Um milênio

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Eles chegaram ao lugar onde Merab havia caído na água, e Ahura saiu da sombra do toldo e se inclinou sobre a lateral da barcaça, e a força de Rá a puxou de modo que ela caiu no rio afogado. Quando ela caiu, todos os marinheiros da barcaça real e todas as pessoas que caminhavam na margem do rio deram um grande grito, mas não puderam salvá-la. Nefer-ka-ptah saiu da cabine e leu um feitiço mágico sobre a água, e o corpo de Ahura veio à superfície, e eles o trouxeram a bordo da barcaça real. Então Nefer-ka-ptah leu outro feitiço e tão grande era seu poder que a mulher morta falou e contou a Nefer-ka-ptah tudo o que havia acontecido entre os deuses, que Thoth ainda estava em busca de vingança, e que Rá havia concedido seu desejo sobre o ladrão de seu livro.

~ Fragmento de "O Livro de Thoth"

Já tendo passado muito tempo com os outros deuses, Rá voltou à sua eterna luta contra Apófis nas profundezas do Duat enquanto Imhotep ainda tentava descobrir qual seria seu destino final. Quer sumisse ou seguisse como um deus, Imhotep já estava grato por ter visto a bela construção que foi o túmulo de Khufu, assim como adorou poder conversar, em segredo, com o arquiteto que a idealizou. Um encontro que o arquiteto prometeu manter em segredo. Como Khufu havia morrido pouco antes de sua pirâmide ficar pronta, foi Djedefre que, como faraó, fez o que pôde para que o túmulo do pai ficasse pronto dentro do tempo que demorava para sua múmia ser concluída.

Além disso, como faraó, Djedefre também deu seu melhor. Tal como esperado de qualquer outro, ele teve filhos e construiu seu túmulo. Em respeito ao desejo do pai, Djedefre não construiu sua própria pirâmide em Gizé, ao invés disso, escolheu um espaço em Abu Rawash para que a pirâmide de Khufu pudesse brilhar sozinha, bela e imponente em Gizé. Mas isso não significava que ele não tivesse construído nada em Gizé.

Em memória ao pai, Djedefre construiu uma esfinge à imagem do falecido Khufu cuja morte doía em seu peito. Com corpo de leão, o rosto de Khufu e os adornos de um faraó, a esfinge ajudava a montar o cenário quase místico de Gizé. Suas cores, principalmente azul e amarelo, do adorno da cabeça, e o marrom, do corpo, traziam mais vitalidade àquela região cuja mata lutava para conter os avanços do poderoso deserto.

Contudo, o reinado de Djedefre não durou muito. Mais rápido do que o esperado, a vida de Djedefre chegou ao fim. Quer Khafre tenha sido ou não responsável pela morte do irmão, o trono passou para ele depois que o filho de Djedefre não conseguiu o segurar por muito tempo também. Khafre, por outro lado, não seguiu o pedido do pai de que os filhos construíssem suas tumbas em outro lugar.

- Quero uma pirâmide em Gizé! Ao lado da de meu pai! - pediu Khafre imponente ao seu arquiteto no dia seguinte de sua coroação - Faça uma maior que a de meu pai.

- Meu faraó... outra construção como a pirâmide do faraó Khufu seria impossível. - disse o arquiteto - Não temos mais recursos para isso. Ou... tempo... provavelmente...

- Pegue então um ponto mais elevado então, para que a pirâmide pareça maior e para que possa economizar - sugeriu Khafre dando de ombros - Faça o que for, mas faça maior.

E de fato foi o que fizeram. A pirâmide de Khafre foi erguida logo ao lado da do pai. Um ponto mais elevado de terra fez a pirâmide parecer maior como se estivesse zombando de Khufu. Mas, de pé ao lado de cada uma, era possível ver que a de Khufu ainda era maior e mais imponente. Apesar das ambições e zombarias de Khafre, sua hora chegou tal como havia chegado para qualquer outro faraó antes dele.

- Eu nunca gostei de Khafre, - admitiu Thoth, na véspera do sepultamento de Khafre, debruçado sobre os papiros dos planos da pirâmide de Khafre que havia acabado de pegar emprestado para ver mais de perto - Mas tenho que reconhecer que ele foi esperto nessa. Conseguiu fazer uma pirâmide que de longe parece maior que a do pai, mas economizou em materiais e tempo.

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