Fiquei encarando o Neguinho por maior tempo, com um bico enorme, tentando ver algum resquício de brincadeira em sua expressão facial.
Mas ele estava sério. Sério como eu nunca tinha visto antes.
E meu peito estava apertado, com uma leve dorzinha lá no fundo depois de ouvir ele falando aquilo.
Rafaelly: Matar? Como assim matar, Wellington? - me afastei mais dele, levantando da cama.
Nenho: Na boa? Isso nem vem ao caso agora...
Rafaelly: Vem sim! Então pode ir falando, porque eu não estou entendendo nada. O que você morrer tem a haver com o nosso lance?
Ele negou com a cabeça, nem fazendo a questão de me responder, e eu continuei encarando ele, agora também séria.
Rafaelly: Tem como me responder? Me explicar essa merda toda? Por eu já estou cansada de ficar no escuro quando o assunto é sério.
Neguinho: Essa parada não tem explicação. A gente só não tem mais que continuar saindo, e já era! Nossa relação vai ter que voltar a ser como era antes, na tranquilidade ou na marra.
Na hora em que ele disse aquilo, coloquei minhas mãos na cintura, jogão minha cabeça para trás, enquanto soltava uma risada repleta de ironia.
Rafaelly: Depois de tudo, você ainda vem pedindo isso, Wellington? Se era pra ter esse final, por que me infernizou tanto pra começar essa parada, porra?
Neguinho: Porque antes eu queria ficar contigo, Rafa. Te desejava...
Rafaelly: E agora não me quer mais? Do nada, Wellington? - perguntei baixo, engolindo o choro que se prendeu em minha garganta.
Neguinho: Você não me ouviu dizer que...
Rafaelly: Já estava ficando "rendido" por mim? - fiz aspas com o dedos. - Caralho Neguinho... você me fez se envolver contigo, me deixou criar sentimentos por você... pra isso?
Neguinho: Rafa, eu pedi pra ti não envolver sentimento nisso, porque você sabe que nós dois nunca daria certo. E você disse pra mim que não estava rolando nada, caralho.
Rafaelly: Eu menti, Wellington. Eu menti! E isso estava óbvio.
Neguinho: Mas não pra mim... acreditei em você naquele dia, mas depois de ouvir você falando com o Magrão, eu...
Meu olhar cravou nele, que se calou no mesmo instante que seu olhar bateu com o meu, e sinceramente? Só queria voar no pescoço dele, já sabendo como que ele tinha escutado a minha ligação com o Magrão.
Filho de uma puta esse desgraçado!
Rafaelly: Você... você grampeou meu celular de novo, porra? - gritei, me expludindo de uma vez. - Qual é o seu problema, Wellington? Isso é tão... tão abusivo, véi.
Neguinhi: Teu celular tá grampeado desde o dia que vi a notificação daquele site do caralho. - suspirou pelo nariz, falando aquilo como se fosse a coisa mais normal no mundo.
Fechei meus olhos, sacudindo minhas mãos rapidamente, repirando bem fundo tentando me acalmar para não estrangular esse cara ali mesmo.
Eu jurava que ele tinha tirado o grampo do meu celular, já que ele tinha me mostrado que não estava mais pegando meus dados, só que ele mentiu. Esse arrombado mentiu!
E caralho, ele ficar me monitorando desse jeito é tão doentio!
Neguinho: O teu irmão, antes de morrer deixou um bagulho com os caras da facção pra eu assinar... - começou a falar, mas eu nem fiz questão de olhar para ele. - Eu acabei assinando e nessa parada me fazia prometer, pela facção e pelo meu sangue que eu jamais iria tocar em você com segundas intenções. Com maldade...
Eu olhei pra ele na hora, sentindo meu coração diminuir as batidas por alguns segundos, me deixando sem ar.
Neguinho: E que se caso eu quebrasse esse "contrato" que eu assinei... - fez aspas com os dedos, respirando fundo. - ... É para os caras da facção me cobrarem da pior forma que podem, ou seja... me matando!
Assim que aquelas palavras saíram de sua boca, senti meu peito se apertando, e a falta de ar crescendo. Meus olhos se encheram de lágrimas, e segundos depois elas começaram a cair por meu rosto, uma atrás da outra.
Nguinho: Um mano aí que sabia dessa porra descobriu, e veio me cobrar essa parada. Tô desse jeito aqui por vacilo mesmo, porque não consegui segurar o desejo que eu sentia por você, não consegui ficar na minha me contendo desse caralho.
Wellington bufou, fechando os olhos por alguns segundos, e logo abriu eles novamente, trazendo seu olha até mim, que continuava em estado de choque depois de ouvir toda essa parada.
Ele poderia morrer por mim! Por minha causa!
Isso era a única coisa que rondava por minha cabeça, junto com a imagem dele morti em minha frente.
O medo em mim cresceu, fazendo mais lágrimas caírem de meus olhos.
Minha única reação naquele momento foi me aproximar dele, metendo vários tapas em seu peito, enquanto eu chegava a soluçar de tanto chorar.
Rafaelly: Imbecil! Otário do caralho! - gritei, socando seu ombro, logo ouvindo seu gemido de dor. - Qual o seu problema Wellington?
Me afastei dele, passando minhas mãos por meu rosto, em uma tentativa falha de secar minhas lágrimas, que não pararam de cair sequer por um momento.
Rafaelly: Você pode morrer por minha causa...- disse baixinho.
Neguinho: Não Rafaelly, eu posso morrer por vacilo meu. Não deveria ter me aproximado de você com maldade, querendo te tocar na segunda intenção.
Rafaelly: Mas você fez, e acabamos indo muito a diante, e com isso você assinou sua sentença de morte de uma vez, imbecil. Se você tivesse me falado isso, eu jamais teria cedido naquele maldito dia dentro do seu carro.
Neguinho: Ala, vai se arrepender dos bagulho mermo? Iih...
Rafaelly: Vou me arrepender sim! Porque por conta disso o William pode te perder, Wellington. Eu posso te perder...
Neguinho: Nem o William, e nem você vão me perder, Rafa. Eu vou dar meu jeito, só que não vai dar mais pra gente continuar levando nosso rolo.
Rafaelly: E nem eu quero mais, Wellington. Tudo o que a gente tinha, ou não tinha, tá acabando aqui de uma vez. Não quero ter que acordar com a notícia que tiraram você de mim...
Coloquei minhas mãos no meu rosto, chorando ainda mais com um aperto enorme no meu peito. Ouvi o Wellington se levantando da cama com dificuldade, gemendo de dor, mas nem dei o trabalho de olhar pra ele.
Senti os braços dele abraçando meu corpo, automaticamente fazendo minha cabeça encostar em seu peito.
Neguinho: Tenta seguir tua vida como você estava seguindo antes de tudo começar. Continua sendo essa menina foda que você é, que uma hora, você vai achar uma outra pessoa que te faça bem de verdade, que possa viver do teu lado na maior paz. E na moral, por favor mermo, só esquece que um dia isso entre nós dois já aconteceu...
Rafaelly: É impossível...
Neguinho: Nada é impossível pra ti, Rafaelly. Você sabe disso, pô. Tu sabe.
Me afastei um pouco dele, olhando em seus olhos, e ali consegui sentir que ele não queria esse fim também. Que ele queria continuar nosso lance, mas infelizmente não dava mais.
Wellington deu um beijo em minha testa, outro em minha bochecha, e em vez dele beijar minha boca como ele sempre fazia, ele ficou olhando para a mesma, em silêncio. Mas logo fechou os olhos, se afastando mais de mim.
Olhei bem pra ele, secando minhas lágrimas, e dei as costas, saindo daquele quarto, com a sensação de medo de perder ele, misturado com um pouco de tristeza por ali ter acabado tudo entre a gente de uma vez.
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Lance Proibido
RomanceA Razão nos contém dos nossos desejos proibidos... A vontade se cala, mas não se acaba... Hoje a emoção é amiga da Razão. Mas se a vontade falar mais alto e a emoção trair a razão... Amanhã vai sair na primeira edição, um crime de paixão...