Conhecimento inesperado

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Salve, ó vós que fazes almas perfeitas para entrar na Casa de Osíris, faze da alma bem instruída de Osíris o escriba Ani, cuja palavra é verdadeira, para entrar e estar contigo na Casa de Osíris. Que ele ouça como você ouve; deixa-o ter visão como vedes; deixa-o levantar-se enquanto estás de pé; deixe-o tomar o seu lugar mesmo enquanto toma seus lugares.

~Fragmento do Livro dos Mortos

No meio do nada formato por centenas de milhares de grãos de areia amarelados banhados pela luz do sol, um chacal de pelagem completamente negra se espreguiçava. Já fazia dias que Anúbis procurava por qualquer pedaço do corpo de Osíris. Ísis, Anput, Néftis e Thoth também ajudavam embora Anúbis e Anput ocasionalmente interrompessem as buscas para cuidar de Neby que permanecia esperando na pequena residência de barro no Delta do Nilo. Certamente as buscas seriam mais complicadas se aqueles que buscavam precisassem de água e comida, mas não era o caso. Também precisavam de menos tempo de descanso mas, depois de horas, dias, fazendo exatamente a mesma coisa sem parar, era difícil não ficar um tanto desconcertado. Foi exatamente por isso que Anúbis parou e sentou-se no meio de um vale formado por morros de areia.

A forma de chacal do jovem deus foi logo substituída por sua forma humanóide que logo começou a coçar e soar o nariz que estava cheio de areia depois de ficar tantas horas cheirando por aí.

- Argh! - reclamou Anúbis largando-se ainda mais no chão até deitar completamente na areia.

O braço sobre seus olhos tentava proteger os olhos da claridade do sol assim como a tintura preta feita a base de um composto de sulfeto de chumbo que contornava seus olhos cansados depois de literalmente dias sem nem uma soneca. Interessantemente, não era pelo rapaz ser um deus que o composto de chumbo não o machucava, alguma coisa havia de misterioso na mistura que preparava o kal que impedia-o de ser tóxico.

Anúbis se sentou quando sentiu algo pinicando seu pé e então viu um escorpião que tentava inutilmente o picar mas sem conseguir fazer o ferrão ultrapassar sua pele. De forma despreocupada, apenas mexeu o pé se livrando do escorpião e então se espreguiçou voltando à sua busca em forma de chacal.

Depois de algumas horas, ele encontrou um cheiro que lhe foi familiar. Rapidamente começou a ficar mais animado quando começou a correr na direção do cheiro. Ele subiu uma duna de areia e então de lá ele pode ver, no meio da duna seguinte, algum objeto estranho. Trocando para a forma humanóide, ele se aproximou com cuidado subindo a duna seguinte com medo de que a areia enterrasse a tal coisa. Ao se aproximar, foi logo distinguindo as cores do objeto em questão. Azul, dourado, azul, prata, azul. Com cuidado, Anúbis pegou o objeto que logo se mostrou ser metade de uma mão. A pele azulada, o sangue prateado e a carne dourada não tornava a imagem menos grotesca, mas era essa imagem grotesca que deixou o jovem deus feliz ao encontrar aquela mão que exibia apenas metade de uma palma e três dedos.

Num piscar de olhos, Anúbis deixou o deserto para trás desaparecendo de lá e então reaparecendo na cabana de barro mantendo a mão azulada de Osíris firmemente protegida entre suas próprias mãos pálidas. Na cabana de barro, encontrou apenas Neby. Se aproximou do animal que se enroscava em uma soneca e fez carinho em sua cabeça com a mão esquerda enquanto a direita segurava o pedaço de Osíris. O animal recebeu o carinho de bom grado e então Anúbis sentou-se na cabana suspirando.

- Não podemos deixar isso aqui sozinho, Neby. - disse Anúbis - E se Set descobrir que estamos juntando os pedaços de Osíris?

- Eu posso ficar aqui de olho e ir embora caso qualquer coisa aconteça... - disse Anput entrando na cabana calmamente.

A Morte Das Areias do SaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora