Pessoas Ruins

Ficou

Eu me arrependi logo depois de ter aceitado ir com ele. Se eu tivesse ido com Reggie e Nacho, eles não seriam tão objetivos nas perguntas:

- O que aconteceu lá?

- Nem sei direito, ele tava bêbado, eu acho.

O carro estava gelado por conta do clima, mas o Finn conseguia ser ainda mais.

- Ele tentou alguma coisa com você?

- Não, não. Ele só... brigou comigo. A gente brigou.- Falei mexendo nas tiras dos sapatos que eu já havia tirado de novo e deixado no meu colo.- Certeza que ele estava bêbado, ele não disse por mal.

Era vergonhoso acreditar naquilo, mas eu precisava, pra não ter que absorver cada palavra que ele tinha me dito, porque era tudo muito maldoso, e eu não queria acreditar nem por um segundo que fosse verdade. De alguma maneira, eu tinha esse pressentimento que algo ia dar errado naquela noite, e deu.

- Para de chorar, June.- Ele pediu como se fosse simples como fechar uma torneira.

Enxuguei as lágrimas, eu mal sentia elas caindo. Olhando pro Finn, dava pra ver que ele estava aborrecido, e as veias da mão estavam bem aparentes enquanto ele apertava o volante.

- Você não precisava ter se oferecido pra me deixar se ia ficar desse jeito.- Falei me encolhendo no banco.

- Eu só fui lá por sua causa, se você ia embora, eu não tinha motivo pra ficar.

Isso teria sido mais legal de se ouvir, se ele não tivesse dito com tanta irritação.

- Desculpa, então.

- Não peça desculpa.- O tom dele ainda estava áspero.

- Bom, eu tendo a pedir desculpas, quando eu vejo que alguém tá claramente zangado comigo.- Rebati na mesma entonação.

- Não tô zangado.

- Então por que está agindo como se estivesse?

- Não sei, talvez porque mesmo que ele te faça chorar, você ainda faz questão de dizer que ele "não fez por mal".

Pingos de chuva começaram a cair no parabrisa. Era a primeira chuva do ano.

- Vai dizer que eu tô defendendo ele, não é?

- Vou! Porque é exatamente o que você tá fazendo, você sempre faz isso, sempre releva as merdas que ele faz, e depois fala dele como se ele fosse melhor do que eu.

- Eu nunca disse que ele era melhor do que você!

- Bom, é o que você dá a entender.- Ele percebeu que a chuva engrossou.- Droga!

Ele parou o carro perto da mesma praça que havíamos ido a algumas semanas.

- Liga o limpador. - Sugeri.

- O limpador não funciona.- Ele suspirou.

Esse carro...

Ficamos em silêncio no carro parado e a chuva foi ficando mais forte. Tava ficando muito frio.

- Por que você não pode só me escolher de uma vez?- Ele disse com o rosto virado pro outro lado.

A sensação que eu tive, era de que meu coração estava batendo dentro da minha cabeça:

- Eu...não sei do que você está falando...

- Sim, você sabe.- Ele se voltou pra mim.- Tô falando disso aqui, essa coisa que nós temos.

Coisa.

- É, eu sei! Mas...você também não é fácil!

- Ah, não sou?- Ele disse irônico.