Flashbacks

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Eu devia ter uns 13 pra 14 anos. Estava na casa de um garoto que eu não lembrava o nome, era uma festa de aniversário, e todos estávamos no porão.

Não queria ter ido.

Os outros estavam girando uma garrafa no chão e brincando de verdade ou desafio. Outros tinham se esgueirado pra detrás dos sofás pra se beijarem. Eu estava entediada, fora da brincadeira e longe dos sofás.

Se eu tenho uma aparência sem graça hoje, naquela idade eu não era nada menos do que desgrenhada. Lembrem-se, hormônios. O meu cabelo era bem mais ressecado e sem vida, os meus óculos mais grossos, sem falar que eu havia passado pelo meu primeiro surto de crescimento antes de todos os outros do meu ano, mas ainda era plana como uma parede. Naquela época, eu também achava que usar roupas simples poderia evitar que eu chamasse mais atenção pra piadinhas.

Tyler Silverman girou a garrafa e se recusou a responder a pergunta do Gus Roth, sobre com qual das garotas daquela sala ele sairia se pudesse. Como consequência, o Roth disse:

"Tá, não responde, mas como consequência, vai beijar a garota mais feia da sala."

Os olhares passaram daquela roda, pra minha direção, era muita humilhação pra alguém que nem ao menos queria estar lá. Eu simplesmente me levantei e saí de lá. Eu não chorei, eu não chorava naquela época, não desde que o meu pai tinha ido embora.

Enquanto eu subia as escadas do porão, podia ouvir alguém me chamando, mas eu não queria dar ouvidos, mal sabia eu, que aquela voz me marcaria tanto.

- June! Espera aí!

Já no gramado da casa, eu me virei, porque queria que ele calasse a boca. Afinal, nada que Peter Duncan, o garoto perfeito, dissesse poderia me fazer acreditar que ele realmente se importava comigo.

O tempo todo que estudamos juntos, ele sempre me tratava daquele jeito, eu pensava que era só por causa que a minha mãe trabalhava pra mãe dele, e ele sentia pena de mim.

- O quê?!

Ele pareceu assustado, era muito fofo quando mais novo, não era tão alto na época, mas era tão bonito quanto é hoje, como um mocinho protagonista da Disney.

- E-eles são uns idiotas.- Ele disse, a voz dele ainda falhava.

- Eu sei que são, você não precisa me dizer.- O meu humor também não era dos melhores.- Mas eles são seus amigos não são? Pode voltar.

- Só tô dizendo, que você não é nenhuma penalidade June...eu não acharia.- Ele se aproximou de mim.

Naquela hora, eu não podia estar mais confusa, olhava de canto procurando qualquer garoto que pudesse estar me filmando escondido, mas não tinha ninguém, só havíamos eu e ele. Fiquei em choque, parada, firmada no chão, eu não queria ter nenhuma conclusão precipitada.

Peter Duncan puxou meus ombros pra baixo e me beijou debaixo da árvore do jardim do garoto que eu não lembrava o nome. Eu fugi logo em seguida, porque não acreditava que nada daquilo pudesse ser real, e podia muito bem não ter sido, porque nada mudou na escola.

Atenção. Na escola.

Porque sempre que surgia a ocasião de ficarmos sozinhos em qualquer outro lugar, sempre acabava acontecendo alguma coisa do tipo. O que acontecia com certa frequência por causa do trabalho da minha mãe.

Aquilo foi o início de uma mudança na minha vida. Foi gradual, mas fez de mim uma pessoa completamente diferente.

Não me orgulho por ter sido movida pela aprovação de um garoto, mas seria mentira se eu dissesse que não foi por causa dele.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora