Chuva

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Comecei o dia numa linha Rocky Balboa pra findar que nem o Forrest Gump.

Já assistiram Forrest Gump?

O cara simplesmente é abandonado e decide correr, e essa corrida dura mais de três anos, é um filme de várias interpretações, porque todo mundo cria uma teoria sobre o porquê que ele corre.

É pra se livrar de alguma coisa? Se aproximar de alguma coisa?

"Hoje, eu corro porque eu quero". É isso que o Forrest acha.

Eu acho que eu corro pra fugir mesmo, e eu fujo porque no fundo, eu sou covarde.

Enquanto eu corria, comecei a considerar que caminhar fosse uma ideia melhor, então desacelerei.

O que eu estava fazendo afinal?

O que eu queria? Eu queria ir pra casa? Eu queria voltar pra escola? Não, eu com certeza não queria voltar pra escola.

Mas eu queria voltar pro Finn. Se ele pelo menos brigasse comigo, não seria pior do que me evitar.

Fui tão estúpida.

Esses últimos dias conseguiram ser os piores e melhores. Nunca fui tão feliz e tão triste. Esse turbilhão de sentimentos estava acabando comigo.

Acabei chegando àquela praça de antes, parecia um lugar calmo e sossegado pra terminar de ter a minha crise.

Sentei num banco, e joguei minha mochila de lado, o tempo todo a minha vontade era de arrancar os cabelos da cabeça, beliscar as minhas mãos até ficarem em carne viva e coçar o meu corpo todo mesmo que não estivesse coçando. Mas eu só conseguia lembrar do Nacho apavorado tentando fazer eu me sentir melhor, eu não ia conseguir parar por contra própria, então por enquanto, eu ia ter que fazer isso por ele.

Fiquei um tempo lá, tempo o suficiente até pra que o sinal da escola tocasse, ainda assim, eu estava decidida a ficar mais tempo, mas uma gota de chuva que caiu no meu rosto e me fez entender que eu deveria ir pra casa.

O meu impulso, acabou me custando caro, agora eu estava muito longe de casa, ao mesmo tempo que estava muito longe do ponto de ônibus. Peguei meu guarda chuva dentro da mochila, e dei início à segunda metade da minha jornada. Fiquei feliz por ter decidido não usar ainda a mochila que a Ana e o tio Ricardo me deram de aniversário, porque se não, a chuva estragaria.

Caminhar na chuva depois de algo terrível ter acontecido seria muito mais poético, se meus pés e costas não doessem tanto.

Na verdade, eu estava tentando não pensar. Não pensar em como agora todo mundo sabia sobre o meu pai, e agora também sobre o Peter e eu, também não queria pensar na cara da Saylor, a parte mais fácil da traição, era que eu não enxergava a Saylor como alguém digna de pena, mas hoje, tudo mudou.

O Finn com certeza, era quem mais ocupava a minha mente. A maneira como ele pareceu só... lavar as mãos comigo. Como se tivesse desistido de uma vez. Algo em mim sempre sentiu que uma hora ele ia se cansar aguentar os meus "poréns".

*Biii Biii*

Eu estava na calçada e pude ouvir que o carro buzinando estava passando jorrando água da estrada, e não parecia que ia parar.

Posicionei o guarda chuva pra me proteger, e funcionou, mas no segundo em que eu o ergui, pude ouvir:

- Vadia!- Uma voz de garota.

Fui acertada por algo pesado na cara, escorreguei no chão molhado e caí por cima do guarda chuva.

Do chão, eu pude ouvir risadas. Não reconheci o carro, mas no mínimo deviam ser as amigas da Saylor. Tinham de ser, era uma garrafa de Fiji cheia, e acertar alguém com uma garrafa de água de quase 3 dólares, parecia coisa de garotas ricas e babacas. Eu duvido que a própria Saylor estivesse lá, ela não parecia no clima de vingança, imaginei que talvez ela fosse tentar algo no dia de amanhã, mas hoje não.

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