A aula era às 8:00 e às 7:30, o Hart buzinou na frente da minha casa, eu estava pronta à muito tempo, porque eu sofro por antecipação.
Na minha cabeça, ele ia me deixar na mão e eu deveria estar pronta pra sair da maneira mais estratégica possível. Fiquei tão ansiosa que perdi alguns fios de cabelo durante o processo de espera. O que foi absolutamente desnecessário, porque ele apareceu, e bem na hora:
- Qual é a dessa cara? Eu não me atrasei.- Ele reclamou abrindo a porta por dentro.
- Foi você quem disse que ia chegar a hora que quisesse, eu não sabia que hora era essa.- Eu respondi.- Eu não tenho o seu número, hein?
Ele passou a mão no bolso e me entregou o celular. Eu disquei o meu número nele pra gravar o contato nos dois celulares.
- Olha, isso me lembra que eu tenho que te lembrar que quando te pedi pra me ajudar, em momento nenhum eu disse que quero entrar numa espécie de cronograma que você siga pra entrar pra ONU, ou sei lá.
Esse é o problema das pessoas, acham que "o necessário" existe. Faculdade nenhuma, aliás, lugar nenhum quer alguém que só faça "o necessário".
- Que faculdade você quer?- Perguntei pra ter uma noção.
Ele não respondeu.
Tá bom, talvez ele estivesse um pouco atrás.
- Que curso você quer então?
Sem resposta.
- Porra, Hart.- Murmurei.
- Não faz diferença, o lugar ou o curso, de qualquer maneira, você disse que ia me ajudar.- Ele me lembrou.
- Como assim, não faz diferença, o que você quer de mim, afinal? Se faz tanta questão, porque não se candidata pra uma faculdade comunitária?
Ele tamborilou os dedos no volante, como se a resposta fosse muito complicada:
- Não é pra conseguir. É mais pra tentar. E deixar bem em evidência que eu tô tentando.
Acabou sendo, mesmo, bem complicada.
- Ahn?
- Você não ia entender.
Não mesmo.
Ficamos meio silenciosos. Se bem que aquele carro era barulhento pra caramba, então meio que nunca ficávamos de fato, no silêncio.
Por mais que o Hart tivesse dito que não ia contar sobre o Peter e eu, ele só fez isso por consideração, e se ele perdesse essa consideração...
- Sabe...se não importa muito qual a faculdade, a gente pode dar um jeito, e muita gente troca o curso no meio, então, também não é uma prioridade, a primeira coisa a se fazer é melhorar as notas.
- E você presume que as minhas notas são ruins?- Ele perguntou.
Eu me senti realmente culpada por ter presumido isso.
- Não são?- Perguntei.
- São uma merda.- Ele respondeu.
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Ele não estacionou tão longe dessa vez.
A minha primeira aula do dia, era literatura com o senhor Warner. Nós havíamos desenrolado uma discussão sobre a peça do Pigmaleão.
- Não existe premissa mais batida do que essa, sei que é um clássico, mas é mesmo tão revolucionário?- Argumentei.
Ouvi algumas pessoas bufando atrás de mim, porque aparentemente ninguém pode contestar algo que foi escrito a mais de 100 anos atrás.
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Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...