Mamãe e Papai

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Eu nem terminei de corrigir a outra parte das provas, pedi desculpas pro senhor Dwahan, e ele me entendeu. Não por menos, eu menti pra ele dizendo que tive uma emergência de família.

Saí daquela sala, peguei o ônibus e cheguei até a porta da minha casa no modo automático. A minha mente já estava fervilhante. Eu pensava nas mais variadas situações que eu teria que enfrentar no dia seguinte.

Mas quando cheguei em casa, algo me pegou desprevenida, cheiro de comida.

Abri a porta e vi a minha mãe correndo de um lado pro outro na cozinha, com o gato seguindo os passos dela, antes de perceber minha presença:

- Ah, que bom que chegou mais cedo hoje! Eu ia até te ligar, mas eu esqueci.

Pra ela estar cozinhando, só podia significar uma coisa...

- Pois é, eu terminei o meu dever mais cedo... a gente vai visitar o papai hoje?

Ela escorou a travessa fumegante na bancada e me olhou com o seu olhar severo (que não era bem severo) ela tinha uma aparência muito fofa pra isso.

- Não me diga que esqueceu! Eu disse dia 10, até marquei.- Ela apontou pro calendário de papel, mas não tinha absolutamente nada alí.

- Não tem nada aí.- Eu disse.

Ela olhou pro calendário, pegou uma caneta, circulou o dia 10 e escreveu "pai" por cima:

- Vamos visitar o seu pai hoje.

Eu dei risada, só a minha mãe pra me fazer dar risada num dia bosta como esse.

Minha mãe. Willow Mallard. Era a pessoa mais meiga do mundo, eu não imaginava uma única pessoa que não gostasse dela.

Mas da mesma maneira que não nos parecemos fisicamente, também não parecemos nada na personalidade.

Talvez fosse o cabelo loiro, ou a compaixão pelos seres vivos, que fazia com que ela se parecesse mais com a Saylor. Mas isso não era importante.

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Já estávamos dirigindo à uns 20 minutos, com uma torta de carne no meu colo e mais uma enorme fatia de pão de ló no banco de trás do carro.

Sempre que fazíamos esse trajeto, eu gostava de imaginar que estávamos fazendo uma espécie de viagem em família convencional.

Por isso gostava de fazer ela de olhos fechados, enquanto a minha mãe cantarolava junto com a música do carro.

A minha fantasia costumava parar quando tínhamos que nos identificar pra entrar. E quando tínhamos que estacionar, e quando realmente entrávamos lá.

Não sei se algum de vocês já entraram num presídio, mas eles são o que há de pior. Só o trajeto da entrada até a sala de visitas, dá uma sensação claustrofóbica e de mal estar.

Seria bem dramático se a minha mãe não fosse a pessoa mais otimista do mundo:

- Oi pessoal, tudo bem? Como vão ?- Ela falava passando pelo detector de metais.

- Ah, olha só vocês duas! Vamos bem, vamos todos bem.- O velho guarda Lewis brincou na entrada, enquanto revistava a torta.- E isso aqui tá com uma cara excelente.

Depois de mais um pouco de revista, nós chegamos à sala de visitas.

Eu nunca precisei procurar pelo meu pai, onde quer que ele fosse, ele chamava a atenção.

Juan Cortez, era um criminoso enorme, agressivo, imprevisível...

- Flaca!

...era o que diziam, mas as pessoas não sabem o que dizem.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora