**Capítulo 67**

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No carro, por muito tempo, nenhum de nós dois abriu a boca pra falar do que tinha rolado.

Mas no fundo, eu sabia que ele estava se segurando pra não me mandar abrir a boca logo.

Estava tentando dar meu tempo. Eu acho.

E por incrível que pareça, eu... não estava me sentindo tão mal assim por ter matado uma pessoa e ajudado a enterrar.

Tentava colocar na cabeça que era melhor ele, do que eu. E com certeza era.

Meu peito estava um pouco apertado, mas nem tanto. Angústia tinha sumido e arrependimento nem chegou a me consumir.

Achei que seria pior. Sei lá, iria entrar em um poço sem fundo por conta disso.

Mas aquele cara não era um inocente. Ele queria me machucar. Uma hora ou outra ele iria me machucar.

Então tive que agir primeiro. Fui obrigada por mim mesma a matar ele primeiro, antes que ele me matasse.

Rafaelly: Ronaldo apareceu...

Wellington tirou a atenção da estrada na hora para me olhar de olhos arregalados. Seu rosto por um momento ficou pálido.

Rafaelly: Ele me sequestrou junto com o Pedro... - arregalei os olhos na hora. - Puta que pariu, o Pedro.

Por momentos eu tinha esquecido completamente do Pedro. Caralho.

Minhas mãos ficaram trêmulas por já estar pensando no pior.

Puta merda.

Neguinho: Ele sequestrou vocês aonde, porra? Na favela?

Eu engoli em seco. Neguei com a cabeça.

Rafaelly: No shopping da Paulista, quando eu... fui me encontrar com um carinha que conheci... por aí.

Pelo olhar que ele me lançou, eu já sabia que ele estava raciocinando tudo.

Neguinho: Vai se foder. - xingou, apertando o volante com força. - Caralho Rafaelly, o que foi que eu te pedi, porra?

Virei meu rosto na direção da janela, mantendo meu olhar nas coisas que passava por nós naquela estradinha de terra.

Neguinho: Eu te pedi pra não ficar naquele site do caralho, porque uma hora ia dar merda. E tá aí, a merda. - seu tom de voz era um pouco mais alto que o normal.

Eu continuei calada, até porque naquele momento eu estava errada. Eu tinha realmente feito a merda toda acontecer.

E deveria sim ter escutado o Neguinho em relação aquele site. Mas resolvi ignorar.

Neguinho: Você podia estar morta agora, Rafaelly... - sua voz agora soou baixa. - Porra, tu tem noção como geral ia ficar? Como eu ia ficar, caralho?

Rafaelly: Desculpa, ok? - olhei para ele novamente. - Eu só queria ajudar o Magrão...

Neguinho: O que o Magrão tem haver com isso? - franziu a testa, com o olhar preso na estrada a frente.

Rafaelly: O advogado dele vai tentar recorrer na justiça atrás de pagar uma fiança para o Magrão sair de lá... - contei, sem rodeios. - Porra, eu queria ajudar, sabe? Sentia que minha obrigação era ajudar ele.

O carro parou por alguns instantes no final da estrada que dava acesso a avenida. Tinha bastante carro passando naquele horário, então Neguinho ficou esperando por uma brecha para entrar na avenida.

Ele levou seu olhar até mim.

Neguinho: Era só vir falar comigo, Rafaelly. Eu ia tentar arranjar o dinheiro pra ajudar ele, na boa.

Rafaelly: Eu queria tentar ajudar alguém sozinha. E a gente... - dei uma pausa, respirando fundo  - As coisas não estavam boas. Não queria ser aquela chata que fica atrás do macho enchendo o saco por qualquer coisa.

Neguinho: Rafa, tu sabe que nunca vai estar enchendo meu saco vindo atrás de mim. Ainda mais por isso.

Eu engoli em seco, balançado a cabeça.

Neguinho: E eu já estou dando um jeito do Magrão sair de lá logo, com a ficha limpa. Relaxa.

Wellington acelerou o carro entrando naquela avenida em direção a São Paulo.

Tudo ao redor era mato e eu não fazia ideia da onde é que eu estava.

E olhando para aquelas árvores que passávamos, eu lembrei do que o Ronaldo tinha dito naquele estacionamento...

Rafaelly: Wellington. - chamei ele. - O Rafael... ele tá vivo?

Neguinho: O que? - seu olhar se manteve preso na avenida, mas suas mãos apertaram o volante novamente.

Rafaelly: O Ronaldo deixou a entender que o Rafael está vivo. - suspirei, cruzando os braços. - Não mente pra mim, Wellington. Ele está vivo?

Neguinho: Não, porra, não. - negou com a cabeça. - Esquece essa parada. Não é bom ficar criando esperanças falsas.

Meu olhar se demorou nele, vendo sua expressão estranha, e suas mãos ainda apertando o volante de leve.

Pensei em falar pra ele sobre o Ronaldo querer o diário do Rafael, mas pensei melhor e deixei isso quieto.

Até porque quem iria atrás daquele diário agora seria eu.

Provavelmente lá tinha alguma coisinha que confirmava a morte do Sinistro, ou que ele realmente estava vivo...

E eu precisava saber a verdade.

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