Columbia

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Quando mamãe saiu pra trabalhar, e eu me peguei olhando os meus livros pródigos, e eu percebi que, de fato, não os queria mais. Eles foram presentes pro Peter, não sentia que eram mais meus. A maioria eram livros que eu não tinha gostado, mas sabia que ele ia gostar, como "Duna".

Separei uma caixa pra eles, porque tive poderia levá-los pra um centro de troca, ou pro sebo. E essa ainda foi a parte fácil.

Pus o meu prendedor de cabelo recém recuperado e comecei a vasculhar os meus bilhetes que tinha mandado pra ele.

"Boa sorte no jogo hoje. Não me procure nas arquibancadas, não vou estar lá."

Eu sempre fui tão seca?

"Hoje no caminho da escola eu vi um Border Collie, e achei ele parecido com você."

Acho que eu não fui a mais sensual das amantes. O resto dos bilhetes eram bem parecidos com esses.

Eu tinha mais coisas do Peter do que ele tinha as minhas, por motivos óbvios. Ele também me dava livros, origamis bobos que eu devia jogar fora, mas nunca jogava, e também haviam os bilhetes, mas os dele normalmente eram só trechos de músicas.

Esses últimos eu deixava guardados juntos e já fazia um bom tempo que eu não mexia lá. Fui numa das minhas gavetas do armário, debaixo das roupas, debaixo do fundo...achei eles.

"Verdadeiro azul, Juniper
Ela é uma tempestade com uma curva viciosa
A diferença entre relâmpago, chuva e trovão."

Katy Kirby - "Juniper"

"Mesmo que não dure para sempre, são esses pequenos momentos que me fariam cruzar o mundo só por nós."

Isso era dele.

Eu tinha que me forçar a acreditar que ele só escrevia aquilo pra me impressionar e me manter por perto, e que nada daquilo vinha do coração dele. Eu não podia passar muito tempo pensando nos sentimentos dele, porque isso confundia os meus.

Depois do jantar, eu juntei todos os papéis e os livros, no dia seguinte eu podia me livrar deles, dormir parecia a melhor coisa a se fazer agora, ainda que fosse cedo.

Pareceu que eu tinha acabado de pregar os olhos, quando eu senti alguém me sacolejando. Me levantei com um susto, e meus olhos buscaram o taco de beisebol da Hello Kitty, mas era só a minha mãe.

- June! Desculpa te acordar, mas ouve só...

Que horas eram?

Ela estava de uniforme e cheirando a fritura, ela já voltou do trabalho então. Olhei pro relógio e vi que eram 3:35.

- São 3:35 da madrugada.- Eu pontuei.

- O filho do Shawn...não foi aceito pela Universidade Columbia!- Ela disse cheia de expectativas e me ignorando.

Eu ainda estava pensando algo do tipo: "tá, e daí?", "quem é Shawn?". Quando...

Arregalei meus olhos me sentindo um tanto mais acordada e com taquicárdica.

- Eu...eh...- Tentei falar alguma coisa.

- Aqui.- Mamãe pra sala e voltou muito rápida também, trazendo o notebook com a página da universidade aberta.- Coloca o seu login e senha.

Tentei algumas vezes antes de acertar porque tudo estava meio embaçado sem meus óculos e sem falar que meus olhos mal queriam permanecer abertos.

Atualizar...

"Prezada June.

Parabéns...

Eu soltei um gritinho agudo e eufórico.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora