Vermelho

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E quando eu digo vermelho, eu não digo só as maçãs do rosto, mas o rosto inteiro, além das orelhas, um pouco do pescoço e até antebraços. Quanto mais eu olhava, mais aparecia.

A cicatriz na testa se destacava ainda mais, como uma linha branca bem aparente na testa. Ela não parecia assustadora agora.

Eu abri a boca pra dizer alguma coisa, mas não conseguia pensar em nada, a mãe dele falou primeiro:

- Ah meu Deus, olhe pra você, parece até que vai explodir, onde você estava?- A mãe dele perguntou enquanto tocava o rosto dele. O que pareceu só piorar a situação.

- E-eu corri por quatro quarteirões.

- Então porque correu? Podia ter só andado, sabe que piora quando você corre.- O pai dele comentou.- Ahh...- Ele fez quando olhos de lado pra mim e fingiu que não olhou.

O ambiente ficou num silêncio desconfortável, até que a mãe tomou a palavra:

- Você vai tomar um banho frio.- Ela empurrou o filho pra longe.- Você, pode começar com o jantar.- Ela mandou o marido.- E você...eu insisto que fique.- Ela olhou pra mim.

A mãe do Hart, Barbara, era uma pessoa difícil de dizer não. A minha mãe também era difícil de dizer não, porque ela era linda, meiga e prestativa com todo mundo. Mas a Barbara tinha uma aurea de quem sabia o que estava fazendo, e isso fazia você achar que se não concordasse com ela, era um completo idiota.

- June Mallard...- Ela destilou o meu nome-...é filha da Willow Mallard?

Eu fiz que sim com a cabeça, e era a única coisa que eu fazia desde que entrei naquela casa além de passar vergonha.

- Vendemos um sofá pra vocês uma vez.- Ela disse algo que eu já sabia.

- É...eu sei, é um sofá muito bom.

EU NÃO TINHA ASSUNTO ALGUM.

- Você estuda com o Finn então? São...amigos?- Ela perguntou sem nem piscar, parecia ansiosa por uma resposta.

EU NUNCA QUIS TANTO ESTAR EM CASA ASSISTINDO MIAMI VICE.

- Ele tem trago ela aqui nas últimas semanas.- Missy disse fazendo pouco caso enquanto olhava o celular.

E PENSAR QUE EU ESTAVA COMEÇANDO A GOSTAR DE VOCÊ!

- Semanas?- Ela ficou aturdida.- Paul, você sabia disso?- Perguntou ao marido.

- O garoto vai contar pra gente o que ele quiser contar, é assim que a gente ganha confiança.- O pai, respondeu.

Eu comecei a deduzir que os quadros motivacionais e o resto da decoração eram ideia dele.

- Se ele ainda não tá pronto pra falar do relacionamento dele...-Ele continuou.

- Ahn? Não!- Tentei parecer descontraída, mas saiu meio desesperado.- Não tem relacionamento, quer dizer, eu ensino ele...sabem?

A julgar pelas caras que as pessoas na sala fizeram, aquela não foi a melhor escolha de palavras.

- Tipo matemática, história...- Tentei concertar-...matérias.

Matérias??Eu disse isso mesmo??

- É verdade. - Hart apareceu na cozinha, com o cabelo ainda molhado, me lembrando um ouriço. Não estava mais vermelho e o humor estava como sempre.- Eu pedi pra ela.

Pessoas RuinsOnde histórias criam vida. Descubra agora