Quando a criança cresceu, subiu ao telhado da casa e viu um cachorro, que seguia uma pessoa que passava pela estrada. Ele disse ao seu assistente, que estava ao lado dele: "O que é isso (segue a pessoa) na estrada." Ele disse a ele: "Isso é um cachorro."
~ Fragmento de "Papiro Harris 500"
A jovem Hatshepsut encarou aquele rapaz por alguns segundos bem confusa. Não precisava de muito para julgar ele como sendo alguém esquisito. Quantas pessoas entram assim no palácio do faraó, se recusam a se apresentar com uma desculpa tão estranha e diz que só está querendo conversar? Era muito estranho.
Mas, para piorar tudo isso, embora a princesa conseguisse olhar para ele e notar o quão bonito ele era, ela também se preocupava com a própria segurança. Era óbvio que ele não carregava nenhuma arma, e isso aliviava ela enormemente. Contudo, por algum motivo, ela tinha uma sensação desconfortável, que lhe arrepiava os cabelos da nuca, que se ele quisesse feri-la ou algo do tipo, ele não precisaria de nenhuma espada, adaga ou arco e flecha.
- Olha, desculpa dizer isso, - disse Hatshepsut - Mas é meio estranho o jeito que você chega aqui, deixa de se apresentar, e diz que só quer conversar.
- Eu sei... - respondeu ele suspirando e coçando a nuca - Mas eu me apresentar e explicar direito tudo provavelmente ia deixar as coisas ainda mais estranhas... ou levar a conversa para rumos que eu não estou com paciência de explicar no momento. Mas não vim lhe fazer mal algum, notei sua expressão de desconfiada. Foi mera coincidência eu passar aqui na frente da entrada do jardim e notar você chorando.
Hatshepsut suspirou e desviou o olhar para as suas mãos pousadas sobre o seu colo, provavelmente pensando em seu pai, o motivo daquele choro de antes ter começado. Talvez ela também estivesse precisando conversar para distrair a mente com alguma coisa.
-Não posso simplesmente confiar na sua palavra de que não tem más intenções... - disse Hatshepsut tentando focar-se na conversa como se esta fosse uma bóia salva-vidas - ou ao menos eu não deveria. Alguma coisa me diz que você não está mentindo.
-Realmente não estou. - disse Anúbis de certa forma aliviado de ela ter acreditado nele, isso deixava qualquer conversa bem mais fácil.
-Mas.... Ainda acho estranha sua escolha de lugar para procurar uma conversa. - insistiu ela com uma leve risada que morreu logo em seguida pois não chegava ao coração em luto - Não seria mais comum ir buscar algum irmão ou irmã? Quem sabe algum amigo?
-Eu sou filho único. - justificou ele dando de ombros e ela ergueu a sombrancelha surpresa.
-Isso é raro. - disse ela - Amigos então?
-Estão longe... - disse ele claramente meio desconfortável abaixando a voz a cada palavra - ... se é que contam ainda como amigos...
-Porque? Brigaram? - perguntou ela curiosa.
- Não... ao menos acho que não... - admitiu ele pensativo e não parecendo gostar muito dos rumos da conversa - Mas... não me sinto mais tão parte assim do grupo.
- Situação complicada pelo visto, mas acho que consigo entender um pouco. - disse ela não deixando de notar que talvez fosse melhor trocar de assunto - Senta... não parece ser muito legal ficar aí de pé.
Hatshepsut chegou um pouco mais para o canto do banco para dar mais espaço para ele mas, mesmo assim ele olhou para a metade vazia do banco em dúvida. Depois se encarar o espaço vazio com incerta por alguns poucos segundos, ele acabou por sentar-se lá mesmo.
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A Morte Das Areias do Saara
Historical FictionAntes de as pirâmides serem construídas, as areias do Saara, as águas do Nilo e suas margens pertenciam aos deuses. E, dentre esses deuses egípcios que reinavam, protegiam e castigavam os humanos, existia um deus conhecido por sua ligação com a mort...