• Neguinho •
Ver a Rafaelly naquele estado, tentando puxar o ar com força e não conseguindo respirar direito, me desesperou.
Fiquei sem saber o que fazer naquela porra.
Garota batia a mão no chão, com a outra sob o peito.
Tia Ana pedia para ela se acalmar e puxar o ar com força, mas nada adiantava.
Neguinho: Rafaelly, olha aqui pra mim. - pedi baixinho, me ajoelhando ao lado dela. - Olha aqui.
Ela demorou, mais acabou levantando o olhar pra mim. Estava distante, sem brilho algum.
Neguinho: Tenta respirar junto comigo, contando até dez. Devagar. - pedi.
As lágrimas rolavam por sua bochecha, e seu rosto estava inchado. Só se conseguia ver o desespero naquele olhar.
Neguinho: 1, 2, 3...- comecei a contar, enquanto inspirava o ar ao meu redor lentamente.
Ela tentava me acompanhar a todo custo, enquanto eu mantinha meu medo e desespero longe para não assusta-lá.
Neguinho: Expira lentamente pela boca. Sem pressa. - pedi outra voz, e ela obedeceu. - Eu tô aqui contigo...
Seu olhar cruzou com o meu e na boa, rolou maior parada dentro do meu peito naquele momento.
Fiquei vidrado naquele olhar. Hipnotizado mesmo.
Mas tive que desviar, voltando a me concentrar na respiração dela. Apenas na respiração.
Rafaelly foi se acalmando aos poucos, voltando a respirar normalmente.
Neguinho: O que você está sentindo é assustador, mas não é perigoso. Não pra você. - falei ainda com a voz baixa.
Ela sentou no chão com as pernas cruzadas, ainda respirando devagar, com a mão sob o peito.
Ana: Filha, pelo amor de Deus... tá melhor?
Rafaelly concordou com a cabeça, puxando o ar novamente.
Continuei ajoelhado ao seu lado, monitorando cada respiração dela. O desespero batia em mim, mas eu trancava ele no fundo para não piorar tudo.
Rafaelly ainda chorava, mas já estava melhor que alguns minutos antes.
Rafaelly: Eu preciso ir ver o Pedro...
Neguinho: Você precisa é se acalmar, porra. Relaxa que ele já está no hospital.
Rafaelly: Mas...
Neguinho: Mas nada. - interrompi ela. - E outra, a mãe do moleque não tá querendo nem te ver. Deixa que eu resolvo essa parada. E só quando ele estiver de boa, tu vai ver ele.
Ela não disse mais nada. Nem tentou insistir porque já sabia que não ia dar em nada.
Continuei ali do lado dela até ela se acalmar de vez. Depois ajudei ela ir deitar no quarto.
Tia Ana foi esquentar a comida, me deixando sozinho com Rafaelly no quarto.
Neguinho: Descansa um pouco, e mais tarde nós troca uma idéia sobre essa parada com o Ronaldo. Pode ser?
Ela concordou com a cabeça.
Neguinho: E na boa Rafaelly, não sai daqui por nada. Vou mandar uns caras ficarem de vigia por aqui, mas não sai.
Rafaelly: Fica de boa, Wellington. Não vou sair.
E o silêncio recaiu entre nós dois. Meu olhar estava grudado no dela. Não consegui desviar e muito menos sair daquele quarto.
No quarto aonde coloquei tudo pra foder quando beijei essa menina. Aonde tudo começou a mudar.
Rafaelly: Sei que agora esse não é o momento, mas... será que depois tem como nós resolver tudo entre a gente? Não pra gente voltar, digo. Mas para não ficar tudo esquisito.
Neguinho: Claro pô. Sem problemas. - balancei a cabeça. - Quando essa merda toda passar, nós troca uma ideia.
Ela fechou os olhos, se ajeitando na cama para poder dormir um pouco. E aquela foi a minha deixa.
Sai de lá fechando a porta e só abracei a tia antes de sair da casa.
Entrei no meu carro e parti para casa da Naya buscar o William.
******
William: Eu quero ver a tia Rafa...- pediu pela décima vez, balançando meu braço.
Neguinho: Ô moleque do caralho, dá um tempo, pô. Ela tá malzona, relaxa. Depois te levo lá, rum. - bufei, cruzando os braços. - Come essa parada aí logo, menor.
Moleque olhou pro lanche em sua frente, na mesa da lanchonete da favela, e negou com a cabeça.
Neguinho: Ala, vou fazer tu engolir essa porra aí. Tô te avisando.
Então ele comeu, metendo maior marra, todo emburradinho. Era filho meu mesmo, ala.
Meu celular tocou e quando vi de quem era o número, já atendi.
Ligação:
Neguinho: Fala, pô. Qual foi?
Magrão: Chegou parada errada aqui, irmão. Como assim Rafaelly sumiu? - sua voz era baixa, mas com um tom forte de medo.
Neguinho: Ih, maior caô. Mas ela já está em casa de boa.
Ouvi o suspiro dele aliviado. E logo comecei a contar a parada toda sobre o Ronaldo e aquele diário do caralho.
E acabou que no final Magrão tava metendo a mesma paranóia que a Rafaelly.
Magrão: Se o putão tiver vivo, eu meto a porrada nele pra matar de verdade nessa porra. Euem.
Neguinho: Ele não tá vivo, Magrão. Tô falando, pô. Se liga. - eu engoli em seco, soltando uma risada baixa logo em seguida.
Magrão: Rum. - murmurou, e não disse mais nada por alguns minutos. - E o que tu vai fazer com o Ronaldo?
Neguinho: Matar. Sem a tia Ana saber. - suspirei. - Vou fazer aquele filho da puta queimar no inferno. Logo mais, pô.
Magrão: Tem como esperar eu sair da cadeia não? Na boa, nunca vi ele, mas mataria com gosto.
Neguinho: Nem da, pô. Se eu enrolar, quem morre é eu...
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Lance Proibido
RomanceA Razão nos contém dos nossos desejos proibidos... A vontade se cala, mas não se acaba... Hoje a emoção é amiga da Razão. Mas se a vontade falar mais alto e a emoção trair a razão... Amanhã vai sair na primeira edição, um crime de paixão...