Retorno

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Siga seu coração e sua felicidade.

Faça suas coisas na Terra como seu coração manda!

Quando chega a você aquele dia de luto,

o Cansado {Osiris} não ouve seu luto,

lamentando não salva nenhum homem da cova!

Fazer férias,

não se canse disso!

Lo, nenhum é permitido levar seus bens com ele!

Lo, ninguém que se afasta volta novamente!

~ Canção do túmulo de Intef, Império Médio.

Naquela dimensão vazia onde apenas o vento e as plantas existiam, o mais completo silêncio reinava. O único ruído era o barulho do vento mexendo nas folhas das plantas enquanto Anúbis admirava o Aaru. Eventualmente, ele deu as costas ao paraíso, vez o cetro em sua mão desaparecer e seguiu o mesmo caminho que tomou dentre as tochas para voltar ao salão, ainda sem nome, no qual havia deixado os outros deuses.

Quando ele atravessou o portal que levava de volta para o salão, a primeira a notar seu retorno foi Anput que abriu um sorriso que imediatamente trocou para uma expressão de leve surpresa.

- Você parece... diferente... de alguma forma. - disse Anput.

- Diferente? - perguntou Anúbis.

- É. Não é como se sua aparência estivesse diferente... é mais como... sei lá... não sei bem explicar - disse ela dando de ombros.

Pensativo, a mão de Anúbis foi para o singelo colar de ouro que agora estava em seu pescoço. Os olhos curiosos de Anput foram até a brilhosa peça antes de falar:

- Depois você vai ter que me contar tudo que aconteceu lá dentro. Eu tentei ir atrás de você, mas não consegui passar pelo portal.

Anúbis achou a informação de que ela tentou passar e não conseguiu levemente peculiar, mas sua atenção foi logo desviada para a discussão que acontecia entre Osíris e Ísis. Alheios com a volta de Anúbis, o casal discutia sobre algo enquanto Bastet já estava de braços cruzados aparentemente cansada da discussão embora um rápido desvio de olhar fez com que Anúbis notasse que ela tinha percebido que ele estava de volta. Alheio à tudo que acontecia, Thoth parecia bem empolgado com o ambiente que o cercava. Embaixo de seu braço, já estavam meia dúzia de rolos de papiro, outro aberto na mão direita, um pincel na mão esquerda, enquanto ele corria de um lado para o outro se jogando no chão anotando sabe se lá o que enquanto analisava cada centímetro do lugar.

- Entenda, meu amor, você não pode.... - dizia Osíris.

- O que me impede de ficar aqui?! Eim?! Sem você, não vejo porquê tenho que me contentar com o mundo terreno. - disse Ísis.

- Esse não é um lugar propício para a criação e o nascimento de uma criança. - disse Osíris tocando sobre o ventre de Ísis - Esse é um lugar de morte, não de vida.

Chorosa, Ísis abraçou seu marido e irmão. Carinhoso, Osíris passou a sua mão sobre a cabeça dela e ali depositou um doce beijo.

- E também, ainda tem o problema de Set... - disse Osíris.

- Não podemos deixar ele continuar com as loucuras dele - disse Bastet se encostando na parede ainda de braços cruzados.

- Segundo Anúbis, aparentemente ele está no palácio, possuindo o faraó Narmer - disse Thoth sem tirar os olhos de seu papiro.

A Morte Das Areias do SaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora