O Vale do Indo

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Eles chegaram ao local onde Ahura e Merab haviam caído na água, e Nefer-ka-ptah sentiu o poder de Ra atraindo-o. Embora ele lutasse contra isso, ele sabia que iria conquistá-lo. Ele pegou um pedaço de linho real, fino e forte, e o fez em um cinto, e com ele amarrou o Livro de Thoth firmemente em seu peito, pois ele estava decidido que Thoth nunca mais teria seu Livro novamente.

~ Fragmento de "O Livro de Thoth"

Uma fraca chuva caía tímida pela área do vale marcado por um rio que corria de norte a sul até desaguar no Mar Arábico. O curso do rio era acompanhado por montanhas e também por uma floresta predominada por pastagens e pradarias naturais que traziam bastante verde apesar de não tantas árvores quanto traziam arbustos. Ali, logo às margens do rio que viria a ser batizado de Indo, uma grande cidade se erguia no que viria à ser o sul do Paquistão.

A enorme cidade de Mohenjo Daro tinha um tamanho impressionante para a época. Seus vários quilômetros quadrados eram divididos entre a cidadela e a cidade baixa sendo ambos cortados por um, para a época, sofisticado sistema de água e esgoto que levava água do rio para as casas da população e para o grande banho construído na cidadela. Apesar da chuva, era possível ainda ver pessoas pela rua onde quer que você fosse. Afinal, com mais de 30.000 pessoas morando dentro de sua área, era difícil encontrar uma rua vazia na cidade de Mohenjo Daro.

A cor da cidade era ampliada pelas vestes de seu povo. Os mais abastados eram os que conseguiam bancar as tangas, saias e xales de ombro com padrões mais detalhados e de tecidos refinados de algodão ou lã. Também eram os mais abastados que conseguiam bancar os colares, braceletes e anéis de ágata, ouro ou prata. Um ou outro homem ainda usava uma fina faixa ao redor da cabeça segurando um círculo de bronze no meio da testa enquanto algumas mulheres usavam vários colares de ouro e belas pedras de tons terrosos de comprimentos diferentes que faziam um trabalho medíocre e quase inútil em esconder os seios expostos.

Das jóias que o povo vestia, talvez a que mais chamava atenção, por sua diferença, dos dois egípcios que entravam na grande cidade, eram os finos anéis de nariz de tamanhos diferentes. Mas, assim como os dois egípcios olhavam com curiosidade e surpresa para a pequena argola de nariz que alguns habitantes de Mohenjo Daro usavam, os habitantes da cidade também olhavam com estranhamento para o delineador preto que ambos os egípcios usavam.

Caso o saiote de linho completamente negro de Anúbis e o elegante e esvoaçante vestido de linho branco de Anput já não os dedurassem o suficiente como estrangeiros, certamente a aparência dos dois lançava a maior das dicas. Afinal, o biotipo daqueles que moravam dentro dos muros de Mohenjo Daro possuía certas características em comum. Talvez o mais claro deles eram os cabelos extremamente pretos e lisos que adornavam rostos cujo tom amarelo-acastanhado que lembrava o bronze. Suas feições eram, no geral, mais finas, com exceção do nariz que era bem reto e abaixado. Assim, quando os dois deuses egípcios entraram na movimentada cidade, a aparência de ambos atraiu bastante atenção.

Os dois deuses andavam ao longo da longa rua, ladeada de casas feitas de tijolos de barro, que levava de um lado da cidade até o mercado central sem ligar tanto assim para a leve chuva que caía já que ela não era forte o suficiente para fazer muito mais do que deixar os cabelos úmidos.

- Espero que a chuva não aumente... - desejou Anput - Já estamos chamando atenção o suficiente sem ter que fazer nenhuma magia para não nos molharmos. E não quero que minha roupa fique encharcada.

- Acho que vai parar em breve mas vai piorar um pouco antes de ir embora... - disse Anúbis olhando para o céu sentindo as fraquíssimas gotas de chuva caírem sobre seu rosto.

Os dois conversavam tranquilamente enquanto entravam cada vez mais dentro de Mohenjo Daro. Era uma sensação engraçada e gostosa conversar em um idioma que ninguém ao seu redor conseguia entender. Certamente chamava atenção de quem passava, mas não era como se os dois deuses soubessem falar o idioma dali para ao menos fazer as pessoas encararem menos.

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