Dias de luta, dias de glória

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Quando as Hathors Pareae vieram saudá-lo em seu nascimento,

elas disseram que ele morreria ou por um crocodilo, uma serpente ou por um cachorro.

Quando as pessoas que estavam perto da criança ouviram isso,

foram e contaram essas coisas a Sua Majestade.

~ Fragmento de "Papiro Harris 500"

Ter se livrado de Apófis não significava que os problemas do Egito tivessem acabado. Seus deuses e seu povo ainda tinham que lidar com uma seca cruel que ceifava a vida daqueles que não tinham mais comida suficiente para se alimentar Além disso, a guerra que acontecia entre os poderes do Baixo e Alto Egito não ajudava em nada a situação.

Consequentemente, o submundo ainda estava abarrotado de almas para julgar e os mortais rezavam por uma cheia, por muita chuva ou pelo fim das guerras, totalmente ignorantes da batalha contra Apófis que havia acontecido. Felizmente, os pedidos por água poderiam ser solucionados em breve, pois alguns poucos meses depois do confronto contra Apófis, Sobek voltou e logo em seguida Hapi também. Podia ter sido um ano terrível, mas ao menos a cheia do ano seguinte estava garantida desde que problemas grandes não acontecessem novamente.

Agora com Rá com menos funções numa quase aposentadoria, mais problemas era algo que nem mesmo Set queria. Ele podia até gostar de criar caos e estresse para os outros deuses, mas se tinha alguém ao qual ele era leal, esse alguém era Rá. Seja Rá ou Amon-Rá, Set pretendia continuar seguindo o deus do sol.

- Sabe o que a gente merece depois que tudo ficar mais calmo? - perguntou Sekhmet certo dia entrando no Salão do Julgamento irritada - Férias.

- Infelizmente... eu vou ter que concordar... - respondeu Thoth com um suspiro - Mas isso não é tão fácil assim para nós.

- E você, garoto... - disse ela apontando para Anúbis que estava cuidando da vida dele, alheio ao ataque de estresse da deusa, preparando a balança para mais um julgamento - A seca pode ter acabado, mas ainda temos uma guerra civil e os vizinhos não vão deixar a gente em paz. Ainda vai ter muito morto vindo. Se eu fosse você, deixava que os mortais mumificassem todos os corpos mesmo... ou os deixassem largados na areia.

- Não vou fazer isso... - respondeu Anúbis já cansado dos outros deuses falando isso - A pessoa não vai conseguir chegar aqui.

- Mesmo em situações ideais, sem tantos problemas, - dizia Sekhmet - os pobres não conseguem pagar uma mumificação e enterro decente em nenhum lugar, não faz tanta diferença assim, está só se ocupando mais ainda. Se você conseguisse mumificar toooooooodo mundo, faria até mais sentido.

- Dia após dia o nível da água do Nilo sobe mais... - respondeu Anúbis - Logo será ano novo e a fome deixará de ser um problema tão grande.

- Quem será que mata mais? A fome ou a guerra? - perguntou Sekhmet zombeteira - Cada vez é uma que ganha da outra.

- Não duvido da capacidade sanguinária das suas guerras... - respondeu Anúbis dando de ombros - Só estou falando que é um problema a menos.

E assim, quando o ano novo chegou e, embora o povo não tivesse muitos recursos para fazer festas muito grandes para receber a volta das cheias do Nilo, a alegria do povo foi enorme. Afinal, Ano novo significava cheia do Nilo e cheia do Nilo significava a volta das plantações.

Com o problema da água resolvido, a maior preocupação tornou-se o império dividido, apesar de alguns problemas constantes com os vizinhos. Preocupados, alguns deuses já apostavam, sem muita esperança, qual seria o governante capaz de unir o Egito novamente. Alguns diziam que era uma aposta cruel, outros que era uma aposta simplória que tentava manter o fio de esperança de que alguém seria de fato capaz de unificar o Egito novamente, tal como Narmer havia feito já mais de mil anos atrás.

A Morte Das Areias do SaaraOnde histórias criam vida. Descubra agora