Capítulo 64 - Coleção de cicatrizes

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Astrid fechou a grande bolsa com algumas de suas coisas e a colocou nos ombros, em seguida foi até o quarto de Zephyr e pegou a menina no colo.

Ela saiu de casa e olhou para o céu, ainda era madrugada, o sol nem havia nascido ainda, mas era melhor, assim poderia evitar curiosos.

Mesmo com o peso nos ombros e nos braços, ela andava apressada, não conseguia ficar nem mais um minuto em sua casa, tinha chegado em seu limite, não poderia ficar na mesma casa que o Magnus, não depois do que ele tinha feito na noite passada.

Ele já tinha batido nela antes, já tinha a forçado antes, mas na noite anterior ele havia feito algo que Astrid nunca iria admitir, ele tinha machucado a Zephyr. Não tinha sido muito grave, ele apenas tinha apertado o braço dela com força, o deixando roxo, mas ela sabia que começava assim, com "pequenos machucados" e se ela deixasse, iria piorar com o tempo.

Zephyr havia chorado grande parte da noite e ela também, principalmente porque ela nem pode consolar a filha que estava com dor. Não, ela teve que cumprir o seu papel de esposa e satisfazer seu "querido" marido.

Ao chegar em frente à casa dos tios, respirou fundo e abriu um leve sorriso, amava aquela casa.

Fazendo o mínimo barulho possível, Astrid entrou na casa e subiu as escadas, indo até seu quarto. Abriu a porta devagar, colocou suas coisas no chão e colocou a Zephyr na cama.

Astrid acariciou o rosto da menina, nem acreditava que sua filha já estava com quase três anos.

– Não se preocupe, meu amor, você não vai mais precisar voltar para aquela casa – Astrid deu um leve beijo na bochecha da filha e saiu do quarto.

Foi até a cozinha, pegou um papel e um pedaço de carvão e escreveu um bilhete para os tios, avisando que ela tinha saído, mas que Zephyr estava dormindo no quarto.

Deixou o bilhete na mesa da cozinha e saiu da casa. Entrou na floresta e foi direto para a clareira.

Se sentou no chão e encostou suas costas na grande rocha no centro do local. Ficou um tempo só fitando a água à sua frente, aquele lugar lhe gerava tanta paz.

– Me desculpa – falou após um tempo – eu disse que não precisaria mais se preocupar comigo, que eu conseguiria me cuidar sozinha, mas não estou me saindo muito bem.

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

– Se você estivesse aqui, você brigaria comigo por permanecer calada, por aceitar calada, mas eu sempre fui assim, eu sempre aguentei as provocações dos garotos, calada, era você quem me defendia. Eu sei que eu prometi não ser mais aquela menina, a que fica calada mesmo quando está com dor ou sofrendo e eu estou tentando, mas quando se trata do Magnus eu não consigo, eu volto ser aquela Astrid, sinto muito.

Ela começou a chorar, foi quando sentiu uma brisa suave em seu rosto.

– Já se passaram tantos anos e você ainda tem o dom de me fazer ficar calma – ela abriu um leve sorriso – eu sinto sua falta, se você tivesse aqui, tudo seria diferente, eu não sofreria tanto.

"Sofreria sim."

Num reflexo, Astrid olhou ao redor, mas logo percebeu que a voz que tinha escutado, só existia em sua cabeça.

"Você merece sofrer."

– Eu não estou com paciência para você hoje – ela comentou irritada.

"Você ainda vai sofrer mais."

"Não percebeu ainda, que você nasceu para sofrer e causar sofrimento?"

Dragões: O príncipe e a caçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora