Chegando ao Egito em paz até Pi-Ramsés-Grande-das-Vitórias, e descansando em seu palácio de vida e domínio como Rá que está em seu horizonte, os deuses desta terra vindo até ele adorando e dizendo: ' Bem-vindo, nosso amado filho, o Rei do Alto e Baixo Egito, Usima're'-setpenre', o Filho de Rá Ramsés e eles deram a ele milhões de festivais Sed para sempre no trono de Rá, todas as terras e todos os países estrangeiros caíram prostrados sob suas sandálias por toda a eternidade.
~ Fragmento de "Registro egípcio oficial da Batalha de Kadesh, Poema do Pentauro"
Mais um dia raiava no Egito e, para a mãe de Kheti, era mais um dia triste e sem notícias de seu filho desaparecido. Na laje de sua casa simples, mas espaçosa, com roupas já secas penduradas balançando com o vento e esperando para serem recolhidas pela mulher, a mãe de Kheti abraçava uma figura de barro do deus Bes.
Com olheiras pesadas e um olhar de dar dó, a mulher pousou a estátua no chão com delicadeza e se ajoelhou diante da figura. Ela respirou fundo e por um segundo fechou os olhos enquanto uma lágrima escorreu pela bochecha dela. Se perguntando se ainda teria lágrimas pelo filho desaparecido no dia seguinte, depois de tantos dias sem notícia, ela se prostrou diante da figura de Bes.
- Por favor, protetor dos lares... - dizia a mulher com a voz chorosa - Proteja o meu filho e faça com que ele volte em segurança para casa. Ele é um bom garoto.
Obviamente, ela podia até achar que suas preces não estavam sendo ouvidas pelo deus, mas na verdade ele estava escondido, invisível e silencioso por magia, logo atrás dela. Mas, o que a mulher não iria nem conseguir imaginar, era que dessa vez o deus não estava sozinho.
Bes suspirou e ergueu o olhar ao olhar para o deus ao seu lado, Anúbis. Os dois estavam com uma expressão de tristeza e pena pela pobre mulher, pois sabiam que a notícia que estavam prestes a dar para ela era a pior possível que uma mãe pode receber.
- Ela tem rezado todos os dias desde que o filho sumiu. - explicou Bes.
- Você recebe muitas preces assim? - perguntou Anúbis - De crianças desaparecidas.
- Às vezes. - admitiu Bes - E de outras coisas ruins também. Não é fácil ser um protetor. Mas você também deve receber preces difíceis de escutar assim, não?
- Não desse jeito... com tanta esperança e dor ao mesmo tempo. - respondeu Anúbis - Quando estão pedindo para proteger a alma, a esperança de a pessoa voltar viva não faz mais sentido e só resta a esperança de a alma seguir para o Aaru. Mas essa esperança dela, sendo que não vão vir notícias boas... ela é muito triste.
- Pronto então para acabar com o sofrimento sem fim dela, garoto? - perguntou Bes soltando um pesado suspiro ao olhar para a mulher que soluçava.
- Não muito... - admitiu Anúbis - Mas vamos...
Bes foi o primeiro a se mover, indo até a mulher e lentamente colocando a mão no ombro dela enquanto a magia que os escondia desaparecia. A mulher se sobressaltou em meio ao susto, e se virou para ele. Com os olhos vermelhos e inchados focados em Bes, a mulher demorou para perceber Anúbis e ajoelhando do outro lado dela. Ao notar que havia mais alguém ali, ela se sobressaltou novamente e virou rapidamente o rosto para Anúbis.
Ela ficou uns segundos em silêncio. Sua boca abrindo e se fechando sem som enquanto a conclusão óbvia de logo Anúbis estar ali se formava em sua cabeça. A demora foi devido ao simples fato que ela não queria aceitar, não queria acreditar que só havia um motivo para, depois de suas preces pela segurança do filho, Bes ter ido visitá-la justamente com Anúbis. Também não havia como não reconhecer ambos. Pelas vestimentas, na pior das hipóteses eram pessoas extremamente ricas, mas isso aliado ao fato de ser um anão e um homem com cabeça de chacal, eliminava qualquer dúvida.
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A Morte Das Areias do Saara
Historical FictionAntes de as pirâmides serem construídas, as areias do Saara, as águas do Nilo e suas margens pertenciam aos deuses. E, dentre esses deuses egípcios que reinavam, protegiam e castigavam os humanos, existia um deus conhecido por sua ligação com a mort...