A majestade do palácio implorou as escadas do senhor dos deuses e instruções foram ouvidas do Grande Trono, um oráculo do próprio deus:
Explore as rotas para Punt, abra as estradas para os terraços de mirra,
e lidere uma expedição na água e na terra para trazer mercadorias exóticas da Terra dos Deuses,
para este deus que criou sua beleza.
~ Fragmento de "Expedição de Punt da Faraó Hatshepsut"
Liderar um império, não era fácil, mas Hatshepsut certamente fazia parecer que era para aqueles que não viam sua preocupação e cansaço escondidos pelas paredes do palácio e um rosto controlado. Vestir-se de faraó, e consequentemente de homem, era uma constante lembrança para todos de que ela era o faraó, não apenas uma rainha. Mas isso não significava que ela não tinha ainda uma necessidade ainda maior de se provar do que seus antecessores.
Os anos se passaram e, agora com 40 anos, a idade no rosto de Hatshepsut se misturava com a inteligência. No passar dos anos, Hatshepsut restabeleceu as rotas comerciais que foram interrompidas durante a ocupação dos hicsos, comissionou centenas de projetos de construção em todo o Alto e Baixo Egito, mais obras do que qualquer antecessor. Encomendou tantas estátuas que, quando vários séculos se passassem e o Egito Antigo fosse apenas um fantasma em museus e ruínas, quase todos os principais museus com artefatos egípcios antigos no mundo teriam estátuas de Hatshepsut entre suas coleções.
Podiam falar o que quisessem dela, mas ninguém podia dizer que o reinado dela não havia deixado o Egito cada vez mais rico. Quanto mais riqueza chegava no Egito, menos guerra e conflitos assolavam o povo egípcio. O reinado de Hatshepsut estava sendo marcado não só por muito comércio e obras, como também por muitos anos de paz.
Se alguém quisesse reclamar que ela não tinha pênis e por isso não era digna, ela também tinha um plano em execução para isso. Sabia bem que os faraós construíram enormes obeliscos, como raios de sol tocando a terra, que muitos usavam também de referência para o próprio pênis. Pois bem, Hatshepsut encomendou um obelisco que, com 41.75 metros, seria maior que qualquer outro obelisco já feito, pesando 1090 toneladas.
Hatshepsut havia começado a construir uma tumba para si quando ela era a Grande Esposa Real de Tutmosis II. Ainda assim, a escala não era adequada para um faraó, então, quando ela subiu ao trono, começou a preparação para outro sepultamento. Ela queria ser enterrada junto ao pai, de quem tanto sentia falta e cujos ensinamentos a fizeram a grande faraó que se tornou. Assim, ela começou a ampliar a tumba de Tutmósis I, a provavelmente primeira tumba real no Vale dos Reis, com uma nova câmara funerária.
Com Hatshepsut extremamente ocupada mesmo com a companhia de Hathor, cada vez mais alguns dos deveres da rainha eram executados por Neferure. Agora Neferure era uma jovem moça de 22 anos, no meio de uma gravidez. Mas, mesmo com a barriga que crescia, era uma mulher poderosa, esperta, estudada e gentil que seguia os passos da mãe.
Num dia insuportavelmente quente, Hatshepsut estava com os pés dentro da piscina do palácio usada para banhos enquanto duas serviçais abanavam ela e seu visitante com enormes leques em formatos de semi-círculos feitos com uma grande variedade de penas de várias cores. Seu visitante, não muito surpreendentemente, era Anúbis, que também se rendeu a colocar os pés dentro da piscina.
Não estava em nenhuma cerimônia, então não tinha porquê usar todo o traje completo de faraó com coroa e barba falsa, mas ela seguia usando as roupas faraônicas, que se resumiam basicamente a uma saia curta chamativa e elegante.
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A Morte Das Areias do Saara
Historical FictionAntes de as pirâmides serem construídas, as areias do Saara, as águas do Nilo e suas margens pertenciam aos deuses. E, dentre esses deuses egípcios que reinavam, protegiam e castigavam os humanos, existia um deus conhecido por sua ligação com a mort...