Uma luta desigual

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O rei vestiu roupas de luto; ele e seus cortesãos, o sumo sacerdote e todos os sacerdotes de Mênfis, o exército do rei e a família do rei, estavam vestidos com roupas de luto e caminharam em procissão até o porto de Mênfis até a barcaça real. Quando chegaram ao porto, viram o corpo de Nefer-ka-ptah flutuando na água ao lado da barcaça, perto dos grandes remos-guia. E essa maravilha aconteceu por causa dos poderes mágicos de Nefer-ka-ptah; mesmo na morte ele era um grande mágico por causa dos feitiços que ele havia lavado o papiro e bebido na cerveja.

~ Fragmento de "O Livro de Thoth"

A escuridão da falta do sol era aterradora. Sem Rá, o sol não brilharia. Era como se tudo repentinamente tivesse se transformado na mais sombria e tenebrosa das noites, e a enorme cobra que, sem qualquer pingo de medo, agora peitava vários deuses, era a prova vida de que aquela noite deveria ser temida.

A maior parte da pouca luz que iluminava o deserto branco era vermelha, caótica, e vinha toda do caos que emanava de Apófis. Mas, no meio de tanta escuridão e vermelho, um pouco de dourado também era emanado de Hórus, Sekhmet, Bastet e Ptah que haviam invocado suas formas luminosas de 20 metros de altura, que ainda pareciam formigas perto de Apófis. Quando Anúbis e os demais chegaram, Hórus, Sekhmet, Bastet e Ptah encaravam Apófis com Hapi, que, embora não tivesse forma luminosa, conseguia ficar quase igualmente gigante ao formar-se com vários litros de água.

Mas, apesar da urgência da situação, os olhos de Anúbis procuravam desesperadamente por Anput. Afinal, Ísis havia falado que ela estava ali também. Outro nome que Anúbis notou que faltava, era Serqet. Assim, ele esperava para que a esposa estivesse junto com a deusa escorpião. Sentia-se mal em pensar quão não preparada para uma luta com Apófis Anput provavelmente estaria. Mas, por outro lado, provavelmente nenhum deus ali estava. E, como se para confirmar isso, Apófis mergulhou rápida e ameaçadoramente com a boca escancarada e as presas brilhando ameaçadoramente. O mergulho foi justamente na direção dos quatro deuses que encaravam-no.

O mergulho de Apófis causou um terremoto que foi sentido por Anúbis, Set, Sobek, Khonsu e Bes bem no momento em que os quatro primeiros invocavam também suas formas luminosas e gigantes com cabeças de seus respectivos animais.O que menos sentiu foi Set, pois no segundo seguinte já estava voando em direção à luta.

Com suas asas, Hórus rapidamente voou para longe do ataque. Bastet, com sua incrível habilidade felina, desviou com agilidade como se a luta fosse uma dança de balé. Sekhmet desviou-se por pouco e Hapi só não foi engolido por Apófis pois Ptah usou toda a sua força para aumentar o máximo possível de tamanho para que pudesse segurar a bocarra aberta de Apófis.

O fato de Ptah ter ficado lá segurando o ataque de Apófis, por mais que parecesse algo bem difícil de fazer, deu aos outros deuses tempo suficiente para preparar um ataque. Foi quando o corpo de Apófis começou a ser atacado por escorpiões que surgiam da areia que Anúbis viu Anput mais além, perto do corpo de Apófis. Ela estava puxando um desacordado Qebehsenuef, outro dos filhos de Hórus. Aparentemente ela não tinha sido a única deusa não tão importante assim à ir peitar aquela briga.

Anúbis imediatamente apareceu do lado dela desfazendo toda a sua forma gigante luminosa e, em perder um segundo, tirou magicamente Anput e Qebehsenuef de perto de Apófis sem ter um segundo para trocar uma palavra sequer. O que, obviamente, assustou Anput. Pois em um segundo ela estava puxando Qebehsenuef para longe de Apófis, e no outro ela estava em um lugar seguro a alguns metros de onde a briga acontecia.

- Você me assustou! - reclamou ela.

- Foi mal. - respondeu Anúbis percorrendo o corpo dela rapidamente com o olhar procurando algum ferimento, mas não vendo nenhum - Você está bem?

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