Aquele short bob loiro-areia, óculos de gatinho, a blusa manga larga, a calça boca de sino, os colares de contas...era ela...
Se eu era uma pessoa ruim, a minha avó materna...era a terrorista da felicidade.
Soltei o gato e ele subiu as escadas correndo, quem poderia culpá-lo?
Eu contei pelo menos umas sete decorações naquela sala, que não estavam lá quando eu saí. Sem contar o fedor que lembrava a aula de pintura de hoje mais cedo.
- Pediu folga do trabalho?- Eu questionei a minha mãe, já que normalmente, ela não estaria em casa a essa hora.
- Ela ligou pra lá, e disse que eu tive uma emergência familiar.- A minha mãe falou com a empolgação exagerada de quem está a beira de um ataque de nervos.
A velha sorriu de cara limpa, e bateu as palmas, isso geralmente vinha acompanhado de algo arrogante:
- Eu te perdoo por ter chegando atrasada querida, mas só porque você não sabia que eu vinha.
- Deve ter sido por isso mesmo não é?- Eu disse antes de levar uma cotovelada da minha mãe.
Eu não via muito sentido em sermos legais com a vovó Hazel, mas isso era importante pra minha mãe.
- Mas...- Ela se aproximou balançando as pulseiras-...eu tenho certeza de que você foi capaz de sentir a minha energia.- Ela disse agarrando os meus pulsos.- Tenho sentido ela forte como nunca ultimamente.
- Com certeza.- Eu respondi lembrando dos maus agouros de hoje.
- A sua...por outro lado...- Ela disse me soltando como se tivesse encostado em lodo-...mas não fique grilada com isso querida, a da sua mãe também está péssima, o que é de se esperar, num ambiente desses não é? As paredes tão...
Começou...
- Mãe, porque você não mostra os presentes que a senhora trouxe pra Juniper?- A minha mãe mudou o assunto.
É válido salientar que "June" é o meu apelido, que eu adotei na intenção de que todos achassem que é o meu nome de verdade.
Hazel Mallard, no auge do narcisismo, teve uma epifania onde ela acreditou que o nome dela era uma dádiva que carregava por ser uma (palavras dela) "majestosa árvore humana". Desde essa conclusão, as garotas Mallard foram todas nomeadas com nomes de árvores. Minha mãe Willow, minha tia Holly, minhas primas Rowan e Aspen, e eu, Juniper.
A minha vó não sabe que ninguém me chama de Juniper, e nem que a minha mãe só me chama assim quando ela está por perto.
Eu fui até a mesa, pra minha avó me mostrar os presentes, enquanto a minha mãe sussurrava no meu ouvido algo como "desculpa".
- Olha só Juniper, o primeiro...- Ela fez drama pra tirar da bolsa um saco zip lock com algo parecido com gengibre.
- Uau.- Eu disse.
- É ginseng.- Ela respondeu sem eu perguntar.- Melhora a circulação sanguínea, reduz o estresse e é um afrodisíaco natural poderoso, você pode perguntar pra sua namorada oriental, ela deve conhecer.
- Uau.- Dessa vez foi a minha mãe.
Eu ainda tava escolhendo qual parte daquela frase tinha sido mais inapropriada.
- O quê? Eu não posso dizer que a garota é oriental? Ela é.- Ela se ofendeu de cara depois de ofender todo o lado do sol nascente.
- Reggie é chinesa.- Eu estava com muita preguiça de desmentir a parte do namoro.

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Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...