Epílogo

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Certo dia, eu estava bem ocupada fazendo algumas pesquisas no meu quarto (pesquisas sobre Nova York), quando o meu telefone tocou, e como eu estava olhando o notebook, só aceitei sem ver quem era:

- Alô?

- Eu passei.

Tive que conferir a tela pra ver se era mesmo a voz Finn.

- Você o quê?!

- Eu passei.

Fui invadida por uma empolgação que não me permitiu ficar deitada na cama. Me pus de pé pra procurar os sapatos:

- Você tá em casa?- Perguntei.

- Estou.

- Eu tô indo pra aí.- Avisei.

- Não, deixa que eu vou...

- Eu indo pra aí.- Reafirmei atravessando o quarto e a sala numa fração de segundo.

Saí disparada na direção errada, até me tocar, e me voltar pra certa. A animação, as ideias e as informações estavam dançando no meu cérebro. A euforia era tamanha que eu tive a sensação de nem ao menos pisar no chão.

Principalmente quando eu vi ele aparecendo no horizonte correndo também.

De alguma maneira, eu consegui ir mais rápido do que já estava indo, e praticamente me joguei num abraço com ele.

Foi difícil parar uma crise de riso ao mesmo tempo que estávamos quase sem ar. Os meus batimentos cardíacos dispararam, ao mesmo tempo que uma sensação de alívio me invadia.

Sabe quando você passa por uma forte emoção, e então é teletransportado pra aquela comoção extasiada? Como se uma paz tomasse conta de você?

Ela vem acompanhada de uma sensação de que nada no mundo pode ferir a sua felicidade. Não é o sentimento mais seguro que existe, mas é raro demais pra não vivê-lo totalmente.

Acabamos indo pra aquela tal praça, porque não queríamos voltar pra casa dele, nem ir pra minha. Além do mais, estava ventando bastante, então não haviam muitas pessoas.

Nos sentamos debaixo de uma árvore com sombra, e eu me recolhi apoiando a cabeça no colo dele, enquanto ele passava a mão no meu cabelo. Era uma daquelas coisas pra se vivenciar de olhos fechados.

Eu estava tão tranquila que seria capaz de dormir, se não soubesse que isso ia me privar de estar consciente de cada segundo. Mas aí o corpo dele remexeu me tirando do transe, eu continuei de olhos fechados pra fingir que não aconteceu nada, mas senti ele apertando o meu rosto me fazendo acordar totalmente.

- O que foi?- Perguntei.

- Eu tava pensando em como eu tenho sorte.- Ele respondeu.

Sorri e toquei o rosto dele afastando os cabelos:

- Olha só quem está todo brega por minha causa.

Ele riu e eu me sentei, ainda me apoiando nele. Peguei o celular e abri o mapa da ilha de Manhattan:

- Olha, você...vai estar aqui, no Lower East side...- Apontei pra tela-...e eu...beeem aqui, no Morningside Heights. São dois metrôs de distância.

- É quase nada, se parar pra pensar.

Pela primeira vez, eu conseguia realmente me visualizar em Nova York. Eu... conseguia imaginar acordar lá e saber que ele estaria a dois metrôs de distância.

- Você pode ir me ver, e a gente pode ir no parque das cerejeiras e naquele restaurante que eles gravaram Seinfeld, e eu posso ir ver você, e a gente pode ir no museu Tenement e no mercado de Essex...

Ele segurou o meu rosto com as duas mãos me fazendo parar de falar e olhá-lo, em seguida, me beijou. Os arrepios ainda são inevitáveis, mesmo antes de nos beijarmos, durante e até depois.

- ...ou...a gente pode pensar nisso depois.- Continuei.

- Eu mal posso esperar.- Ele falou antes de voltar a me beijar.

Durante muito tempo, eu tive a corriqueira sensação de que algo acabaria desmoronando em cima de mim. E que eu estava fadada a viver com peso na consciência. Como uma pessoa ruim.

A verdade é que não existem pessoas ruins ou pessoas boas. Existem escolhas que fazemos ao longo da vida, essas sim, podem ser certas ou erradas.

Provavelmente, nunca vai haver uma constância.

Uma hora eu vou acabar errando de novo. Assim como ele também pode. E qualquer um também. Ainda temos tanto pra viver, acertar e errar.

Não posso prever como as coisas vão seguir daqui pra frente, mas eu posso ficar feliz, por agora, ter certeza de que estou tomando uma escolha certa.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora