasgando a pele do peito dela num raspão levemente profundo, não o perfurando. Doloroso, com certeza, mas não letal.

- ALTEZA! - gritou um dos soldados, nervosos pelo perigo se aproximando do príncipe.

- Não interfiram ainda. - disse Ramsés, pegando rapidamente a lança que carregava nas costas.

- Tem certeza? - perguntou Amon-Rá na mente de Ramsés II.

- Tenho. - respondeu ele.

Ele ergueu a lança, apontando-a firmemente para a leoa em poucos segundos, pois a aproximação dela não lhe dava tempo para uma mira mais cuidadosa. Seus olhares se encontraram num mero segundo enquanto a fera se aproximava com velocidade e destreza inigualáveis.

Ramsés II atirou a lança com toda a força de seu braço. A arma cortou o ar ameaçadoramente fazendo as flechas anteriores não parecerem nada, mas mesmo que por pouco, a leoa desviou. Nesse momento, o coração dos soldados que acompanhavam o príncipe se apertou. Alguns deram um pequeno passo para trás numa ação involuntária para proteger a própria vida ao invés da vida do herdeiro do trono. Contudo, Ramsés II estava ainda calmo e confiante, mesmo considerando que logo teve que correr para abrir uma distância da leoa.

Ele sabia que não conseguiria ganhar do animal na corrida, mas tudo que Ramsés II precisava era de alguns metros e segundos para pegar a segunda lança que estava em suas costas. Armado e pronto, Ramsés II se virou no momento certo para se defender de um poderoso ataque da leoa, que pulava em sua direção.

Sem ter certeza se ele e a própria arma aguentariam a potência e o peso do animal se simplesmente acertasse com a lança no exato sentido oposto do pulo, ele fez um golpe diagonal que tanto forçou a leoa para o lado, como cortou-a na altura do ombro direito. Ela caiu com um baque e se ergueu mancando olhando para ele com expressão de puro ódio, ele retribuiu prestando atenção em cada movimento da leoa.

A Morte Das Areias do SaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora