- Eu odeio você.- Eu falei observando ele arrumar o material, satisfeito como nunca.
Acabou que ele me venceu e estávamos no sofá da casa dele. Os pais ainda não haviam chegado e a Missy estava ensaiando no quarto. Dava pra ouvir a música da sala.
- É o que você acha.- Ele respondeu absorvendo a minha antipatia e se divertindo com isso.
Esse cara...não dá pra acreditar que ele trás as garotas pra casa pra transar e depois desenha elas. Que tipo de tara é essa? Sem falar que ele tem praticamente uma coleção de retratos.
- Eu vou precisar ficar parada o tempo todo?- Perguntei.
- Eu prefiro...mas se quiser conversar...- Ele disse posicionando o próprio corpo pra conseguir apoio pro bloco de folhas-...espera eu terminar isso aqui.- Daí colocou o lápis na frente do meu rosto e fechou um dos olhos.
- Tá me medindo, é?
- Uhum.- Ele concordou sério.
- Que profissional...
- Fica quieta.- Ele murmurou me repreendendo.
Eu me segurei pra não rir e não fazer nenhuma expressão facial. Aquilo era tão meticuloso. Ele mediu o rosto, a linha do maxilar, a boca, o nariz...e batucou a ponta do lápis bateu no meu óculos, me pedindo pra tirar.
O meu óculos era de aro fino, eu não ficava muito diferente sem eles.
Eu tirei e ele segurou uma risada.
- Que foi?- Eu perguntei já me arrependendo.
- Nada, é que seus olhos ficam bem maiores sem eles.- Ele comentou.
- Eu sei, é por causa do grau, e só pra você saber, essa não é uma boa hora pra ficar zombando de mim.
Eu sabia que meus olhos eram grandes, meu pai dizia que eu e a minha mãe tínhamos olhos de coruja. Um dos motivos pra eu preferir os óculos às lentes de contato, é que eles ajudavam a disfarçar.
- Não tô zombando, só comentando.- Ele se defendeu.
- Então não comente.- Eu murmurei mas ele foi capaz de me ouvir.
Ele começou a desenhar e som do lápis arrastando no papel era até que bem gostoso de se ouvir. Naquele instante, eu percebi que o Finn Hart era canhoto.
A Abuelita (mãe do meu pai), já me contou algumas superstições sobre canhotos. Sobre como eles não são pessoas confiáveis. Eu não acreditava nisso, mas era engraçado como até a mão que ele escrevia combinava com ele.
- Você sabe que pode relaxar, não é?- Ele falou sem tirar os olhos do desenho.
Eu não havia percebido que ainda estava tensa. Decidi puxar assunto:
- A quanto tempo você desenha?- Perguntei.
Ele pausou um pouco pra pensar e responder:
- Não tenho certeza, não lembro direito, mas eu lembro de gostar de caricaturas quando tinha sete anos, acho que o meu traço foi mudando aos poucos sem eu perceber.
Eu não achei que ele fosse dar detalhes, mas parecia interessante.
- Deve ser legal, ser tão bom em alguma coisa.- Eu pensei alto.
- Eu não acho que seja tão bom nisso. Além do mais, você não é tipo... boa em tudo? Exceto em dirigir, você é péssima dirigindo.
Eu ri. Por que eu ri? Ele me elogiou e me ofendeu logo em seguida.
Não acho que seja realmente boa em nada, eu era competitiva, e isso é completamente diferente. Eu nunca fui apaixonada por nenhuma das minhas atividades extracurriculares, sempre foi mais sobre competir e ganhar.

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Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...