Dragões: O príncipe e a caçadora

Capítulo 15 - Um acordo ousado

O medo tomou conta de Soluço, ele seria devorado por um dragão em uma ilha aonde teoricamente os dragões deveriam viver em paz com os humanos. Os deuses adoravam uma ironia.

Soluço sentiu os dentes do dragão em sua pele e esperou pela dor, mas ela não veio, a sensação que tinha era de que o dragão tinha apenas tocado sua pele com os dentes, mas não havia perfurado.

Devagar Soluço abriu os olhos, o dragão continuava com a boca aberta sobre ele, mas estava parado, não avançava, mas também não recuava, na verdade a sensação que Soluço tinha era de que o dragão estava meio perdido em relação ao que fazer.

Após um tempo o dragão se afastou de Soluço.

- Você não vai fugir? – o dragão o encarou curioso.

- Eu deveria? – Soluço sabia que deveria, mas seu cérebro parecia não estar funcionando corretamente.

- Qualquer humano normal fugiria.

- Acho que eu não sou normal e também minhas pernas não me obedecem – Soluço abriu um sorriso sem graça – e você, não vai me devorar?

- Eu deveria?

- Você falou que iria me devorar. Por que não fez? – Soluço estava confuso.

- Eu pensei que você ia sair correndo. E seria maldade atacar um filhote doente.

- Eu não sou um filhote doente – Soluço endireitou sua postura.

- É sim, talvez esteja tão doente que não saiba – o dragão começou a rodeá-lo – Vou poupar a sua vida, mas porque eu preciso mandar um recado para o Alfa.

- Que recado?

- Fala para o Alfa mandar o Pula Nuvem me trazer os peixes e que se você ou outro humano aparecer aqui de novo, eu o devorarei no mesmo instante – o dragão rosnou para Soluço e correu para dentro da caverna.

*

*

Astrid chegou em casa cansada, não imaginava que o treinamento fosse tão cansativo. Bebeu um copo de água e se sentou em uma cadeira em frente à mesa. Valka estava limpando alguns utensílios e Stoico estava sentado em sua enorme poltrona.

- Como foi o primeiro dia? Fez amigos? – Valka perguntou sorridente como sempre.

- Eu não estou lá para fazer amigos tia e sim para matar dragões – a menina respondeu friamente.

Valka deixou o pano que segurava em cima da mesa e se aproximou da sobrinha.

- Astrid, ontem eu não falei nada porque você me pegou de surpresa e parecia tão determinada, mas – Valka suspirou – tem certeza de que isso é uma boa ideia?

- Absoluta – Astrid respondeu rápido, não precisava pensar na reposta, sabia exatamente o que queria.

- Eu sei que você está com raiva, mas matar dragões não é a solução – Valka segurou as mãos de Astrid.

- A senhora disse que eu tenho que seguir em frente.

- Sim, eu disse, mas estava pensando em você fazer algo que goste, ou fazer amigos e não começar o treinamento na academia.

Astrid se desvencilhou do toque da tia e a encarou.

- A forma que a senhora encontrou de seguir em frente foi tentar agir normalmente e continuar a sua vida, a forma que o tio Stoico encontrou de seguir em frente, foi ficar o dia todo sentado olhando para o nada – Astrid apontou para o tio que parecia estar em outro universo – a minha forma de seguir em frente é essa, eu vou me vingar pela morte do Soluço até eu sentir que foi o suficiente e se para isso eu tiver que matar todos os dragões do arquipélago, eu farei isso.