Então Nefer-ka-ptah estava ansioso em suas perguntas, e o sacerdote respondeu: "Thoth escreveu o livro com sua própria mão, e nele está toda a magia do mundo. Se você ler a primeira página, encantará o céu, a terra, o abismo, as montanhas e o mar; entenderás a linguagem dos pássaros do ar e saberá o que as coisas rastejantes da terra estão dizendo, e verá os peixes das profundezas mais sombrias do mar. E se você ler a outra página, mesmo estando morto e no mundo dos mortos, você poderá voltar à Terra da forma que já teve. E além disso, verás o sol brilhando no céu com a lua cheia e as estrelas e contemplará as grandes formas dos deuses.
~ Fragmento de "O Livro de Thoth"
Depois de sua aventura no templo, Minkhaf passou o dia pensando e discutindo suas opções com sua esposa, Ahura. Tinha que traçar logo o que deveria fazer, pois no dia seguinte tinha que ir visitar o pai que questionou de qual motivo fez o príncipe gastar tantas peças de prata. Minkhaf não gostou de ouvir que sua esposa era contra seus planos. Não vá nesta jornada, pois problemas e tristeza esperam por você na terra do sul."Não vá nesta jornada, pois problemas e tristeza esperam por você na terra do sul.", foi o que ela dissera. Mas ele iria em busca do livro de Thoth de qualquer jeito. Era sua esperança e Khufu já estava exigindo explicações para o gasto exorbitante de prata. E Minkhaf sabia, não conseguiria atrasar o encontro com o faraó por mais um dia. Assim, ele aproveitou o tempo que tinha o máximo possível e, quando chegou a hora, cruzou os corredores do castelo em busca do pai.
Passando pelos corredores elegantes de paredes do mais perfeito branco, Minhkaf foi para onde lhe disseram que o faraó Khufu estava. O poderoso faraó estava num cômodo bem arejado e ricamente adornado, assim como todos os outros cômodos reais, mas que passava uma sensação mais preguiçosa e calma. Talvez por causa da dona daquele quarto.
A ocupante daquele quarto era uma senhora de aparência frágil que estava sentada numa banhada à ouro. Seus cabelos grisalhos eram ralos e apesar da aparência frágil, seu olhar era forte. Sua pele enrugada tinha o tom marrom-claro amarelado tão parecido com o mineral rutilo e tão mais claro do que o tom de pele de seu filho que agora lhe segurava a mão enquanto se sentava na cadeira banhada à ouro ricamente adornada com padrões enfeitando as duas faces das cotas.
- Oh, um de meus netos veio me visitar? - disse a mulher ao notar a chegada de Minkhaf.
Diante da fala da mulher, seu filho, Khufu, virou-se na cadeira para olhar para Minkhaf no portal de entrada do cômodo. Vendo o olhar sério do pai, Minkhaf se encolheu levemente ao entrar no cômodo e o fato foi notado por sua avó que soltou uma risada fraca.
- Ora menino, o que aprontaste agora? - perguntou a mulher - Geralmente são seus irmãos que aprontam. E já não estão velhos demais pra essas coisas?
- Não estou aprontando, minha querida avó. - defendeu-se Minkhaf - Estou apenas com ideias para o melhor futuro do império.
- Hum... conte-me mais... - disse a mulher com uma voz bem fraca e cansada.
- Deixe disso, mãe. - disse Khufu de forma carinhosa gentilmente acariciando a mão decrépita da mãe - Tem que descansar, não se preocupar com problemas. Já se preocupou bastante com eles por muitos anos.
- Por mais velha e acaba que eu esteja garoto, e sei disso, ainda ocupo o cargo mais alto dentre seus conselheiros. - disse ela ralhando com o filho que simplesmente abriu um pequeno sorriso.
- E que conselhos. - disse Khufu - Seria meu fim ir contra eles.
- Ainda bem que sabe disso. - disse a mulher orgulhosa mas logo olhando para o neto com um pequeno sorriso - Quer saber de um segredo.... Minkhaf? ... era Minkah né? Minha memória não é mais como antigamente. E não ajuda esse meu filho ter me dado tantos netos. Pois bem... Não importa quanto os faraós falem que ninguém está acima deles ou que não escutam ordens de ninguém, todo mundo sempre acaba escutando a própria mãe.
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A Morte Das Areias do Saara
Ficción históricaAntes de as pirâmides serem construídas, as areias do Saara, as águas do Nilo e suas margens pertenciam aos deuses. E, dentre esses deuses egípcios que reinavam, protegiam e castigavam os humanos, existia um deus conhecido por sua ligação com a mort...