Bom, a história de resiliência não funcionou nem um pouco.
Primeiramente, no início do dia eu estava me sentindo o próprio Rocky Balboa, me preparando psicologicamente pra enfrentar qualquer comentário que fizessem pra mim.
Mas quando cheguei na escola, me esqueci que as pessoas são cobras silenciosas. Elas falam pelas costas, mas alto o o suficiente pra você ouvir.
Enquanto eu andava pelos corredores, onde quer que eu passasse, eu conseguia escutar alguém reproduzindo o vídeo do hospital:
"O meu pai também tem família..."
Várias e várias vezes. Isso com certeza era bem pior do que o vídeo "Pocketful of sunshine". As pessoas cochichavam entre si, mas era como se estivessem usando um megafone:
" Eu pensei que ela era amarga assim porque o pai havia abandonado ela."
"Por que será que o pai dela foi preso? Eu que não vou perguntar."
" E pensar que ela vem pra escola cheia de si, sendo que a vida dela é desse jeito."
" Vocês lembram dela agarrada com o Finn Hart no baile? Vai ver ela também curte esse tipo de coisa, igual a mãe."
Era a última semana de aula. Que só servia pra preencher chamada e era a última chance de entregar os trabalhos atrasados. Os professores não ligavam muito, e os alunos não ligavam nada, ou seja, eles tinham muito tempo livre pra falar merda. Eu não conseguia ter um segundo de paz.
Evitei as meninas o dia inteiro. Fiquei um tempo trancada numa cabine do banheiro, o que foi um erro, porque algumas garotas ficaram lá à toa fofocando sobre o assunto.
Pensei em me esconder na sala do Robbie, mas eu também não queria um conselho, não havia conselho pra aquilo. Eu só queria ficar sozinha.
Também pensei em pegar a chaves da sala de biologia com o Dwahan, mas seria muito constrangedor dizer pra ele que eu só precisava me esconder. Foi aí que eu me lembrei de que havia uma sala que ficava aberta.
A sala de artes não tinha um cheiro tão característico agora que estava parcialmente vazia. Sentei no birô pra tentar aproveitar o silêncio, mas os meus pensamentos negativos não estava ajudando nem um pouco.
Fiquei alguns minutos alí, até ouvir alguém bater na porta, porque pelo jeito, o meu esconderijo não foi tão bem escolhido:
- June, você tá aí?
Só podia ser... mas eu fiquei feliz na verdade.
- Entra.- Falei.
O Finn abriu só uma frestinha da porta e passou espremido.
- Como me achou?- Perguntei.
- Intuição.-Ele respondeu.- E também perguntei ao baixinho de óculos, aquele garoto é um falcão, ele vê de tudo nessa escola.
- O nome dele é Archie Lennox, sabia disso?
- Nunca adivinharia, ele te a maior cara de Stuart.- Ele brincou.
Tinha mesmo.
- Como você tá?- Ele mudou pra um tom mais sério.
- Mal.
- E o seu pai?
- Por incrível que pareça...melhor do eu.
O Finn riu, demonstrando alívio e foi chegando mais perto:
- Suas amigas estão te procurando feito loucas.
- Ah não, não fala pra elas que eu tô aqui.
- Se você não quiser, eu não falo, mas eu acho que devia falar com elas.

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Pessoas Ruins
Roman pour Adolescents"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...