Capítulo 6 - Magoados

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Astrid estava irritada, não se preocupou em limpar os pés antes de entrar em casa, bateu a porta com força ao fechá-la e mantinha uma expressão emburrada em seu rosto. Percebeu que seu pai estava na cozinha preparando o jantar, ele cortava alguns legumes e havia uma panela no fogo, provavelmente iria fazer sua especialidade, sopa com carne de iaque.

- Astrid onde estava? – ele ergueu o olhar para ela apenas por alguns segundos e voltou sua atenção para os legumes que cortava – Preciso da sua ajuda para fazer o jantar.

- Aonde está a mamãe? – Astrid perguntou seca, ignorando a pergunta de seu pai.

- Está no quarto, estava com dor de cabeça, então foi se deitar um pouco – Ingvar percebeu que a filha continuava parada próxima à porta com os braços cruzados – o que está fazendo aí, preciso de ajuda, esses legumes não vão se cozinhar sozinhos, se bem que acho que já são bem grandinhos para ainda precisarem de ajuda.

Ao perceber que sua filha não tinha rido da péssima piada que tinha acabado de contar, Ingvar deixou a faca na mesa e se aproximou de Astrid.

- Aconteceu algo? Você não me parece bem.

- Por que não me contaram da profecia? – ela foi direto ao assunto.

- Profecia? Não sei do que está falando Astrid – o rosto de Ingvar ficou vermelho e ele começou a ter dificuldade para respirar, sabia que esse dia chegaria, mas não esperava que chegasse tão cedo.

E lá estava ele, o grande e temível guerreiro, com dificuldade para responder uma simples pergunta, da mesma forma em que se sentiu há oito anos, quando sua pequena loirinha o perguntou de onde vinha os bebês.

- A profecia que fala que eu vou ser responsável por destruir Berk – os olhos dela se encheram de lágrimas – a profecia que fala que eu vou causar dor e sofrimento, a profecia que fala que eu entrarei em um caminho de trevas e solidão e que a minha única salvação é encontrar o amor verdadeiro.

Quando Astrid terminou de falar as lágrimas já rolavam pelo seu rosto, Ingvar se aproximou dela para abraçá-la, mas ela se afastou.

- Eu tinha o direito de saber – ela gritou, não sabia explicar, mas sentia uma raiva descontrolada.

- Que gritaria é essa? Já falei que estou com dor de cabeça – Bertha apareceu na sala, ela olhou para sua filha que não parava de chorar e para seu marido que parecia desnorteado, ela abriu a boca para perguntar o que tinha acontecido, mas Ingvar se adiantou.

- Ela sabe – ele pronunciou baixo.

- Ela sabe? O que ela sabe? – Bertha não entendia sobre o que ele estava falando, mas pelas expressões dos dois, sabia que era algo sério.

- Sobre as profecias – Astrid disse com a voz falha por causa do choro.

Bertha arregalou os olhos, não era para Astrid saber, pelo menos ainda não, ela respirou fundo e tentou manter a postura calma, mesmo querendo gritar por dentro.

- Como você soube?

- Isso não importa, o que importa é que eu não soube por vocês – dava para perceber a mágoa em sua voz.

- Eu não sei o que te falaram, mas provavelmente não é o que você está pensando.

- Eu vi, com os meus próprios olhos, eu li as duas profecias, tanto a minha quanto a do Soluço – Astrid havia parado de chorar, mas sua expressão continuava triste e magoada.

- Então você sabe por que mantivemos em segredo – Bertha se aproximou de Astrid tentando acalmá-la.

- Eu entendo esconder de Berk, mas eu e ele merecíamos saber, é sobre a nossa vida – Astrid gritou.

Dragões: O príncipe e a caçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora