Talvez

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A cada minuto de tempo livre que eu tinha, eu acessava o meu banco de memórias e assistia aquela cena de novo e de novo.

Ninguém nunca falou daquele jeito sobre mim, na verdade eu nunca tinha ouvido ninguém falar daquele jeito.

Olhando pra trás, a minha reação foi tão constrangedora. Eu lembro de estar muito feliz e sentir um acolhimento. Mas eu só estava sendo carente.

Fui eu quem pediu pra ele ficar, eu que fiquei falando minhas bobagens pessoais. Ele só foi gentil, e eu fiquei toda emotiva.

Aquilo era um sinal divino pra largar do osso, eu não ia conseguir extrair mais nada dessa relação, eu só estava passando vergonha.

Eu e ele íamos seguir caminhos diferentes daqui a alguns meses de qualquer maneira, eu ainda tinha uma chance de que ele se lembrasse de mim ainda com um resquício de dignidade.

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Continuei no esquema de pegar o ônibus pra ir pra escola. E a escola continuava a mesma, com a exceção de que qualquer lugar que você se recostasse, você podia ouvir mais de uma pessoa falando sobre o baile. Aquele anúncio que eu quase morri pra colocar já estava marcando 6 dias.

Por algum motivo, eu já não estava mais tão animada pra ir ao baile. Talvez porque todo mundo estivesse mais nervoso do que qualquer outra coisa

Muitas garotas esperam até a noite do baile pra ter a primeira relação sexual, e por algum motivo, elas acham que a cor do esmalte das unhas é algo que vai influenciar alguma coisa essa noite.

Particularmente, eu acho uma escolha estranha, porque parece que todo mundo planeja fazer sexo ao mesmo tempo, então não chega a ser especial, além de beirar o bizarro.

- É uma tradição.- Eloise tentou me explicar.

- Também é uma tradição mostrar o lençol sujo de sangue pros parentes?- Debochei.

- Não tô dizendo que é uma boa tradição.- Ela continuou.

- Hollywood fez a gente acreditar nisso sabia? Tudo de bom acontece nesses bailes, a garota esquisita põe o vestido, todos estamos impressionados, ela vira a rainha do baile, dança com o capitão do time de futebol e dedica sua vida e pureza a ele.- Gabbie falou como se o discurso estivesse pronto à meses.

- Eu tava imaginando algo do tipo A Morte Convida para Dançar.- Eu brinquei, mas nem tanto.

- Mas...vocês vão pro baile, não é?- Eloise quis confirmar.

- Ah...com certeza, não perderia por nada.- Gabbie disse.

- Eh...claro!- Respondi.

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Eu não queria mais ir. Mas eu tinha que ir. Reggie estava contando que fôssemos juntas.

Era quarta-feira, e mamãe já havia me sentando num banquinho de frente pro espelho do banheiro, jogando meu cabelo de um lado pro outro pra ver qual penteado iria ficar melhor.

- O que acha da trança passando pela cabeça como uma tiara?- Ela sugeriu.

- Uma tiara de trança?

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora